Autointitulado “a viva alma mais honesta”, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
ficará frente a frente com o juiz Sergio Moro no dia 3 de maio, data
definida pela justiça para que o petista preste depoimento no processo
em que é acusado de ocultar ser o real proprietário de um tríplex no
Guarujá, litoral de São Paulo.
No início de 2016, a Polícia Federal
deflagrou a 22ª fase da Lava Jato, batizada de Triplo X, e que
investigava a atuação casada entre a offshore Murray, criada pela
empresa Mossack Fonseca no Panamá, e a empreiteira OAS. As suspeitas são
de que imóveis no condomínio Solaris, onde fica o tríplex atribuído a
Lula, tenham sido utilizados para camuflar o pagamento de propina do
escândalo do petrolão. Reportagem de VEJA de 2015 já havia revelado que,
depois de um pedido feito por Lula ao então presidente da OAS, Léo
Pinheiro, a empreiteira assumiu a construção de prédios da cooperativa. O
favor garantiu a conclusão das obras nos apartamentos do ex-tesoureiro
do PT João Vaccari Neto, enquanto outros cooperativados ainda aguardam –
e brigam na justiça – para conseguir receber seus imóveis.
Lula é réu na Operação Lava-Jato e seu depoimento a Moro está agendado para as 14 horas do dia 3 de maio. Segundo
as investigadores da Lava Jato, o ex-presidente recebeu, apenas no caso
relacionado ao tríplex, benesses de 3,7 milhões de reais “oriundas do
caixa geral de propinas da OAS com o PT”. Como ele é alvo de outras
apurações no petrolão, incluindo os nebulosos pagamentos por palestras,
por meio da L.I.L.S. Palestras, Eventos e Participações, as vantagens
indevidas devem ser confirmadas em escala exponencial. Dos cerca de 55
milhões de reais que o Instituto Lula e a L.I.L.S. receberam de
empresas, mais de 30 milhões de reais foram repassados diretamente por
empreiteiras enroladas com o escândalo na Petrobras.
Em novembro do ano passado, o petista
prestou depoimento ao magistrado como testemunha de defesa no processo
que envolve o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas na
ocasião a oitiva ocorreu por meio de teleconferência. Na ação a que o
ex-presidente responde também serão ouvidos, entre outros, os
empreiteiros Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e Paulo Gordilho, além
do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.
A oitiva de Pinheiro, por exemplo,
ocorrerá no dia 20 de abril, às 14 horas. O executivo já se comprometeu
em audiência anterior a contar toda a verdade ao juiz Sergio Moro. Em
setembro do ano passado, ao depor no processo que condenou o ex-senador
Gim Argelo, o empresário reforçou a disposição de colaborar com a
Justiça: “Eu queria agradecer ao senhor e ao Ministério Público a
oportunidade para eu esclarecer, para falar a verdade, mesmo que esses
fatos me incriminem. Eu cometi crimes e para o bem da Justiça do nosso
País, para o bem da sociedade, estou aqui para falar a verdade, para
falar tudo que eu sei”, disse.
Em um acordo de delação premiada que
acabou sendo arquivado pelo procurador geral da República, Rodrigo
Janot, no ano passado, Léo Pinheiro contou em detalhes que o tríplex no
Guarujá pertencia a Lula. O empreiteiro afirmou que ficou acertado com o
então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que o apartamento de Lula
seria “abatido dos créditos que o PT tinha a receber por conta de
propinas em obras da OAS na Petrobras”. O ex-presidente da OAS relatou
que, ao perguntar a Vaccari se Lula tinha conhecimento da negociata, o
tesoureiro respondeu afirmativamente. Ele contou ainda que a reforma do
tríplex não seria cobrada de Lula. Janot arquivou a delação de Léo
Pinheiro porque trechos do acordo foram revelados por VEJA.
( Hugo Marques, Laryssa Borges/Veja.com)
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