SAÚDE
Diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, durante coletiva sobre a pandemia da covid-19.
Acusado de pressionar servidores para acelerar a importação da vacina indiana Covaxin, mesmo com indícios de irregularidades no contrato, o diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, foi demitido do cargo. A decisão foi tomada na manhã desta terça-feira (29), segundo nota divulgada à noite pela Pasta. A exoneração foi publicada na edição do Diário Oficial desta quarta-feira (30).
A demissão de Ferreira Dias acontece quatro dias após os
depoimentos à CPI da Covid do deputado Luis Miranda (DEM) e de seu
irmão, Luis Ricardo Fernandes Miranda, chefe de importação do
Departamento de Logística do Ministério da Saúde. Os dois disseram haver
um esquema de corrupção envolvendo a compra da Covaxin e citaram
Ferreira Dias.
O diretor foi indicado para o cargo pelo líder do
governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas), ex-ministro da
Saúde, e pelo ex-deputado Abelardo Lupion (DEM). Barros nega ter
apadrinhado o diretor, que assumiu a função na gestão do então ministro
Luiz Henrique Mandetta.
No ano passado, Ferreira quase ocupou uma
diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O
próprio presidente Jair Bolsonaro desistiu da indicação, no entanto,
após o jornal O Estado de São Paulo mostrar que o diretor havia assinado
contrato de R$ 133,2 milhões no Ministério da Saúde, com indícios de
irregularidade, para compra de 10 milhões de kits de materiais
utilizados em testes de covid-19.
Uma outra denúncia contra ele,
desta vez de cobrança de propina, partiu de Luiz Paulo Dominguetti
Pereira, que se apresenta como representante da Davati Medical Supply. A
CPI da Covid vai ouvir na sexta-feira o depoimento de Dominguetti, que
disse ao jornal Folha de S. Paulo ter recebido de Ferreira Dias pedido
de propina de US$ 1 para cada dose da vacina AstraZeneca adquirida pelo
governo Bolsonaro. A AstraZeneca nega, porém, que a Davati a represente –
a empresa americana já foi desautorizada pela AstraZeneca no Canadá.
Os
senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice–presidente da CPI, e
Alessandro Vieira (Cidadania) prepararam um requerimento para convocar
Dominguetti. Quando depuseram à CPI da Covid, o deputado Luis Miranda e o
irmão dele disseram que se reuniram com Bolsonaro no dia 20 de março,
no Palácio da Alvorada, e relataram o esquema de corrupção no Ministério
da Saúde para compra de vacinas.
Reportagens publicadas na
imprensa mineira indicam que a Davatti pode estar fraudando o processo
de compra de vacinas no Estado. A empresa teria negociado com
prefeituras, com o objetivo de conseguir uma carta de intenção
demonstrando interesse na aquisição de imunizantes da AstraZeneca.
Depois de conseguir a carta, porém, as conversas emperraram.
No
caso da Covaxin, o governo Bolsonaro fechou o contrato de compra por um
preço 1.000% maior do que o anunciado pela própria fabricante. O
Ministério da Saúde decidiu suspender o contrato temporariamente, nesta
terça-feira (29), por recomendação da Controladoria-Geral da União
(CGU).
Em agosto de 2020, um telegrama sigiloso da embaixada
brasileira em Nova Délhi informou o governo que a vacina Covaxin,
produzida pela Bharat Biotech, tinha preço estimado em 100 rúpias (US$
1,34 a dose). Quatro meses depois, em dezembro, outro comunicado
diplomático dizia que o produto fabricado na Índia “custaria menos do
que uma garrafa de água”. Em fevereiro deste ano, porém, o Ministério da
Saúde firmou contrato com preço de US$ 15 por unidade (R$ 80,70, na
cotação da época), a mais cara das seis vacinas compradas até agora.
(Por:Estadão Conteúdo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário