sábado, 22 de julho de 2017

PF diz ao STF que Sarney, Jucá e Renan não obstruíram a Lava Jato. Delegada afirma que não há como provar que ex-presidente e senadores cometeram crimes e que delator que os gravou 'não merece' benefícios de acordo

BRASIL, POLÍTICA
 
 Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá (Evaristo Sá/AFP, Marcos Oliveira/Diretoria Geral e Geraldo Magela/Agência Senado)


A Polícia Federal concluiu que o ex-presidente José Sarney e os senadores Romero Jucá (RR) e Renan Calheiros (AL), caciques do PMDB, não tentaram obstruir as investigações da Operação Lava Jato. Em relatório ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os áudios entregues pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que gravou conversas com Sarney, Jucá e Renan, a PF sustenta que não há como comprovar o cometimento de crimes por parte do ex-presidente e dos senadores.

Nas reuniões com Machado – que fez delação premiada e ficou livre da prisão -, o tema predominante era o avanço da Lava Jato. Segundo a PF, “intenção” não é obstrução de Justiça. No relatório ao Supremo, a delegada Graziela Machado da Costa e Silva afirma que, em relação às gravações que comprovariam obstrução de Justiça, a delação premiada do ex-presidente da Transpetro é “ineficaz” e que ele “não merece” os benefícios do acordo fechado com a Procuradoria-Geral da República (PGR).

“No que concerne ao objeto deste inquérito, a colaboração que embasou o presente pedido de instauração mostrou-se ineficaz, não apenas quanto à demonstração da existência dos crimes ventilados, bem como quanto aos próprios meios de prova ofertados, resumidos estes a diálogos gravados nos quais é presente o caráter instigador do colaborador quanto às falas que ora se incriminam, razão pela qual entende-se, desde a perspectiva da investigação criminal promovida pela Polícia Federal, não ser o colaborador merecedor, in casu, de benefícios processuais”, diz a delegada.

Com base na conclusão do inquérito da Polícia Federal, caberá ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidir se apresenta denúncia contra os peemedebistas ou arquiva a investigação.

‘Estancar a sangria’

Foi em uma das conversas gravadas por Sérgio Machado que Romero Jucá deu a famosa declaração de que seria preciso aprovar o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) para “estancar a sangria” da classe política na Lava Jato e “delimitar” a operação “onde está”.  “Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra…. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria”, disse o peemedebista.

A conversa entre Jucá e Machado ocorreu semanas antes da votação do processo de impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados. Confrontado com os trechos, Romero Jucá explicou que estava se referindo a “estancar a paralisia do Brasil, a sangria da economia e do desemprego”. As gravações levaram o senador a deixar o Ministério do Planejamento do governo de Michel Temer apenas doze dias após a posse.

Já José Sarney disse a Machado que poderia ajudá-lo a evitar que as investigações contra ele na Lava Jato fossem remetidas à 13ª Vara Federal de Curitiba, onde despacha o juiz federal Sergio Moro. “O tempo é a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é muito procedente. Não deixar você voltar para lá [Curitiba]”, afirmou Sarney ao ex-presidente da Transpetro.

No diálogo com Machado, o peemedebista também se referiu ao potencial de destruição da delação da Odebrecht como “uma metralhadora ponto 100“.

Em conversa gravada com Renan Calheiros, seu padrinho político, Machado relatou que Rodrigo Janot “tem certeza que eu sou o caixa de vocês”, “acha que no Moro, o Moro vai me prender, e aí quebra a resistência” e “se me jogar lá embaixo, eu tou f…”. Lacônico, Renan respondeu que “isso não pode acontecer”.

O peemedebista alagoano, à época presidente do Senado, também aparece nas gravações de Sérgio Machado conversando sobre a legislação que regula delações premiadas. “O importante agora, se nós pudermos votar, que só pode fazer delação, é só solto”, sugere Machado, com quem Renan concordou: “Que só pode solto, que não pode preso. Isso é uma maneira sutil, que toda sociedade compreende que isso é uma tortura”.

(com Estadão Conteúdo)

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