MÁFIA DO ÔNIBUS
Policiais federais levam o empresário Lélis Teixeira, presidente da Fetranspor, no Rio (Jose Lucena/Futura Press/Folhapress)
Uma delação premiada homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) revela que a máfia dos ônibus do Rio de Janeiro destruiu em março do ano passado planilhas que comprovavam o pagamento de propinas durante três décadas. A informação está na colaboração feita por Edimar Moreira Dantas, funcionário do doleiro Álvaro Novis, também delator. Ele conta que, após a 26ª fase da Operação Lava Jato,
mais conhecida como Operação Xepa, o sistema de crédito e débito criado
pela Federação das Empresas de Ônibus do Rio de Janeiro (Fetranspor) para contabilizar as operações com dinheiro sujo foi apagado. Na ocasião, a Polícia Federal começou a desvendar os pagamentos ilegais feitos pela Odebrecht para o marqueteiro João Santana e sua mulher, Mõnica Moura.
Edimar Dantas conta que o empresário de transporte José Carlos Reis Lavouras,
dono da Companhia Viação Flores e membro da direção da Fetranspor, lhe
indicava mensalmente os endereços para que os pagamentos fossem feitos.
Havia duas contas operadas pela federação (a F/Sabi e a F/Netuno). As
planilhas apagadas tinham seis colunas: a primeira coluna referia-se à
data em que os recursos foram debitados ou creditados; a segunda e
terceira, aos valores debitados e creditados pela Fetranspor; a
quarta, ao saldo com o colaborador; a quinta coluna ao status do saldo –
se positivo (“CR”) ou negativo (“DB”); e, por fim, a sexta servia para
que os operadores colocassem alguma observação a respeito da transação.
Embora as planilhas tenham sido destruídas, um pen drive ainda guarda
os detalhes das operações feitas entre 2010 e 2016.
A operação que prendeu a cúpula do setor de transporte
rodoviário do Rio de Janeiro revela que o esquema de pagamento de
propinas para autoridades começou nos anos 1990. Em delação premiada
homologada pelo STJ, o doleiro Novis afirmou que a relação com
representantes do segmento começou em 1990, quando o empresário Lavouras
o procurou para operacionalizar “pagamentos de vantagens indevidas a
políticos”. Tudo, segundo Novis, para “garantir benefícios relacionados a linhas de ônibus e tarifas“. Muitos dos beneficiários envolvidos no esquema continuam mantidos sob sigilo pela Justiça por terem foro privilegiado.
A corretora de Novis, a Hoya, foi utilizada durante três
décadas para movimentar o propinoduto. Os pagamentos eram feitos por
transportadoras de valores – pelo menos quatro delas são citadas (a
Transegur, Transeguir, Transexpert e Proseguir). O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB)
é apontado no depoimento de Novis como recebedor de dinheiro sujo desde
os tempos em que atuou como deputado estadual na Assembleia Legislativa
do Rio de Janeiro.
Durante seu período no Palácio Guanabara, os investigadores
encontraram mais indícios de pagamentos ilegais. Em agendas apreendidas
com Luiz Carlos Bezerra, o operador de Cabral, estão escritas palavras
como “Jardins”, “Flowers” e “Garden”. Em depoimento, o próprio Bezerra
admitiu que as palavras referem-se à Companhia Viação Flores, de
propriedade do empresário Lavouras, que pagou 3,3 milhões para a
quadrilha de Cabral.
Ao todo, os procuradores calculam que cerca de 260 milhões de reais foram pagos durante o período. Foram expedidos pelo juiz Marcelo Bretas nove mandados de prisão preventiva e três de prisão temporária. Um dos principais empresários do ramo, Jacob Barata Filho,
foi preso ontem no Aeroporto Internacional Tom Jobim tentando embarcar
para Portugal. Hoje, foram detidos ainda o presidente da Fetranspor, Lélis Teixeira,
e o ex-presidente do Detro Rogério Onofre. Em delação premiada, Novis
revelou que Onofre investiu o dinheiro da propina em três hotéis em nome
de pessoas da sua própria família.
(Por
Thiago Prado/Veja.Abril.com.br)
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