Lula, Bolsonaro, Ciro e Alvaro Dias, que já se declararam pré-candidatos à Presidência da República em 2018 (AP/VEJA/Folhapress/Agência o Globo)
O Brasil está a menos de um ano das
convenções partidárias que lançarão os próximos candidatos à Presidência
da República. As siglas políticas poderão se reunir entre 20 de julho e
5 de agosto de 2018 para definir as chapas que deverão ser inscritas
até o dia 15 de agosto. O primeiro turno das eleições será em 7 de
outubro.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já está em campanha. O petista, sentenciado pelo juiz federal Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão no âmbito da Operação Lava Jato, só poderá se lançar como candidato se não for condenado em segunda instância.
Outro político que já está na corrida é o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que deve trocar de partido e
tem se portado como um antagonista à candidatura de Lula. Ele terá até o
dia 7 de abril para estar filiado a uma sigla. Também já estão na pista
o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o senador Alvaro Dias (Podemos-PR).
A ex-senadora Marina Silva não tornou oficial sua pré-candidatura, mas a Rede
– partido que preside – trabalha internamente com os cenários que ela
terá de enfrentar para não perder a terceira eleição consecutiva –
chegou em terceiro lugar em 2010 e 2014. No PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, conseguirá se lançar na disputa se barrar o crescimento do prefeito paulistano, João Doria, e superar a tímida concorrência do senador José Serra (SP).
Há ainda surpresas que podem aparecer na disputa, entre elas o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa, que conversa com a Rede e o PSB, o atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e o senador Cristovam Buarque (PPS-DF). Já o PMDB, o maior partido do país, deve entrar em mais uma eleição sem ter uma indicação própria ao Planalto.
Lula
O ex-presidente Lula lidera a corrida para o Planalto com 30% das
intenções de voto, segundo pesquisa Datafolha de junho (Ricardo
Matsukawa/VEJA.com)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 71 anos, é a única opção que permite ao PT sonhar com o retorno ao Palácio do Planalto. A última pesquisa Datafolha,
de 26 de junho, mostrou que o petista tem 30% das intenções de voto no
primeiro turno – Bolsonaro, segundo colocado, soma 16%. A candidatura
depende, no entanto, da decisão que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) emitirá sobre a condenação do petista em primeira instância.
Se o TRF4 validar a decisão de Moro antes
de 15 de agosto, prazo final para o registro de candidaturas, o
ex-presidente será enquadrado na Lei da Ficha Limpa
e ficará inelegível. Caso a decisão seja proferida após a data limite,
Lula ficará com a candidatura pendente de uma decisão judicial.
Há alas dentro do PT que defendem um boicote
do partido às eleições caso Lula seja impedido de concorrer, sob a
alegação de que o pleito seria fraudulento. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad,
principal alternativa do partido à candidatura do ex-presidente,
contabilizou apenas 3% das intenções de voto na última pesquisa
Datafolha. Outro cenário possível para a sigla seria declarar apoio à
candidatura do pedetista Ciro Gomes.
Ciro Gomes
O pedetista Ciro Gomes quer conquistar os votos de eleitores que se
identificam com bandeiras de esquerda (Chico Peixoto/Estadão Conteúdo)
A pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República foi anunciada pelo PDT
em dezembro de 2015. Desde então, o ex-ministro da Integração Nacional
do governo Lula viaja pelo país e investe em declarações controversas
para ganhar terreno entre os eleitores de esquerda. Em março, Ciro
afirmou que receberia a “turma” do juiz Sergio Moro “na bala” para não
ter de cumprir uma eventual ordem de prisão. Em outra ocasião, o
ex-governador do Ceará e ex-ministro disse que o prefeito de São Paulo,
João Doria (PSDB), era um “farsante”.
Ciro, de 59 anos, vinha dizendo que não se
candidataria à Presidência caso Lula estivesse no páreo, mas aos poucos
tem mudado o tom de suas declarações. Na terça-feira, ele fez diversas
críticas ao ex-presidente e o responsabilizou pela crise política do
país. “Lula é sombra de mangueira. Não nasce nada embaixo. Está errado”,
disse o pedetista ao jornal Valor Econômico.
O presidente do PDT, Carlos Lupi,
disse que Ciro precisará honrar o compromisso firmado com a legenda.
“Ele terá de acatar a decisão do partido. Tivemos em março a nossa
convenção nacional, e a candidatura do Ciro foi confirmada por ampla
maioria. É pouquíssimo provável que haja uma desistência, porque ele
passa a ser um instrumento da unidade coletiva. Isso é preponderante
diante de sua vontade pessoal.”
Lupi disse que a experiência de Ciro será
um diferencial para conquistar o eleitorado, sobretudo a parcela que
ficará “órfã” caso Lula seja impedido de concorrer. “Não creio que o
país partirá para uma aventura. A população quer alguém que conheça a
máquina e que já tenha sido testado. Podem ter ocorrido polêmicas e
afirmações mais ásperas por onde o Ciro passou, mas nunca houve
corrupção. Essa mazela ele não tem em seu histórico.”
O presidente do partido diz não contar com a
possibilidade de Haddad sair como vice-presidente na chapa encabeçada
por Ciro. “Houve conversas paralelas e sondagens, mas considero
particularmente difícil, porque o PT não desistirá da candidatura do
Lula.”
Jair Bolsonaro
O deputado federal Jair Bolsonaro não definiu o partido que abrigará sua
candidatura à Presidência (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
O militar da reserva vinha externando o
desejo de concorrer à Presidência desde 2014. Há 27 anos no Congresso,
Jair Messias Bolsonaro, 62 anos, anunciou em março de 2016 a
pré-candidatura pelo PSC, mas desavenças com o presidente da sigla, Pastor Everaldo, fizeram o deputado federal buscar um novo partido para se lançar ao cargo.
Bolsonaro afirma que o prazo limite para
deixar o PSC é março de 2018, quando está marcada a próxima “janela
partidária” – um projeto de reforma política pretende antecipar o prazo.
O deputado já teve conversas com o PSDC, de José Maria Eymael, o PHS e o Muda Brasil, um projeto de partido capitaneado por Valdemar Costa Neto, condenado no Mensalão.
Apesar de flertar com siglas nanicas,
Bolsonaro afirma que conseguirá vencer a eleição sem ter tempo de
televisão nem fundo partidário. “As redes sociais terão um peso muito
grande aqui no Brasil. Estou apostando que irá para o segundo turno quem
tiver 22% das intenções de votos. O horário gratuito tem a sua
importância, mas está perdendo força. Se eu for para o segundo turno,
todo mundo estará em situação de igualdade.”
O deputado federal diz que a candidatura à
Presidência é “uma missão de Deus” e que considera um “absurdo” ser
classificado como um político de extrema direita por conta de seus
posicionamentos conservadores e do apreço que nutre pela ditadura
militar (1964-1985). A base de sua plataforma política, diz, será
“diminuir a temperatura da questão da segurança no país”.
Alvaro Dias
Eleito senador pela quarta vez em 2014, Alvaro Dias deixou o PSDB no ano passado para se filiar ao PV. Em maio, o político de 72 anos trocou novamente de partido e passou a integrar o quadro do Podemos, que foi autorizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a substituir o registro do PTN. Dias disse aceitou ser pré-candidato à Presidência após uma convocação de sua nova sigla.
Dias já foi vereador, deputado estadual e
federal e governador do Paraná. Ele diz confiar no julgamento das
“pessoas lúcidas” para não sofrer com o desgaste que atinge a classe
política. “Espero que a população separe o joio do trigo e não
generalize”, afirmou. “O politico modernizador não é aquele que tem
pouca idade, mas aquele que tem a capacidade de fazer a leitura do
dinamismo social e das mudanças que ocorrem na sociedade.”
O Podemos carrega o mesmo nome do partido
de esquerda espanhol, mas, segundo Dias, terá um posicionamento político
de centro e será liberal na economia. “A consulta popular nos indica
que a maioria da população brasileira deseja isso”, disse o senador, que
prefere identificar sua atual sigla como um movimento. “A Lava Jato
completou a destruição dos partidos. Eles certamente serão julgados e
condenados nas urnas.”
Rede
A ex-senadora Marina Silva (Rede) deve concorrer à Presidência pela terceira vez consecutiva (NELSON ALMEIDA/AFP)
“Não temos outra alternativa que não seja
Marina Silva. Ela é nossa candidata a presidente e para quem eu
trabalho nesse sentido”, disse o senador Randolfe Rodrigues (AP), a principal liderança da Rede no Congresso.
A candidatura da ex-senadora de 59 anos é dada como certa pela sigla,
mas Marina não manifestou publicamente o desejo de entrar na disputa
pela terceira vez consecutiva.
Marina ficou em terceiro nas eleições de
2010 e 2014. Na última pesquisa Datafolha, ela somou 15% das intenções
de voto e empatou tecnicamente com Bolsonaro na segunda colocação.
Segundo Randolfe, a ex-senadora lançará uma candidatura “antissistêmica e
contra o establishment que se tornou a política”.
Marina passou ilesa pelos escândalos de
corrupção que devastaram Brasília, mas ouve cobranças para ser mais
assertiva em seus posicionamentos. Randolfe afirma que as críticas são
resultado da oposição feita pela Rede “aos dois pólos de poder,
caracterizados por PT e PSDB”. “Alguém que se credencia dessa forma é
atacado com mais intensidade. A Marina tem se manifestado no tempo dela,
segundo a metodologia dela.”
Houve também especulações de que o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal
Joaquim Barbosa poderia ser o vice-presidente de Marina. “Joaquim tem o
perfil que a Rede pretende, mas essa é uma decisão unilateral dele”,
disse Randolfe. “Farei o que puder para Joaquim se filiar ao partido.
Estou convencido de que uma eventual chapa com ele e Marina teria
enormes chances de conquistar as eleições.”
PSDB
O prefeito de São Paulo, João Doria, jura lealdade a Geraldo Alckmin e
diz não querer concorrer à Presidência (Danilo Verpa/Folhapress)
Assim como o PT, seu histórico adversário, o
PSDB sofreu com a implicação dos seus principais quadros em escândalos
de corrupção. O senador Aécio Neves (MG), derrotado no segundo turno das eleições de 2014 por Dilma Rousseff (PT),
foi varrido para fora da disputa presidencial após se tornar alvo de
nove inquéritos no STF. Entre as ações investigadas está o pedido de dois milhões de reais que o senador teria feito ao empresário Joesley Batista, da JBS.
A pré-candidatura será disputada entre o
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin – candidato ao Planalto em 2006
–, e o prefeito paulistano, João Doria. O senador José Serra (SP) –
candidato em 2002 e 2010 – não descarta concorrer ao cargo, mas as menções ao seu nome nas delações de executivos da Odebrecht diminuíram seu capital político.
Alckmin, de 64 anos, foi o único que externou a vontade de ser presidente da República. Também citado nas delações da Odebrecht, o governador se fortaleceu dentro do partido ao defender por diversas vezes o desembarque tucano da gestão de Michel Temer (PMDB). Ele repetiu por diversas vezes que o compromisso da sigla
deveria ser apenas com as reformas políticas. “Defendi lá atrás que o
PSDB não ocupasse cargos [no governo]”, disse Alckmin, cujo partido tem
quatro ministérios no governo.
A candidatura de Doria, de 59 anos, passou a
ser vista com bons olhos pelo fato de o prefeito ser um “outsider” que
passou incólume por escândalos. Doria, que jura lealdade à candidatura de Alckmin – seu padrinho político –, tenta ampliar o seu alcance político com viagens pelo Brasil e declarações duras
contra o ex-presidente Lula e o PT. Falta, no entanto, fortalecer a sua
imagem dentro do partido para bater de frente com o governador
paulista.
PMDB
O PMDB, do presidente Michel Temer, não deu mostras de que disputará o Planalto com candidato próprio (Cristiano Mariz/VEJA)
É o maior partido do Brasil, com sete
governadores e as maiores bancadas na Câmara e no Senado. Também é a
sigla do atual presidente da República, Michel Temer. Apesar dos números
expressivos, o PMDB não deu mostras de que terá um candidato próprio à
Presidência. “Ao longo dos anos, o PMDB ficou a reboque de partidos que
não têm a sua história em troca de cargos e favores de governo”, disse o
ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto. “Rótulos de fisiologismo, clientelismo e outros piores grudaram no PMDB por isso.”
Rigotto declarou, em maio, que seria
pré-candidato à Presidência pela sigla, mas diz ter feito o
pronunciamento para mostrar que o PMDB tem nomes e condições de
construir uma candidatura própria. “Eu não tenho mais mandato. Não tenho
a visibilidade que um mandato dá”, afirmou. “Mas o PMDB tem que
construir uma candidatura e empurrá-la com a força que o partido tem em
todo Brasil, com bons tempos de rádio e televisão, para ser uma
alternativa a todo esse processo político. Quem deve ser? É preciso
buscar um nome nos próximos meses.”
Contra a proposta de Rigotto pesam os altos
níveis de rejeição ao partido. Todas as lideranças do PMDB foram
implicadas em escândalos, sendo que os ex-deputados federais Eduardo Cunha (RJ) e Henrique Eduardo Alves (RN) e o ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral estão presos. Temer é alvo de denúncia por corrupção passiva, enquanto os senadores Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR) – presidente do partido – estão atolados em denúncias.
Surpresas
O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa já conversou com a Rede e o PSB (Nelson Jr./SCO/STF/Divulgação)
Ser vice de Marina Silva não é a única opção para Joaquim Barbosa,
de 62 anos, Além de ter conversado com a Rede, o ex-ministro do STF se
reuniu com dirigentes do PSB. A oferta do partido socialista seria uma
candidatura própria à Presidência. “A decisão de me candidatar ou não
está na minha esfera de deliberação. Só que eu sou muito hesitante em
relação a isso. Não sei se decidirei positivamente neste sentido”, disse
Barbosa no início de junho.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de 71 anos, chegou a ser especulado como substituto de Temer em uma eventual eleição indireta. O PSD,
partido ao qual Meirelles é filiado, não trata de nomes publicamente.
Em nota, o presidente em exercício da sigla, Alfredo Cotait Neto, disse
que a legenda “possui bons quadros e buscará lançar candidatura própria
também na disputa presidencial”.
Já o senador Cristovam Buarque (DF), de 73 anos, disse que poderia repetir a candidatura presidencial que lançou em 2006 caso fosse do interesse do PPS.
“Não vou pleitear, mas se o PPS quiser, estou disposto e pronto. Numa
disputa em que vemos pesquisas com a cara do passado, com a cara de Lula
e Bolsonaro, creio que qualquer político tem o direito de estar
disponível para concorrer à Presidência”, disse. Cristovam afirmou que
encontra simpatia para se candidatar à Presidência entre as bases do
partido, mas nunca chegou a tratar do assunto com os dirigentes do PPS.
(Por
Edoardo Ghirotto/Veja.Abril.com.br)
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