ANÁLISE
Fernando Haddad (PT), candidato à Presidência da República, durante
coletiva de imprensa em Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ) -
23/10/2018 Daniel Ramalho/AFP
As eleições municipais ficaram marcadas pelo apadrinhamento dos
candidatos às prefeituras de todo o Brasil. Nomes graúdos da política
brasileira se envolveram diretamente em diversas campanhas, como o
presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Chamou a atenção, no entanto, a ausência da figura de Fernando Haddad
neste pleito. O petista, que obteve 47 milhões de votos no segundo
turno da eleição presidencial contra Bolsonaro em 2018, foi um cabo
eleitoral tímido e pouco contribuiu para eleger candidatos ao redor do
país.
Haddad vinha sofrendo críticas da direção nacional do PT
durante o primeiro turno porque optou por respeitar a quarentena imposta
pela pandemia de Covid-19 e não rodou o país para fazer campanha de
rua. Ele participou algumas vezes de carreatas com o candidato petista
em São Paulo, Jilmar Tatto, mas não conseguiu converter votos do
eleitorado de esquerda. Tatto foi ofuscado pelo ex-líder do movimento
sem-teto Guilherme Boulos e acabou em sexto lugar, com 8,65% dos votos.
A atuação de Haddad esteve mais restrita às redes sociais. Durante o
primeiro turno, ele fez transmissões ao vivo com os candidatos petistas e
alguns aliados em suas redes sociais. No segundo, usou os perfis para
pedir votos aos candidatos do PT e a nomes apoiados pelo partido, como
Boulos. A campanha do psolista, porém, optou por não usar Haddad nas
propagandas de televisão. Em 2016, ele foi derrotado no primeiro turno
pelo tucano João Doria. Quem representou o apoio do partido a Boulos
neste segundo turno foi Lula.
Haddad chegou a gravar vídeos para serem transmitidos nas campanhas
de televisão dos petistas Marília Arraes, no Recife, e João Coser, em
Vitória, mas os dois acabaram derrotados neste domingo, 29. O PT,
inclusive, não elegeu nenhum prefeito em capitais pela primeira vez em
sua história.
O ex-presidenciável tampouco entrou de cabeça na eleição de
vereadores. Um dos poucos sucessos obtidos por ele nas urnas foi em
Belém, onde se envolveu ao fazer uma live com Edmilson Rodrigues (PSOL)
na internet. Não se pode, contudo, atribuir o triunfo do psolista ao
apoio expressado por Haddad.
Ao menos em São Paulo, o ex-prefeito terá de disputar a imagem de
ícone da “nova esquerda” com Boulos, que perdeu no segundo turno para
Bruno Covas (PSDB) por 59,38% a 40,62%. Independentemente desta derrota,
Boulos se mostrou hábil no manejo das redes sociais, conquistou o
eleitorado jovem e já pode ser considerado o principal ícone do campo
progressista na capital paulista.
Haddad também cometeu um ato falho ao longo deste período eleitoral
ao escrever em seu Twitter que “tem Casa Grande que vale a pena”. Ele se
referia a uma crítica política que o comentarista esportivo Walter
Casagrande, da TV Globo, fez durante um programa da emissora, mas
seguidores do ex-prefeito o criticaram pela conotação racista da
postagem. Haddad apagou o comentário e se justificou dizendo que estava
fazendo uma ironia.
Em São Paulo, Lula tentou até o último momento convencer Haddad a ser o
candidato do PT nesta eleição. O ex-prefeito rejeitou a oferta afirmando
que podia agregar mais para o partido como uma figura nacional. Após o
primeiro turno, Haddad almoçou com Lula, Tatto e a presidente do PT, a
deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), com quem nutre
profunda animosidade. Ficou acordado no encontro que quem iria coordenar
o apoio a Boulos seria Tatto. Aliados de Gleisi diziam desde o primeiro
turno que uma derrota acachapante em São Paulo seria atribuída
internamente ao ex-presidenciável. Agora, resta saber como o partido irá
trabalhar a imagem do ex-prefeito até 2022. Como Lula está impedido de
concorrer à Presidência pela Lei da Ficha Limpa, Haddad continua sendo o
principal nome do partido para disputar o Executivo Federal no próximo
pleito.
(Por Edoardo Ghirotto/Maquiavel)