quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Ministério dos Direitos Humanos vai acompanhar caso de crianças desaparecidas. Ministra Dalmares Alves conversou com familiares das três crianças que despareceram em Belford Roxo, em 27 de dezembro, e disse que vai enviar secretários da pasta ao Rio

 APOIO AS FAMÍLIASLucas Matheus, de 8 anos, Alexandre da Silva, de 10 anos, que são primos, e Fernando Henrique, de 11, sumiram no dia 27 de dezembro de 2020. - Daniel Castelo Branco

 Lucas Matheus, de 8 anos, Alexandre da Silva, de 10 anos, que são primos, e Fernando Henrique, de 11, sumiram no dia 27 de dezembro de 2020.

Rio - O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos se comprometeu a prestar apoio às famílias de Lucas Matheus da Silva, de 8 anos, Alexandre da Silva, de 10, e Fernando Henrique Soares, de 11: as três crianças de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, que estão desaparecidas desde o dia 27 de dezembro. A ministra Damares Alves conversou com os parentes dos jovens por videoconferência, na manhã desta terça-feira, durante reunião na sede da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SEDSODH). Segundo ela, três secretários da pasta estão a caminho do Rio para acompanhar as investigações do caso.

"Contem com a nossa ajuda. Os secretários estão indo para o Rio para, mais do que prestar apoio a vocês no que precisarem, buscar a verdade e contribuir para que os culpados sejam punidos. Vamos trabalhar nisso", disse a ministra Damares Alves.

Ela também comentou sobre a possibilidade de oferecer moradia às famílias fora da comunidade do Castelar. Ao longo das investigações, os agentes levantaram a possibilidade de traficantes da região estarem envolvidos no crime. As investigações seguem em andamento.

A oferta de moradia fora do Castelar também foi feita pelo secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Bruno Dauaire, logo no começo do encontro.

 "Estamos vendo uma forma de encaminhar vocês, caso queiram, para inserção no programa Aluguel Social, porque temos visto muitos casos semelhantes cujas famílias não querem retornar para o local onde vivem", afirmou o secretário.

Durante o encontro, Dauaire firmou outros compromissos com os familiares: colocar um veículo da secretaria à disposição para que possam ter condições de comparecer às consultas com os psicólogos, acompanhar as investigações junto à Polícia Civil e estreitar relações com os parentes por meio da Superintendente de Pessoas Desaparecidas, Jovita Belfort, que passou pela mesma situação das famílias de Belford Roxo. Há 17 anos, ela não tem notícias de filha, Priscila, que desapareceu quando tinha 28 anos.

"Vamos estar próximos daqui para frente, trabalhando pelo objetivo de encontrar essas crianças", disse Dauaire, que, durante o encontro, trocava mensagens com o secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski.

A Dauaire, Turnowski disse que a polícia aguarda o resultado do exame de DNA que compara o material genético das mães das crianças com as roupas sujas de sangue encontradas na casa de um vizinho da família, na comunidade do Castelar.

"Ele também me disse que há buscas em andamento pelo filho de vocês", disse Dauaire aos parentes, acrescentando que irá agendar uma reunião entre as famílias e Allan Turnowski.
 
INVESTIGAÇÕES
Procurada pelo DIA, a Polícia Civil informou que as investigações e as buscas pelas crianças prosseguem. Segundo a nota da instituição, os investigadores estiveram em cerca de 40 lugares e analisaram imagens de mais de 40 câmeras na tentativa de localizar os garotos, além de colher depoimentos de parentes e testemunhas. As buscas aconteceram no Rio, Nova Iguaçu, Duque de Caxias e em outros locais apontados pelos familiares. 
 
Segundo a Polícia Civil, três operações foram realizadas em Belford Roxo para mapear a área e coletar informações que possam ajudar a localizar os garotos. As investigações estão sob responsabilidade de Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).
 
"Em uma delas, na comunidade Castelar, agentes da DHBF e da Polícia Militar realizaram diligências para identificar integrantes da organização criminosa que atua na localidade, trabalhando uma linha de investigação sobre possível participação de traficantes da região no desaparecimento. A suspeita foi cogitada após levantamento de informações e depois que criminosos torturaram um homem, indicando falsamente ser o responsável pelo desaparecimento dos meninos e imputando sua captura aos moradores", diz a nota da Polícia Civil, que acrescenta: 
 
"Além disso, os traficantes incitaram a população a atear fogo em um ônibus como forma de desviar o foco das investigações. Na ocasião, três pessoas foram presas por policiais civis da 54ª DP (Belford Roxo). A DHBF também coletou material genético dos familiares para armazenamento em banco de dados e análise de DNA".
 
FAMILIARES DIZEM TER ESPERANÇA
 
Após a reunião da manhã desta terça-feira, os familiares disseram ter renovado as esperanças de encontrar as crianças.
 
"Agradecemos o apoio de todos que puderem ajudar. Acreditamos que ainda vamos encontrar as crianças vivas", disse a avó de Lucas Manhães Silva e Alexandre da Silva, Silvia Regina da Silva, de 58 anos.

"Nossa esperança agora aumenta um pouco", disse Rana Jéssica da Silva, de 31 anos, mãe de Alexandre.
 
Mãe de Fernando Henrique Soares, Tatiana da Conceição, de 31 anos, pediu justiça.
"Queremos Justiça. Precisamos de ajuda para encontrar essas crianças. Não vamos desistir", disse.
 
PROFESSORA DE ALEXANDRE ACOMPANHA O CASO
 
Professora de Alexandre na Escola Municipal Priscila Bouças Vilanova,no Castelar, Vanusa Cândido do Carmo, que também é advogada, acompanhou os familiares na reunião. Ela comentou sobre o comportamento do menino na escola.
 
"Ele sempre foi tranquilo, bem calmo, e muito assíduo às aulas. Tinha bastante dificuldade de aprendizado, mas, fora isso, nunca apresentou maiores problemas na escola. O material escolar estava sempre bem arrumado, assim como o uniforme, e a mãe sempre comparecia à escola", disse a professora, que deu aulas para Alexandre por dois anos consecutivos.
 
DADOS DE DESAPARECIDOS
 
Na reunião, Jovita Belfort destacou que o número de desaparecidos no Estado do Rio, em 2019, foi maior do que de homicídios dolosos. Foram 3.997 de janeiro a outro outubro, contra 3.342 assassinatos no mesmo período. Os dados são do Instituto de Segurança Pública (ISP). 
 
"Em 2020, os números ainda não estão consolidados, pois a pandemia atrapalhou os registros", comentou Jovita. 
 
Na cidade do Rio, 2009 teve 2.009 casos de desaparecimento. Em 2020, foram 1.331 até novembro. Já a Baixada Fluminense registrou, em 2009, 1.256 desaparecimentos e 769 até novembro de 2020. 
 
"Apesar de os números absolutos da capital do Rio serem maiores, a Baixada Fluminense possui um índice muito mais alto se levarmos em conta o tamanho da população", explicou Jovita. 

 Segundo dados do IBGE de 2020, o Rio tem uma população de 6.747.815 pessoas, enquanto a Baixada registra 1.582.169 habitantes.  



(Por Bernardo Costa/O Dia)

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