Depois de ver seu barraco condenado num deslizamento de terra no
Jaçanã, na Zona Norte de São Paulo, em 2011, Andrea dos Anjos Bastião
aceitou se tornar “sócia” da Rigidez, construtora de fachada que serviu
para desviar R$ 48 milhões de obras públicas por meio de falsos
contratos de prestação de serviços com as maiores empreiteiras do país.
Pelo negócio, Andrea, que não foi localizada pelo GLOBO, virou laranja
da empresa e recebeu cerca de R$ 1 mil por mês até o início de 2014. Com
a deflagração da Lava-Jato, os depósitos cessaram. A casa de Andrea,
hoje de alvenaria, com três pavimentos, interfone e grades altas, ficou
inacabada.
Dentro da operação que investiga as fraudes na Petrobras, a Rigidez
aparece como uma das 84 empresas de fachada ou “noteiras” — como são
conhecidas as que apenas abastecem com notas fiscais o pagamento de
propinas — que irrigaram partidos políticos, agentes públicos e
intermediários de repasses no esquema de desvios de recursos. Dessas, 55
movimentaram R$ 2,6 bilhões entre 2009 e o início deste mês, segundo
levantamento feito pelo GLOBO em ações judiciais ou inquéritos tornados
públicos pela Justiça Federal do Paraná. As demais empresas seguem na
condição de investigadas, sem identificação de valores movimentados. Não
estão incluídos no levantamento os inquéritos em curso no Supremo
Tribunal Federal, que estão sob sigilo e envolvem políticos no exercício
de mandatos.
Para se ter uma ideia, esse valor seria suficiente para construir
65 mil casas do programa Minha Casa Minha Vida, a um custo médio de R$
40 mil. Apenas as duas empreiteiras cujas cúpulas foram condenadas em
primeira instância, OAS e Camargo Corrêa, pagaram R$ 91,5 milhões a
quatro empresas de fachada — e elas não param de se multiplicar nas
investigações da Polícia Federal.
O esquema que, segundo o Ministério Público Federal, irrigou três
dos principais partidos políticos do país — PT, PMDB e PP — passa por
homens apresentados como consultores de sucesso, falsas empresas de
engenharia e escritórios de contabilidade habituados a recrutar pessoas
em dificuldades financeiras, em geral pobres, para assumir a posição de
“laranjas”. Em troca de ajuda, elas aceitam figurar como “sócias” em
firmas de fachada, usadas para movimentar milhões de reais.
Fonte: O Globo
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