BRASIL, POLÍTICA
CONTRAPONTO - Raquel Dodge, a segunda colocada na lista tríplice:
adversária dos métodos e do estilo de Janot (Fátima Meira/Futura
Press/Folhapress)
Se passar pela sabatina e tiver seu nome
aprovado pelo plenário do Senado, a subprocuradora-geral da República
Raquel Dodge será a primeira mulher a assumir o posto mais alto da
hierarquia do Ministério Público no país. Na guerra entre Michel Temer e
o atual procurador-geral, Rodrigo Janot, ela era o nome perfeito para o
presidente. Desde que Janot chegou ao comando da PGR, há pouco menos de
quatro anos, Raquel se insurge contra o estilo de sua administração,
que considera extremamente autoritário e pouco agregador. O desapreço é
recíproco. Um episódio ocorrido há dois anos e meio, e mantido em
segredo até agora, ilustra o nível da relação entre os dois.
Em 3 de novembro de 2014, Raquel Dodge nem deveria
comparecer à Procuradoria — aquele seria seu primeiro dia de férias —,
mas, de surpresa, decidiu passar em seu gabinete para resolver algumas
pendências. Chegando lá, percebeu que as luminárias instaladas sobre as
mesas de trabalho tinham sido removidas e recolocadas no lugar. Havia
sujeiras com marcas de impressões digitais no teto. Raquel estranhou e,
no mesmo dia, pediu uma conversa com Janot. Ao procurador-geral, ela
relatou o que havia ocorrido e, não satisfeita, preparou um ofício para
formalizar a queixa e pedir providências. No dia seguinte, ao chegar
para trabalhar, a chefe do gabinete da procuradora encontrou dois
homens, com uma escada, mexendo no teto da copa do gabinete. Os homens
saíram do local antes que pudessem ser identificados.
A desconfiança de que eles haviam entrado sem aviso com o
propósito de retirar supostos dispositivos de escuta ambiental fez
aumentar ainda mais o nível da suspeita. Avisada desse segundo episódio,
Raquel voltou a cobrar Janot. Com a demora do procurador-geral em
adotar providências, a própria Raquel levantou, em conversas com colegas
e auxiliares mais próximos, a suspeita de que a suposta arapongagem
pudesse estar partindo da área de inteligência da própria PGR, a serviço
de Janot.
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