sexta-feira, 31 de março de 2017

EXCLUSIVO: Mulher de Cunha pode ser presa a qualquer momento

LAVA JATO

Sem os privilégios de outrora, como gastos de luxo no exterior, contas na Suíça e o foro privilegiado, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cassado pela esmagadora maioria de seus pares, concentra agora suas preocupações em Curitiba. Os principais inquéritos contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF) devem se juntar às investigações sobre sua mulher, Cláudia Cruz, e sua filha mais velha, Danielle Dytz da Cunha Doctorovich, que já correm sob a tutela do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.

Informações obtidas com exclusividade por ISTOÉ sobre as investigações contra a família Cunha mostram que ele tem motivos de sobra para perder o sono. Conforme apurou ISTOÉ, os procuradores já estudam tomar novas medidas contra Cláudia Cruz. Em 26 de agosto, dias depois que a defesa de Cláudia solicitou acesso à investigação criminal contra ela, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba deu um despacho afirmando que estão em andamento diligências investigativas sigilosas “que podem resultar na postulação de medidas cautelares”. O ofício apavorou Cunha. A preocupação se justifica. Cláudia, até então, havia sido alvo de diversas medidas cautelares, como busca e apreensão, quebras de sigilo e até bloqueio de bens. Em tese, restam poucas opções de medidas cautelares. Dentre elas a mais grave de todas, a prisão. Daí o desespero do ex-presidente da Câmara. Outro temor diz respeito à filha Danielle. Não por acaso, nos últimos dias, sua defesa protocolou um pedido à força-tarefa da Lava Jato para que Cunha, em depoimento, possa “prestar esclarecimentos acerca do modo como a vida financeira da filha foi por ele administrada nos últimos anos”. Com isso, os advogados buscam o arquivamento da investigação contra ela, sob argumento de que tudo seria de responsabilidade do pai, apesar de ela ter um cartão de crédito vinculado a uma das contas na Suíça.

A MORTE POLÍTICA
O peemedebista tem enfrentado uma quadra amarga. Na Câmara, prevaleceu a máxima de que na política só se é solidário na vitória. Em menos de dois anos, Eduardo Cunha despencou do cargo de maior prestígio da Casa, para o qual fora eleito com irrefutável maioria, para ser cassado na segunda-feira 12 com o voto de 450 deputados contra dez derradeiros aliados. Ao longo da noite que culminou com a derrota do peemedebista, seu fiel escudeiro Carlos Marun (PMDB-MS) repetia incansavelmente aos colegas: “Esta cassação significará a morte política do Eduardo.” Nem o tom sentenciador de Marun, nem as lágrimas de Cunha conseguiram reverter votos suficientes.
Apenas dez votaram contra a cassação: além do próprio Marun, André Abdon (PP-AL), Carlos Andrade (PHS-RR), Dâmina Pereira (PSL-MG), João Carlos Bacelar (PR-BA), Jozi Araújo (PTN-AP), Júlia Marinho (PSC-PA), Marco Feliciano (PSC-SP), Paulinho da Força (SDD-SP) e Wellington Roberto (PR-PB). Outros nove se abstiveram e 42 faltaram à sessão, dentre eles o relator do impeachment, Jovair Arantes (PTB-GO), o líder do governo na Casa, André Moura (PSC-SE), Hugo Motta (PMDB-PB), ex-presidente da CPI da Petrobras, e Fernando Francischini (SDD-PR), delegado da PF e integrante de destaque da tropa de choque do peemedebista. Como justificativa, ele afirmou que seu filho estava com problemas de saúde.
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Livre do deputado, a Casa respirava uma mistura de alívio com ressaca no dia seguinte. A sequência de pautas-bomba e a agenda conservadora liderada por Cunha para angariar apoio entre a bancada evangélica e a bancada da bala, que incluiu, por exemplo, o Estatuto da Família e a redução da maioridade penal, deve agora ficar em segundo plano. Na avaliação de deputados da base e oposicionistas, essa agenda dará lugar às reformas trabalhista e previdenciária, bem como projetos voltados para o ajuste fiscal, como a PEC que limita os gastos públicos e o projeto de lei que acaba com a obrigatoriedade da Petrobras participar da partilha do pré-sal.
CLÁUDIA CRUZ JÁ TEVE AS CONTAS BLOQUEADAS E O
PASSAPORTE APREENDIDO, O QUE A IMPEDE DE DEIXAR O PAÍS
No Palácio do Planalto, a preocupação do presidente Michel Temer agora é sobre como manter o controle do círculo de influência de Cunha na Câmara, notadamente o chamado Centrão, uma vez que o afastamento do deputado é definitivo e que as tensões com o PSDB e o DEM têm se acirrado. Nos últimos dias, congressistas fizeram chegar ao presidente o recado de que esperam uma liberação rápida de emendas, além da nomeação de mais cargos em troca de apoio, antes mesmo das eleições. Além disso, a própria base já sinalizou que dificilmente será aprovado o prazo de 20 anos para congelamento dos gastos previsto na PEC 241 e negocia uma emenda que reduziria o tempo para 7 anos. O desafio será encontrar o equilíbrio entre as demandas urgentes do empresariado e da sociedade e as reivindicações paroquiais dos deputados.

(JornaldoPaís)

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