Hiran Matheus Silva de Araújo e Valesca Popozuda em vídeo de divulgação do projeto |
Nas salas do 14º Juizado Especial Cível, em Jacarepaguá, Zona Oeste do
Rio de Janeiro, não se fala em outra coisa. Os servidores, estagiários
e, até juízes, fazem anedotas, enquanto algumas funcionárias ruborizam
ao ler os autos do processo por quebra de contrato de participação de
Valesca Popozuda, 37 anos, no filme erótico 'A Experiência Oral de
Madame Bovary'.
De um lado da disputa judicial estão a funkeira e seu empresário,
Leandro Gomes de Castro, mais conhecido no mundo artístico como Pardal.
Do outro, o aluno da faculdade de Cinema da Universidade Federal
Fluminense Hiran Matheus Silva de Araújo, 22 anos, que cobra da dupla
indenização por danos materiais e morais no valor de R$ 31 mil.
No documento de mais de cem páginas, o jovem aspirante a cineasta acusa a
cantora e seu agente de não cumprirem o contrato de permuta assinado em
13 de janeiro de 2013, no qual Valesca compromete-se a "prestar seus
serviços como atriz" e Pardal a financiar 50% do custo do filme. Em
troca, Hiran e sua equipe executariam gratuitamente um videoclipe para a
cantora disponibilizar em seu canal no YouTube e em outros meios de
divulgação.
Procurado pela reportagem, o empresário afirma desconhecer que ele ou
Valesca estejam sendo processados. "Eu não tenho nada para esconder de
ninguém, só que eu realmente não sei de ação nenhuma. Sobre a Valesca,
se ela sabe eu tenho que ligar para ela (para confirmar)". Questionado
sobre a existência do contrato do filme, Pardal respondeu que só se
pronunciaria após conversar com a sua advogada. Já a cantora não
respondeu aos recados deixados em sua secretária eletrônica.
Na ação, o estudante alega que ele e seus parceiros também procuraram a
cantora e seu empresário por meio de telefonemas, e-mail e mensagens de
celular. Em conversas de WhatsApp as quais o UOL teve
acesso com exclusividade, Mário Pragmácio, representante legal do
universitário, tentou algumas vezes agendar reunião para resolver o
impasse com o empresário de Valesca. Pardal até prometeu comparecer ao
encontro. Porém, segundo o estudante, nunca chegaram a se reunir.
Segundo texto do processo, Myrella Marinho, então assessora de imprensa
de Valesca, comunicou que a artista não desejava mais aparecer em cenas,
digamos, demasiadamente ousadas previstas no roteiro. Para assessora,
sequências como a que a funkeira teria que simular uma relação de sexo
oral e interpretar um orgasmo não eram mais compatíveis "aos altos
investimentos na carreira" da artista, que abandonara as letras vulgares
para transitar em todas as classes sociais.
Descontentes com o roteiro do filme e sem mais depender do estudante
para realizar seus videoclipes (Valesca garante ter gasto R$ 497 mil de
seu próprio bolso para realizar "Beijinho No Ombro"), a cantora e o
empresário condicionaram a participação nas reuniões e,
consequentemente, no projeto à mudança radical do enredo do
curta-metragem.
"Eu vou cumprir com a minha parte desde que o tema não seja esse, já
conversamos quase 40 minutos no telefone sobre isso. Quando vocês
tiverem outro tema, eu marco a data e assino um novo contrato, só
depende aí do seu cliente", afirmou Pardal em outro trecho da troca de
mensagens com Pragmácio.
O empresário por fim cortou relações com os produtores do filme e não
respondeu sequer à notificação extrajudicial enviada pelo representante
legal de Hiran, dando indícios que o cumprimento do contrato não seria
mais uma opção.
Na próxima quinta-feira (29), será realizada a primeira audiência de
conciliação entre Valesca e Pardal com os produtores do filme.
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