quarta-feira, 13 de junho de 2018

Delator diz que 50% das propinas de obras do DER-RJ foram para Cabral. Operador contou, em depoimento, como era feita a distribuição de propinas referentes a obras do Departamento Estadual de Estradas de Rodagem do Rio de Janeiro

RIO DE JANEIRO
 Carlos Miranda em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal da Justiça Federal
 Carlos Miranda em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal da Justiça Federal - Reprodução / TV Globo

Rio - O economista Carlos Miranda, apontado como operador financeiro do ex-governador Sérgio Cabral, disse, nesta terça-feira, durante depoimento na presença do juiz Marcelo Bretas, na 7ª Vara de Justiça Federal, como era feita a distribuição de propinas referentes a obras do Departamento Estadual de Estradas de Rodagem do Rio de Janeiro (DER-RJ).

Conforme o Ministério Público Federal (MPF), coube a Cabral R$ 17,5 milhões, além de US$ 175 mil. O delator afirmou que, conforme foi informado, na partilha dos recursos 50% eram destinados ao ex-governador e a outra metade a Henrique Alberto Santos Ribeiro, ex-presidente do DER-RJ no governo Cabral.

O depoimento foi no âmbito da Operação C'est Fini, deflagrada em novembro do ano passado, um desdobramento das Operações Calicute e Eficiência para apurar crimes de corrupção e lavagem de dinheiro em contratos com o estado do Rio.

Repasses começaram no final de 2007

De acordo com Miranda, o ex-governador e o ex-secretário de governo, Wilson Carlos, o informaram que havia um acordo para recolher propina do órgão, que chegaria a Cabral por intermédio de Lineu Castilho Martins, apontado como operador do ex-presidente do DER-RJ. Os repasses começaram a ser entregues ao economista do meio para o final de 2007. No esquema, Lineu era chamado pelos codinomes de Boris e Russo.

Miranda disse que os valores eram entregues em mochilas em seu escritório da Rua Ataulfo de Paiva, no Leblon, e depois passou a receber no seu escritório do Jardim Botânico, os dois na zona sul do Rio. Entre 2011 e 2014, segundo o economista, a responsabilidade pelo recolhimento da propina foi transferida para Luiz Carlos Bezerra.

“Ele passou a receber o Lineu em diversos lugares. No centro da cidade, no Terminal Menezes Cortes, no Largo do Machado, e tinha me contado que tinha marcado com Lineu algumas vezes no estacionamento das Lojas Americanas ”, disse.

Miranda acrescentou que o recebimento da propina não tinha data fixa, mas ocorria regularmente durante o governo Cabral, dependendo das datas em que o estado fazia os pagamentos às empresas envolvidas no esquema de favorecimento para conseguir obras. “Dependia dos pagamentos do estado, mas, normalmente, eram dentro de 40 a 45 dias”, disse, completando que os valores eram “em torno de R$ 100 mil a R$ 150 mil”.

Escolha de codinomes

O procurador da República, Almir Sanches, indagou qual era o codinome usado por Miranda no esquema e ele afirmou que era Jarbas. “Foi Wilson [Carlos] que passou esses codinomes e a gente usava isso para não dar o nome original um para o outro. Tanto é que quando o Lineu foi preso no ano passado e teve no presídio é que fiquei sabendo que era Lineu”, disse Miranda.

Os advogados de defesa de Lineu e Henrique perguntaram se Miranda tem documentos sobre os encontros e se tinha contatos com outras pessoas do governo Cabral. Ele respondeu que tinha em seu telefone os números do ex-secretário da Casa Civil, Régis Fichtner; de Cabral e do ex-secretário de Saúde, Sérgio Côrtes.

Estavam previstos, ainda, na audiência de hoje, os depoimentos do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Jonas Lopes de Carvalho Júnior, e do seu filho, o ex-consultor do tribunal, Jonas Lopes de Carvalho Neto, que também são investigados na Operação C'est Fini e fecharam acordo de delação premiada. Seria ouvido também o delator Marcos Andrade Barbosa da Silva.

Como foram anexados, ontem, ao processo, vídeos de depoimentos, o juiz Bretas decidiu mudar a data, atendendo ao pedido da defesa dos envolvidos. A data, no entanto, segundo o procurador Almir Sanches ainda não foi marcada.

 (Por Agência Brasil)

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