CASO SALLES
Alexandre de Moraes recusa-se em abdicar da relatoria da ação que gerou busca e apreensão contra o ministro do meio Ambiente, Ricardo Salles.
O vice-procurador-geral da República Humberto Jacques de Medeiros
entrou com um agravo regimental no Supremo Tribunal Federal (STF) para
tentar reverter a recusa do ministro Alexandre de Moraes em abdicar da
relatoria da ação que gerou busca e apreensão contra o ministro do meio
Ambiente, Ricardo Salles.
No agravo, o procurador apresenta duas
alternativas: levar a questão ao presidente do Supremo, Luiz Fux, ou
diretamente ao plenário do tribunal.
“O Ministério Público
Federal recorre para que a dissonância entre titular da ação penal e
relator – ou relatores – seja resolvida com precoce preclusão para o
curso do feito, com redução de riscos processuais”, diz um trecho do
documento.
O argumento é o mesmo usado no primeiro pedido para
afastar Moraes do caso: a alegada falta de elementos que atraiam a
competência dele para assumir a relatoria da investigação. “Conflitos em
conflitos, qual os de competência ou jurisdição, reclamam solução
pronta e definitiva. Isso é o que aqui se busca”, afirma o
vice-procurador.
Desde que a Operação Akuanduba estourou na
semana passada, tornando públicas as suspeitas da Polícia Federal sobre a
possível participação de Salles no favorecimento de empresas para
exportação ilegal de madeira, a PGR passou a defender que o inquérito
deveria ser incorporado ao acervo da ministra Cármen Lúcia. Ela já é
responsável por uma ação conexa: a denúncia do delegado Alexandre
Saraiva, ex-superintendente da PF no Amazonas, de que Salles obstruiu a
maior investigação ambiental em favor de quadrilhas de madeireiros.
“Não
se pode desconsiderar que ambas as investigações assumem como hipótese
criminal central a atuação coordenada de servidores da área ambiental,
liderados pelo Ministro do Meio Ambiente, para atender a interesses
escusos em detrimento de suas funções institucionais”, argumenta Jacques
de Medeiros.
Antes de autorizar as buscas na última quarta-feira
(19), Moraes atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República e
desarquivou uma notícia-crime envolvendo Salles, que estava engavetada
desde outubro. Segundo o ministro, o processo, mais antigo, se refere
‘exatamente aos mesmos fatos’ investigados pela Polícia Federal. Por
isso, o inquérito da PF teria ido parar nas mãos dele.
Na outra
ponta, o vice-procurador defende que o ‘desarquivamento de uma
representação fracassada’ não pode se sobrepor ao reconhecimento da
prevenção quando há uma ‘investigação símile em andamento’.
“As
provas colhidas pela autoridade policial no âmbito do IPL 2021.0003967 –
SR/PF/DF e aquelas obtidas após a deflagração da “Operação Akuanduba”
deverão de ser utilizadas no caso em andamento sob a relatoria da
Ministra Cármen Lúcia. É essa a medida razoável, tendo em vista o
estágio da tramitação processual dos feitos de que ora se cuida,
evitando-se o inadequado recurso a uma ‘litigância estratégica
policial'”, crava Jacques de Medeiros.
A empreitada para tentar
tirar Moraes da investigação vem em um contexto de animosidade com a
PGR. Isso porque o ministro deu aval para a abertura da Operação
Akuanduba sem consultar previamente o órgão, como de praxe. No agravo
enviado ao Supremo, o vice-procurador ‘alfinetou’ a conduta do ministro.
“A ausência de abertura de vista à Procuradoria-Geral da
República – previamente ao deferimento das medidas cautelares requeridas
pela autoridade policial – contribuiu para o adensamento do conflito
quanto à relatoria preventa”, registrou. Dois dias depois da operação,
Aras entrou com ação no STF para que todo juiz sempre ouça o Ministério
Público antes de decidir sobre pedidos de prisão provisória,
interceptação telefônica ou captação ambiental, quebra de sigilos
fiscal, bancário, telefônico e de dados, busca e apreensão, entre
outras.
Mais cedo, o próprio Alexandre de Moraes negou abrir da
relatoria da investigação. Na decisão, ele classificou o pedido da PGR
para afastá-lo do caso como ‘suis generis’ – expressão em latim que
significa ‘peculiar’. “Não há qualquer dúvida sobre a competência desse
relator para prosseguir na relatoria”, disse. Nos bastidores do Supremo,
o ministro tem dito que o pedido não passa de uma manobra do
procurador-geral para defender o governo e o próprio Salles, que é
considerado um dos ministros mais próximos do presidente Jair Bolsonaro.
(Por:Estadão Conteúdo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário