NO AMAZONAS
Amazonas ainda tem redução de internações e mortes, mas continua próximo do limite
Manaus - O Amazonas diminuiu nas últimas semanas o número diário de
óbitos, fila de espera por assistência e hospitalizações, mas segue com o
sistema de saúde em colapso e com doentes à espera de leitos. A segunda
quebra no sistema de saúde do estado, na pandemia, já dura dois meses.
Em Manaus, a média atual de enterros diários é de 78,8 sepultamentos, o
dobro dos registros antes da pandemia.
Mesmo com taxa de ocupação
de UTI superior a 90%, classificação vermelha de alto risco em Manaus e
roxa nos 61 municípios do interior - que não tem alta complexidade -, o
Estado conduz a reabertura. Na primeira onda, a retomada de atividades
presenciais ocorreu quando a média de sepultamento em Manaus estava em
torno de 40 e a taxa de ocupação em UTI tinha caído para menos de 70%.
Nesta
sexta-feira, 26, foram confirmados 1.572 novos casos de covid-19, e
1.461 pessoas com a doença ocupavam leitos clínicos e de UTI no
Amazonas. A fila de espera tem 84 doentes, sendo a maioria, 55, do
interior. Do total de pacientes que aguardam por leitos, 35 precisam de
UTI, cuja taxa de ocupação se mantém alta em 90,31%.
O Estado
passou cerca de duas semanas, entre o fim de janeiro e início de
dezembro, com uma média diária de espera por leito de cerca de 550
pessoas, durante o período que o governo decretou lockdown. Em meados de
janeiro, os centros médicos de Manaus chegaram a entrar em colapso e
pacientes morreram asfixiados por falta de oxigênio hospitalar. "No
hospital em que trabalho, diminuiu o número de pessoas em leitos. Só que
não podemos nos iludir com a falsa sensação de normalidade. Na verdade,
estamos longe da normalidade", declarou o presidente do Sindicato dos
Médicos do Estado, Mário Viana.
Para o professor da Universidade
Federal do Amazonas (Ufam) e coordenador do Atlas ODS (Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável), Henrique Pereira, a diminuição de óbitos e
infecções no Amazonas está diretamente relacionada à adesão ao
isolamento social em janeiro. A vacinação ainda está no início e o
Estado permanece no seu inverno amazônico que, chuvoso, favorece a
proliferação de doenças virais e respiratórias.
A Atlas ODS da
covid-19 no Amazonas indicou no seu relatório semanal, divulgado no
último sábado, 20, que havia tendência de desaceleração doença, levando
em consideração dados das duas semanas anteriores. No entanto, a média
de novos casos ainda era 2,4 vezes maior do que a registrada no início
de dezembro, antes da explosão que provocou a segunda onda da doença em
Manaus.
O mesmo quadro se mostrava quando comparado os registros
de óbitos: "reduziram em 47%, na última semana, porém ainda são 4,8
vezes mais numerosos que no início de dezembro", indica o relatório. As
internações caíram, segundo o levantamento da Ufam, 51% nas semanas
anteriores ao último sábado desde o pico em 14 de janeiro, quando faltou
oxigênio. Mas estão 2,2 vezes maiores que os do início de dezembro.
Aumento
de casos e diminuição do isolamento - A preocupação do professor
Henrique Pereira é que as médias móveis diárias de infectados voltaram a
registrar aumento no mesmo período que a taxa de isolamento social
caiu, incentivada pela reabertura Segundo ele, esse processo é
precipitado. "O isolamento social, que chegou a 62% em Manaus, vem
caindo e a média móvel de novos casos teve leve aumento. A sequência é
essa: cai a taxa de isolamento, aumenta número de casos, depois de
internações e, na terceira semana, infelizmente, o número de óbitos",
afirmou.
Para ele, dois cenários possíveis serão observados nos
próximos dias no Amazonas. "Há uma queda mais substancial do índice de
isolamento em Manaus depois do dia 20 de fevereiro. Dois cenários
possíveis se apresentam: essa queda de números de óbitos e internações
pode continuar, mas de forma mais lenta, ou pior, a regressão à condição
mais grave", disse.
A liberação da circulação de pessoas aposta
que a imunização, ainda em curso, do público que mais morre (idosos)
possa conter o número de óbitos. Até agora, o Estado aplicou 278.345
doses de vacinas nos grupos prioritários. Segundo dados do site do
Governo do Amazonas, a vacinação da primeira dose atingiu mais de 70% da
população com idade acima de 74 anos. Em Manaus, a prefeitura anunciou
para a próxima semana o início da vacinação de grupos de idosos entre 65
e 69 anos. Na cidade, 73% dos mortos por covid-19 em 2020 tinham mais
de 60 anos.
A técnica de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA)
na zona norte de Manaus, que pediu para não ser identificada, afirma que
a unidade atendeu três vezes mais pacientes do que sua capacidade no
pico de casos. Relata que a lotação caiu e que estão conseguindo, sem
longas esperas, transferir pacientes. As vagas que desocupam nas
unidades de emergência, que deveriam funcionar como porta de entrada
para covid-19, passaram a oferecer leitos aos doentes transferidos do
interior.
(Por Estadão Conteúdo)
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