Em seu depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na ação contra a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, o ex-executivo da Odebrecht Hilberto Mascarenhas explicou como era a relação da empreiteira com Mônica Moura, mulher e sócia do marqueteiro João Santana, e a rotina de pagamentos em caixa dois feitos ao casal. Mascarenhas chefiou de 2006 a 2015 o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, conhecido como “departamento da propina” da empresa.
No depoimento à Justiça Eleitoral, ele diz que a mulher de Santana era a interlocutora do casal junto à Odebrecht e que ela estaria no “top five”, entre os cinco maiores recebedores de dinheiro do setor de propinas. O ex-executivo estima que tenham sido pagos a Mônica, identificada com o codinome “Feira” nas planilhas da empreiteira, entre 50 milhões de dólares e 60 milhões de dólares.
Segundo o delator, o casal recebeu pagamentos referentes às campanhas presidenciais de 2010 e 2014 e na eleição municipal de 2012. “Tinha diretores de obras no exterior, diretores que aprovavam indicações, aditivos, etc, que recebiam fortunas também. Com um detalhe, lá eles recebiam para eles, bolso, e aqui muitas vezes era para eleições, campanhas, etc”, narra Mascarenhas, sobre os outros integrantes do topo do ranking de pagamentos da Odebrecht.
Ele detalhou no depoimento que os pagamentos a Mônica Moura saíam da conta corrente vinculada a “italiano”, apelido que seria para identificar o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, preso pela Operação Lava Jato em setembro de 2016. A conta era usada na medida em que o PT necessitasse, diz o delator.
“Existia uma conta corrente onde foi aberto um crédito de X para o ‘Italiano’ por ele ter apoiado a empresa em determinada coisa. Aquele dinheiro que tinha aberto crédito não ia para ele, ficava para ele usar na medida em que o partido dele, que era o PT, necessitasse. Então pagar ao marqueteiro da campanha de Dilma é uma necessidade do PT. Então ele autorizava: ‘Preciso pagar dez milhões ao dr. João Santana’. João Santana nunca apareceu, sempre quem aparecia era a dra. Mônica Moura, que essa eu botei o codinome”, descreve o ex-executivo.
Hilberto Mascarenhas explicou que os pagamentos ao marqueteiro não foram feitos só em relação a campanhas políticas no Brasil, mas também a serviços no exterior. “Pessoas de países que nós trabalhávamos, como Angola, Panamá, El Salvador, queriam eles na campanha deles. E eles diziam: ‘Só vou se a Odebrecht garantir o pagamento’. Então sobrava para a gente pagar, não é? O responsável pelo país lá, nosso diretor de país, assumia o ônus de pagar a campanha que eles iam fazer para esses países”, relata.
Segundo Mascarenhas, os valores eram sempre “bastante grandes” e Mônica Moura exigia que parte fosse paga no Brasil, com a justificativa de que tinha que pagar serviços feitos no país e funcionários. No Brasil, os valores eram pagos em espécie. Tanto no país quanto no exterior, os pagamentos eram feitos em datas próximas a eleições.
O advogado Juliano Campelo Prestes, que representa Mônica e João Santana, disse que só pode se manifestar após ter acesso à integra dos depoimentos.
(com Estadão Conteúdo)
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