Carlos Miranda em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal da Justiça Federal - Reprodução / TV Globo
Rio - O economista Carlos Miranda, apontado como
operador financeiro do ex-governador Sérgio Cabral, disse, nesta
terça-feira, durante depoimento na presença do juiz Marcelo Bretas, na
7ª Vara de Justiça Federal, como era feita a distribuição de propinas
referentes a obras do Departamento Estadual de Estradas de Rodagem do
Rio de Janeiro (DER-RJ).
Conforme o Ministério Público Federal (MPF), coube a
Cabral R$ 17,5 milhões, além de US$ 175 mil. O delator afirmou que,
conforme foi informado, na partilha dos recursos 50% eram destinados ao
ex-governador e a outra metade a Henrique Alberto Santos Ribeiro,
ex-presidente do DER-RJ no governo Cabral.
O depoimento foi no âmbito da Operação C'est Fini,
deflagrada em novembro do ano passado, um desdobramento das Operações
Calicute e Eficiência para apurar crimes de corrupção e lavagem de
dinheiro em contratos com o estado do Rio.
Repasses começaram no final de 2007
De acordo com Miranda, o ex-governador e o
ex-secretário de governo, Wilson Carlos, o informaram que havia um
acordo para recolher propina do órgão, que chegaria a Cabral por
intermédio de Lineu Castilho Martins, apontado como operador do
ex-presidente do DER-RJ. Os repasses começaram a ser entregues ao
economista do meio para o final de 2007. No esquema, Lineu era chamado
pelos codinomes de Boris e Russo.
Miranda disse que os valores eram entregues em mochilas
em seu escritório da Rua Ataulfo de Paiva, no Leblon, e depois passou a
receber no seu escritório do Jardim Botânico, os dois na zona sul do
Rio. Entre 2011 e 2014, segundo o economista, a responsabilidade pelo
recolhimento da propina foi transferida para Luiz Carlos Bezerra.
“Ele passou a receber o Lineu em diversos lugares. No
centro da cidade, no Terminal Menezes Cortes, no Largo do Machado, e
tinha me contado que tinha marcado com Lineu algumas vezes no
estacionamento das Lojas Americanas ”, disse.
Miranda acrescentou que o recebimento da propina não
tinha data fixa, mas ocorria regularmente durante o governo Cabral,
dependendo das datas em que o estado fazia os pagamentos às empresas
envolvidas no esquema de favorecimento para conseguir obras. “Dependia
dos pagamentos do estado, mas, normalmente, eram dentro de 40 a 45
dias”, disse, completando que os valores eram “em torno de R$ 100 mil a
R$ 150 mil”.
Escolha de codinomes
O procurador da República, Almir Sanches, indagou qual
era o codinome usado por Miranda no esquema e ele afirmou que era
Jarbas. “Foi Wilson [Carlos] que passou esses codinomes e a gente usava
isso para não dar o nome original um para o outro. Tanto é que quando o
Lineu foi preso no ano passado e teve no presídio é que fiquei sabendo
que era Lineu”, disse Miranda.
Os advogados de defesa de Lineu e Henrique perguntaram
se Miranda tem documentos sobre os encontros e se tinha contatos com
outras pessoas do governo Cabral. Ele respondeu que tinha em seu
telefone os números do ex-secretário da Casa Civil, Régis Fichtner; de
Cabral e do ex-secretário de Saúde, Sérgio Côrtes.
Estavam previstos, ainda, na audiência de hoje, os
depoimentos do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE),
Jonas Lopes de Carvalho Júnior, e do seu filho, o ex-consultor do
tribunal, Jonas Lopes de Carvalho Neto, que também são investigados na
Operação C'est Fini e fecharam acordo de delação premiada. Seria ouvido
também o delator Marcos Andrade Barbosa da Silva.
Como foram anexados, ontem, ao processo, vídeos de
depoimentos, o juiz Bretas decidiu mudar a data, atendendo ao pedido da
defesa dos envolvidos. A data, no entanto, segundo o procurador Almir
Sanches ainda não foi marcada.
(Por
Agência Brasil)
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