INVESTIGAÇÃO
Em Manaus, juíza vê 'fortíssimos indícios de desvio' e exige lista de vacinados
Manaus - Os Ministérios Públicos Federal, do Trabalho, do Estado e de
Contas do Amazonas, juntamente com as Defensorias Públicas da União e
estadual apresentaram à 1ª Vara Federal do Amazonas um pedido para que o
município de Manaus informe diariamente em seu site, até as 22h, a
relação das pessoas que foram vacinadas contra o novo coronavírus até as
19hs do dia respectivo, 'com identificação de nome, CPF, local onde foi
feita a imunização, função exercida e local onde a exerce'.
Segundo
os autores da ação, os dados das pessoas que foram priorizadas na
imunização devem ser publicizados 'para que possa haver devido controle
social sobre a destinação do bem público altamente escasso nos dias
atuais'. "Somente assim poderão a sociedade civil e os órgãos de
controle exercer fiscalização contínua sobre a devida aplicação das
doses, coibindo-se favorecimentos indevidos e garantindo-se que a
política pública de saúde seja implementada de modo transparente e
eficaz".
O pedido se dá em meio a denúncias de que pessoas fora
do grupo prioritário na imunização estão sendo vacinadas. Como mostrou o
Estadão, o Ministério Público de ao menos oito Estados (Pernambuco,
Sergipe, Amazonas, Rio de Janeiro, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e
Bahia), além do Distrito Federal, acompanha os relatos de 'fura-filas'.
O
documento dos MPs e Defensorias no Amazonas cita como exemplo o caso de
'duas médicas recém-formadas, de família conhecida e bem posicionada
economicamente na sociedade local, que exibiram o ato de sua vacinação
por imagens divulgadas publicamente em suas redes sociais'.
"Trata-se
de Gabrielle Kirk Maddy Lins e Isabelle Kirk Maddy Lins, irmãs,
portadoras dos CRM 11091-AM e CRM 11187-AM, respectivamente, egressas do
curso de Medicina da Universidade Nilton Lins. A plausibilidade da
suspeita de ato de beneficiamento pessoal para garantir vacinação
precoce decorre da circunstância comprovada de nomeação de véspera, por
decretos de 18 e de 19 de janeiro e 2021, para ocupar cargos em
comissão, a priori não compatíveis com a condição de profissional
prioritário posicionado no atendimento direto a doentes covid-19",
registra a ação.
A petição foi entregue à Justiça Federal na
noite desta quinta, 21, horas após a juíza Jaiza Maria Pinto Fraixe, da
1ª Vara Federal do Amazonas, intimar o governo do Amazonas, a Fundação
de Vigilância em Saúde do Estado e Prefeitura Municipal de Manaus a
entregar a cópia de todas as listagens de todas as pessoas que receberam
doses da Coronavac.
No despacho, a magistrada ressaltou que o
estado atravessa duas crises, uma decorrente da falta de oxigênio, que
já ceifou dezenas de vidas, e outra 'tão grave quanto, decorrente de
fortíssimos indícios de desvio da vacina que o governo federal enviou ao
Amazonas'.
"Trata-se de uma sucessão de ilícitos gravíssimos que
podem resultar em condenações criminais, responsabilização por atos de
improbidade, perda de cargos públicos e até de registros profissionais
em caso de pessoas que simularam ser de linha de frente com o intuito de
romper as regras atinentes às filas legalmente impostas. Até a presente
data, em nenhum outro município do país se teve notícia de tamanha
aberração", ponderou a juíza na decisão.
(Por:Estadão Conteúdo)
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