quarta-feira, 3 de julho de 2019

No sufoco, deu a lógica: Brasil despacha Argentina de Messi e vai à final. Seleção brasileira segurou a pressão argentina e, na experiência de Daniel Alves e inspiração de Gabriel Jesus, chegou à decisão no Maracanã

COPA  AMÉRICA
 
 Gabriel Jesus desencantou no momento de maior necessidade (Washington Alves/Reuters)
 
 Messi lamenta derrota da Argentina (Ueslei Marcelino/Reuters)

BELO HORIZONTE – Não há esporte mais imprevisível e, também por isso, tão amado quanto o futebol. Só ele é capaz de encher torcedores de esperança de que seu time, por mais inferior que seja, possa superar qualquer rival. E o fato de contar com Lionel Messi, um dos maiores gênios da bola de todos os tempos, dava ainda mais direito aos milhares de argentinos que foram ao Mineirão de sonhar com uma vitória épica na casa do inimigo. E ela quase veio. Mas, na experiência de Daniel Alves, na qualidade de Alisson, e na garra de Gabriel Jesus, que desencantou, o Brasil fez valer seu trabalho mais longevo e organizado, e venceu a Argentina por 2 a 0. O time de Tite chegou à final da Copa América do dia 7, no Maracanã, contra Chile e Peru. Já a a Argentina, que não vence nada desde 1993, amargou mais uma dolorosa derrota e ainda terá o desprazer de disputar o terceiro e quarto lugar em São Paulo.

Horas antes do jogo, um jornalista argentino resumiu, com a picardia portenha, seu sentimento dividido. “Não temos a menor chance, o Brasil é muito melhor. A última vez que vi uma diferença tão grande foi na Copa de 90”, ironizou, citando a vitória argentina por 1 a 0, com show de Maradona e gol de Ganiggia, lance que deu vida à canção “Decime Qué Se Siente”, que desde 2014 os argentinos não param de cantar no Brasil. Há de se destacar, aliás, a festa proporcionada pelos dois lados antes do jogo. Os argentinos, mais histriônicos como sempre, deram o impulso para a resposta dos donos da casa que fizeram questão de citar os “Mil gols de Pelé” e a falta de Copas de Messi.

O jogo começou da forma que mais favorecia a Argentina, brigado, com divididas ríspidas. Os visitantes se animaram e levaram perigo em chute de longe de Paredes. O novato técnico Lionel Scaloni havia dito na véspera que queria fortalecer o meio-campo e vinha obtendo sucesso. Mas justamente quando o Brasil dava sinais de nervosismo, encontrou seu gol graças à experiência de um de seus líderes. Sob pressão da marcação, Daniel Alves saiu costurando com enorme calma – ou aquela qualidade que os argentinos costumam definir como ‘jerarquia’ – e passou para Roberto Firmino, que com ótimo passe, ofereceu o gol à Gabriel Jesus. Alívio e festa no Mineirão.

A Argentina, no entanto, também tinha atletas cascudos e perigosos, sobretudo no ataque. Aos 28 minutos, uma cabeçada de Sergio Agüero, depois de cruzamento de Messi, acertou o travessão e provocou gritos de pavor. Aos 34 minutos, Lionel foi Messi pela primeira vez em toda a Copa América. Puxou um contra-ataque com velocidade, bola colada ao pé, e serviu Agüero, que acabou travado na hora por Marquinhos. Pouco depois, Messi voltou a arrancar suspiros de admiração, até mesmo dos brasileiros, ao ludibriar três marcadores em um giro.

O primeiro tempo terminou de forma preocupante para a seleção brasileira. Tanto que Tite mexeu já no intervalo, algo pouco usual em sua carreira: saiu Everton “Cebolinha”, muito tímido, e entrou Willian, que assumiu a camisa 10 depois do corte de Neymar, presente no estádio, assim como o presidente Jair Bolsonaro. Mas foi a Argentina quem assustou primeiro, em chute de esquerda do jovem Lautaro Martínez, destaque do time no torneio. O Brasil chegou perto do segundo, novamente em jogada iniciada por Daniel Alves; Gabriel Jesus deu belo giro e a bola chegou a Coutinho que, de frente para o gol, chutou por cima. A Argentina, no entanto, levou ainda mais perigo quando Messi invadiu a área e chutou forte, na trave; na sobra, o craque ainda achou espaço e seu passe atravessou toda a área.

Neste momento, Daniel Alves era o único atleta destacável na seleção brasileira, com a frieza que faltava em todos os colegas. A situação ganhou ares de drama quando Marquinhos, um dos melhores atletas do campeonato deixou o campo com lesão muscular. Ele teve seu nome gritado pela torcida e deu lugar a Miranda. Lionel Scaloni mandou a campo outra de suas referências, Ángel Di María, na vaga de Acuña. Minutos depois, Messi teve uma chance de ouro, e cobrança de falta sofrida por ele próprio na entrada da área. O craque cobrou muito bem, como de costume, mas Alisson defendeu com incrível segurança e recebeu o carinho das arquibancadas.

E quando a Argentina mais se animava, o Brasil matou o jogo em lance de força e inspiração de Gabriel Jesus. O atacante do Manchester City venceu seu colega de clube Nicolás Otamendi, cortou para o meio e devolveu a Firmino a gentileza do primeiro: 2 a 0. A Argentina, então, perdeu a cabeça e apelou para a violência. A torcida, até então desconfiada, gritou “timinho” e “eliminado” para os argentinos”. Jesus, que ainda não havia marcado no torneio, viveu seu momento de consagração e deixou o campo ovacionado. Com sufoco, deu a lógica no Mineirão.


(Por Luiz Felipe Castro/Placar)

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