quarta-feira, 29 de abril de 2015

Servidores da saúde cruzam os braços por melhores condições de trabalho. Categoria relata déficit de pessoal, sobrecarga de trabalho e reclama de falta de medicamentos e insumos nas Unidades Básicas de saúde do município

ADVERTÊNCIA

Foto: José Aldenir
Foto: José Aldenir
Alessandra Bernardo
alessabsl@gmail.com

Os servidores da saúde da zona Norte de Natal paralisaram as atividades por uma hora na manhã desta terça-feira (28) para reclamar as precárias condições de atendimento e de trabalho nas unidades médicas da região. Eles relataram déficit de pessoal, falta de insumos e medicamentos como antibióticos e comprometimento de estruturas físicas dos prédios. Durante o ato público, eles receberam o apoio da população, que também reclamou sobre os mesmos problemas.

Segundo a coordenadora do Sindicato dos Servidores da Saúde do Rio Grande do Norte (Sindsaúde), Célia Dantas, um dos problemas mais recorrentes nas unidades de Natal é o déficit de pessoal – entre médicos, enfermeiros, técnicos, agentes de saúde e outros profissionais relacionados, que atuam em áreas carentes e mais necessitadas de atenção e cuidado.

“Um exemplo é o que ocorre aqui na unidade do Panatis. Das quatro equipes que temos, uma delas está sem médico e é justamente a que cobre uma área muito carente, que precisa muito de atenção médica e visitas domiciliares porque moram muitos idosos e pessoas com dificuldade de locomoção. Lá, temos uma idosa com quase cem anos de idade que precisa de atendimento médico, mas não recebe porque a equipe está incompleta”, desabafou.

O problema gera a sobrecarga das demais equipes, que trabalham além do limite que deveriam, causando também problemas de saúde para os próprios profissionais. Conforme Célia, o déficit de pessoal é de aproximadamente quatro mil servidores na saúde e, apesar do fato ser constantemente reclamado ao executivo municipal, que abriu concurso público para o preenchimento de vagas recentemente.

“A falta de pessoal, a sobrecarga e as condições de trabalho são as principais denuncias da categoria e é uma realidade em todas as unidades de saúde e hospitais do estado. O prefeito Carlos Eduardo adia o concurso desde que assumiu, mas agora, anunciou concurso retirando as 30 horas da Enfermagem, que é lei municipal. Os governos jogam a conta da crise nas costas do servidor e da população”, explicou.

O protesto faz parte do calendário de atos públicos nos hospitais e unidades de saúde, aprovado nas assembleias da campanha salarial do estado e do município. Também nessa mesma semana, ocorrerá um ato público na próxima quinta-feira (30), em frente ao Pronto Socorro Infantil Sandra Celeste, no bairro de Lagoa Nova, para denunciar a falta de pessoal e de atendimento e o assédio moral contra os servidores.

Pacientes também reclamam de condições
Uma servidora da unidade do Panatis, que pediu para não ser identificada, disse que todos os pacientes que chegaram à unidade no início da manhã de hoje foram informados sobre a paralisação de uma hora e muitos apoiaram a causa, por também sofrerem com a precariedade local.

Para a dona de casa Ávila Morgana, a qualidade do atendimento prestado à população é precário porque o município não oferece as condições suficientes para que os servidores possam trabalhar direito. Ela falou que chegou à unidade de saúde do Panatis por volta das 7h com a filha adolescente, que estava passando mal e que apoiava o movimento.

“Se é para melhorar a situação aqui, apoio sim, porque quem mais sofre com a precariedade das condições da saúde somos nós que precisamos dela. Não temos plano de saúde, mas pagamos muitos impostos e por isso, cobro sim que a situação seja melhorada. Tem ocasiões em que precisamos de remédio e não tem na farmácia do posto, temos que ir para outro lugar. Já cansei de chegar aqui e não ter médico para atender a gente e ainda temos que vir de madrugada para conseguir ficha”, afirmou.

Outro que aguardava atendimento médico na unidade, durante o ato público, era o aposentado Getúlio Nunes, que reclamava de dores no estômago e mal-estar. Sentado em uma cadeira no hall da unidade, ele disse ter chegado ao local antes das 6h30 e que a demora no atendimento era um dos principais problemas enfrentados pelos pacientes que procuram os postos de saúde.

“Essa demora no atendimento e a falta de medicamentos, quando precisamos, é o que mata a gente. Eu cheguei aqui logo cedo para garantir minha ficha, mas sei de pessoas que vem durante a madrugada, porque moram longe ou para garantir que serão atendidos no mesmo dia. Infelizmente, nós que precisamos da saúde pública sofremos muito, só queria que as autoridades vissem isso e atendessem as reivindicações dos servidores, porque o que é bom para eles, é bom para a gente também”, falou.

Secretaria defende abastecimento regular
A reclamação de desabastecimento das unidades médicas, de medicamentos e insumos usados nos procedimentos realizados, uma das mais recorrentes entre as reivindicações dos servidores da saúde em Natal, é rebatida pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Em nota, o órgão informou que todas as unidades de atenção básica situadas na Zona Norte da cidade estão abastecidas com medicamentos inerentes à atenção básica.

Conforme informação do Departamento de Assistência Farmacêutica da SMS, o abastecimento dos postos de saúde, policlínicas, maternidades e unidades de pronto atendimento está sendo feito de forma regular. A secretaria reconhece ainda a falta pontal de alguns itens e que isso ocorre em função da espera da conclusão de processos de aquisição de determinados medicamentos.

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