LAVA JATO
Enquanto parlamentares vivem apreensão com os novos pedidos de abertura de inquérito contra políticos no âmbito da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, líderes dos principais partidos no Senado já manifestaram apoio à proposta que põe fim a qualquer sigilo em investigações.
Considerado por integrantes do Ministério Público como um dos itens da agenda “anti-Lava Jato” no Congresso, o projeto – de autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR) – recebeu críticas da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR).
A reportagem consultou os líderes de nove bancadas da Casa: PMDB,
PSDB, PT, PSB, PP, PSD, DEM, Rede e PCdoB. Juntos, eles respondem por 68
senadores, o equivalente a 83% do Senado. PMDB, PT e PP defendem a
quebra total do sigilo de investigações. PSDB e PSB concordam com a
quebra do sigilo, mas acreditam que devem ser feitas ressalvas em alguns
aspectos.
“Em princípio, uma ampla maioria é favorável à retirada do sigilo.
Mas o procurador-geral Rodrigo Janot fez algumas considerações de que o
sigilo é importante para as investigações, por isso vamos tentar
equilibrar”, afirmou o líder do PSB, Fernando Bezerra Coelho (PE).
O líder do PSDB, Paulo Bauer (SC), segue a mesma linha. Rede, PCdoB e
DEM são contrários ao projeto e preferem que o sigilo fique sob
responsabilidade do Judiciário.
Aqueles que são a favor do projeto argumentam que o segredo ou
vazamento parcial é prejudicial para os investigados, que passam a ser
tratados como culpados pela opinião pública. “A partir da ocorrência de
qualquer fato, é preciso que se abra, que se quebre, se derrube o sigilo
das investigações, para que a população não seja manipulada, o que,
infelizmente, com muitos tem acontecido no Brasil”, afirmou o líder do
PMDB, Renan Calheiros (AL).
Renan e Jucá, autor da proposta, são investigados em inquéritos na
Lava Jato e já foram citados em delações vazadas. Jucá chegou,
inclusive, a pedir demissão do cargo de ministro do Planejamento após se
tornar público, em maio do ano passado, trecho de conversas suas com o
ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado na qual ele falava em mudança
de governo para “estancar a sangria” – o que foi interpretado como uma
referência à operação.
Além da proposta para acabar com o sigilo das investigações, outros
cinco projetos que receberam críticas dos investigadores da Lava Jato
podem ser votados pelo Congresso em 2017. São propostas como a anistia
ao caixa 2, abuso de autoridade e o pacote anticorrupção, que voltou
para a Câmara após determinação do STF.
Reação
Jucá chegou a fazer no plenário do Senado um duro discurso, em que
acusou a imprensa de fazer o “linchamento” de políticos ao noticiar
delações premiadas que ainda não foram homologadas. “É liberdade de
imprensa vazar um pedaço de delação? E a que preço essa imprensa recebe o
pedaço da delação? Não sei”, afirmou, na época. Jucá justificou que a
gravação feita por Machado, onde aparece dizendo que é preciso “estancar
a sangria”, não se referia à Lava Jato, mas ao “desmonte” do país
promovido pelo governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
No mesmo dia, Jucá se envolveu em uma polêmica ao defender a
manutenção do foro privilegiado, em entrevista ao Estado. “Se acabar o
foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não
uma suruba selecionada”, declarou. No dia seguinte, o líder do governo
pediu desculpas a quem se sentiu atingido pela declaração.
Líder do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR) também saiu em defesa da
proposta de Jucá. “A sociedade tem o direito de saber o que tem dentro
das delações. Sou a favor que se quebre totalmente o sigilo e que tudo
venha a público”, afirmou. Há mais de um ano, a petista protocolou um
projeto para retirar o sigilo de delações cujo conteúdo tivesse sido
vazado. A senadora é ré na Lava Jato.
(Com Estadão Conteúdo)
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