PROPINA
Michel Temer (André Duzek/Estadão Conteúdo)
O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot,
prepara uma nova ofensiva contra o presidente Michel Temer relacionada
ao Porto de Santos, a mais tradicional área de influência do
peemedebista na máquina pública. Janot já pediu a abertura de um
inquérito para apurar se Temer beneficiou indevidamente a empresa
Rodrimar, que atua no porto, ao editar um decreto. Agora, o procurador
quer reabrir uma investigação que poderá comprovar que os laços entre
Temer e a Rodrimar são bem mais antigos e foram estreitados, ao longo
dos anos, por meio do pagamento de propinas.
ACERVO VEJA: Um rolo no porto
O primeiro passo nesse sentido foi dado na terça-feira
passada, quando Janot pediu vista dos autos de um antigo inquérito, de
número 3.105, que apurava a suspeita de que a Rodrimar pagou, no início
da década passada, propina ao então deputado Michel Temer. Esse caso foi
divulgado por VEJA em 2001
e acabou arquivado, a pedido da própria PGR, dez anos depois. Diante da
suspeita de que Temer beneficiou a Rodrimar também no exercício da
Presidência, Janot decidiu reexaminar a antiga denúncia.
Porto de Santos; área de influência de Temer desde a década de 90 (Germano Luders/Exame/VEJA)
As primeiras pistas sobre as relações umbilicais entre Temer
e a Rodrimar chegaram à Justiça, no início dos anos 2000, no bojo de um
processo de separação litigiosa entre Marcelo de Azeredo, que presidiu a
Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), por indicação de
Temer, e Erika Santos. Numa tentativa de conseguir um valor maior na
partilha de bens, Erika entregou planilhas nas quais relatava um esquema
de corrupção no Porto de Santos.
Segundo as planilhas apresentadas por Erika, pelo menos seis
contratos renderam dinheiro sujo a Temer, Azeredo e “um tal de Lima”,
que, suspeita-se, seja o coronel João Baptista Lima, acusado pela JBS de
receber dinheiro sujo em nome do presidente da República. Os papéis
entregues por Erika mostram que a Rodrimar desembolsou 600.000 reais
para o esquema. Metade do valor teria sido destinado a Temer. O
restante, dividido em parte iguais entre Azeredo e o tal Lima. O rateio
do butim sempre respeitaria esse porcentual. Os documentos mostravam que
o grupo Libra, gigante do setor de portos, pagou propina.
Na campanha presidencial de 2014, dois acionistas da Libra
doaram 1 milhão de reais a Temer, então candidato à reeleição. Em
relatório divulgado por VEJA no início deste ano, a Polícia Federal diz
que o dinheiro pode ter sido repassado como contrapartida pela aprovação
da MP dos Portos, cujo relator na Câmara, o então deputado Eduardo
Cunha, hoje preso e cassado, fazia as vezes de caixa informal do
presidente da República. A denúncia de pagamento de propina da Rodrimar
ao então deputado Temer foi arquivada em 2011 pelo ministro Marco
Aurélio Mello. Relator do caso, Marco Aurélio decidiu que vai reabrir o
inquérito se houver pedido de Janot nesse sentido.
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