PROJETO
Ney Douglas / NJ
Dodora Cardoso ouve as músicas de Núbia desde quando era criança, por influência do pai
Potiguares criadas no Rio de Janeiro e apaixonadas pela música. As semelhanças entre Dodora Cardoso e Núbia Lafayette estarão ainda mais estreitas hoje na segunda edição do projeto “Caminhos do Elefante na MPB”, quando as duas cantoras se encontrarem no palco, unidas pela voz de Dodora e pelas canções de Núbia, falecida há oito anos. O tributo começa a partir das 20h30 no Teatro de Cultura Popular (TCP).
“Minha mãe roía demais pelo meu pai cantando muitas músicas de Núbia, quando eu ainda nem sabia que eram delas”, comenta Dodora, lembrando-se da primeira vez que ouviu Lafayette. “É muito bom roer, ave Maria! Eu adoro, e acho que a gente deve respeitar uma mulher dessa, deixar para roer com ela, e não com essa sofrência de hoje em dia”, defende.
Para o repertório hoje, Dodora garante que a ideia foi viajar pelos mais de 40 anos de trajetória musical de Núbia, condensados em cerca de vinte canções, entre elas “Devolvi”, “Coração Condenado”, “Aliança com filete de prata” e “Lama”, que a pequena Dodora ouviu pela primeira vez ainda criança, antes que seu pai falecesse, quando ela tinha seis anos.
“Eu ouvi muito Núbia por causa do meu pai também, Omar Cunha, que era esse cara incrível que tocava trombone de vara, fazia repentes e vivia cantando Núbia. Todas essas composições dela são muito fortes, mas Lama é realmente muito marcante para mim”, considera Dodora.
Muito embora nunca tenha participado de um dueto com Núbia, Dodora recorda que a cantora sempre foi bastante aclamada no Rio de Janeiro, e que precisou partir do sudeste para fazer sucesso na sua própria terra natal.
“É por isso que estou me doando por inteira para essa apresentação, porque as pessoas ainda precisam conhecer Núbia aqui. É como eu sempre costumo dizer, você até pode não morrer de amores pelo artista local, mas você precisa conhecer, e Núbia precisou explodir no Rio de Janeiro para chegar aqui e muitas pessoas mesmo hoje em dia ainda não sabem que ela é potiguar”, considera.
“E outra coisa: Núbia fez o seu nome em uma época sem nenhuma dessas facilidades, sem nem sequer uma escola federal de música em Natal, ou seja, ela já nasceu pronta”, considera sobre a cantora natural de Carnaubais, à época distrito de Assu, interior do estado, mas que se mudou com a família para o Rio de Janeiro quando tinha apenas três anos de idade.
O formato da apresentação de hoje também está sendo montado especialmente para a ocasião, quando Dodora estará acompanhada de Danilo Bass no contrabaixo, Márcio Ricelli na bateria, Andriew Williams no violão, Naldo no teclado e Luís Dantas no sax.
“Na verdade eu sempre gostei de cantar Núbia porque ela é nossa, né? Me lembro que fiz a abertura do show de Benito di Paula no Teatro Riachuelo ano passado e no meu repertório incluí algumas músicas de Núbia, mas recebi críticas porque as pessoas dizem que eu só cantava coisas desconhecidas... e é justamente por isso que me dá mais vontade de cantá-la, porque as pessoas precisam conhecer”, destaca.
Cantora canso e diz estar gravando seu último disco
Dodora Cardoso atualmente trabalha na produção de seu novo álbum, mas promete que este será o último. “Sabe por quê? Sou eu sozinha para tudo...tudo! Não tenho empresário, produtor ou qualquer coisa do tipo. Sou eu que corro atrás das minhas coisas, e não sei se terei mais força para essa batalha daqui há outros cinco anos”, explica a cantora de 57 anos.
Ainda sem título, o disco está sendo gravado desde agosto do ano passado, bancado inteiramente pela artista, e contando com a colaboração valiosa do multifacetado Jubileu Filho, parceiro antigo de Dodora Cardoso, e que assina a musicalidade de todos os seus outros seis álbuns anteriores.
A expectativa é de que o trabalho possa ser lançado em julho durante a Festa de Santana, em Caicó, cidade onde Dodora possui um grande público já que morou por lá durante muitos anos. “Muito embora seja daqui, só estou em Natal há dez anos tentando ganhar o meu espaço”, conta.
Entre as colaborações, composições inéditas de Valéria Oliveira, Luiz Antônio e de Khrystal, que assina, por exemplo, a animada “Casa de Mãe Joana”, gravada pela própria cantora em seu disco “Dois Tempos” (2012). “Khrystal fez Casa de Mãe Joana para mim em 48 horas!! Eu me arrepio todinha quando falo dessa música porque ela tem a minha cara mesmo, bem doidinha. Essa vai ser a primeira vez que vou incluir a música em um disco, mas já canto ela desde que Khrystal me deu”, afirma.
Ainda sobre o novo trabalho, Dodora adianta que o CD vai trazer as tradicionais releituras de sucessos nacionais, mas que, no entanto, está “80% recheado” com composições potiguares, um misto entre a “roedeira” que ela adora e as releituras que cabem à sua voz.
“São composições praticamente inéditas e que eu tive muito orgulho em gravar. O disco está oscilando entre a roedeira e a felicidade porque eu acho que a pessoa tem que roer, até feliz”, assegura a cantora que este ano ainda vai participar do Projeto Seis&Meia, abrindo o show de Tânia Alves no Teatro Alberto Maranhão no dia 28 de abril.
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