BRASIL, POLÍTICA
O ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima - 24/05/2016 (Ruy Baron/Valor/Folhapress)
Entre os motivos que levaram o juiz federal Vallisney Souza de Oliveira a decretar a prisão preventiva do ex-ministro Geddel Vieira Lima, nesta segunda-feira, estão insistentes ligações do peemedebista baiano a Raquel Albejante Pitta. Mulher do doleiro Lúcio Bolonha Funaro,
preso em Brasília há um ano, Raquel recebeu 12 telefonemas de Geddel
entre os dias 17 de maio e 1º de junho. Os contatos do ex-ministro, ou “Carainho”,
como estava identificado no celular da mulher de Funaro, eram sondagens
sobre a disposição do operador financeiro em aderir a um acordo de
delação premiada com o Ministério Público Federal.
“Que estranha alguns telefonemas que sua esposa tem recebido
de Geddel Vieira Lima, no sentido de estar sondando qual seria o ânimo
do declarante em relação a fazer um acordo de colaboração premiada”, diz
o relatório do depoimento de Funaro à PF, prestado no dia 2 de junho. A
mesma oitiva explica a inquietação de Geddel com o que Funaro tem a
revelar: o doleiro declarou à PF que intermediou ao ex-ministro 20
milhões de reais em propina do esquema de corrupção na Caixa Econômica
Federal.
Para Vallisney Oliveira, a pressão do ex-homem-forte do governo do presidente Michel Temer
sobre Raquel Pitta é “fato gravíssimo”, obstrução de Justiça, e sua
conduta poderia “acarretar prejuízo irreparável para as investigações”
da Operação Cui Bono?. “Em liberdade, Geddel, pelas atitudes que vem
tomando recentemente, pode dar continuidade a tentativas de influenciar
testemunhas que irão depor na fase de inquérito”, justificou o juiz.
Geddel deu início ao monitoramento da Sra. Funaro às 22h59 do dia 17 de maio, poucas horas depois de o jornal O Globo
noticiar que o empresário Joesley Batista fechara um acordo de delação
premiada e que, como prova, apresentara à Procuradoria-Geral da
República a gravação de uma conversa com Temer. Por meio de uma ligação
telefônica do aplicativo WhatsApp, o ex-ministro e Raquel falaram
durante um minuto e 56 segundos (veja abaixo).
As últimas ligações foram registradas no dia 1º de junho, pouco depois de o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), conceder liberdade à irmã de Lúcio Funaro, Roberta, presa na Operação Patmos por receber dinheiro da JBS em nome do irmão famoso.
A euforia de Geddel com a notícia era tamanha que, por uma
diferença de apenas uma hora, não foi ele quem deu a boa nova a Raquel
Pitta. Em mensagem ao advogado Bruno Espiñeira, a mulher de Lúcio Funaro
conta ter sabido da notícia às 15h e que, às 16h09, recebeu uma ligação
do ex-ministro “para falar que tinha ficado feliz com a decisão que
agora o Lucio ficaria mais calmo com a irmã em casa” (veja abaixo).
Ao analisar as ligações de Geddel Vieira Lima a Raquel
Pitta, Vallisney Oliveira lembrou que “não é a primeira vez que Geddel
Vieira tenta persuadir pessoas ou pressioná-las”. O magistrado se
referia ao escândalo que levou à saída do peemedebista da Secretaria de
Governo do Planalto: as revelações do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero,
pressionado por Geddel e por Temer, além do ministro da Casa Civil,
Eliseu Padilha, a liberar a construção de um edifício residencial em uma
área tombada pelo patrimônio histórico em Salvador.
O peemedebista é dono de um apartamento no empreendimento e
seria prejudicado pelo embargo da obra. O Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, que proibiu a construção, estava
subordinado a Calero.
Geddel resistiu a deixar o cargo, que lhe garantia foro privilegiado e distância da prisão súbita, mas acabou entregando sua carta de demissão a Michel Temer em novembro do ano passado, depois de um mês na berlinda.
(Por
João Pedroso de Campos/Veja.Abril.com.br)
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