IMUNDÍCIE
Alessandra Bernardo
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Trabalhando em meio ao lixo, esgoto a céu aberto e moscas, os comerciantes da feira livre do conjunto Parque dos Coqueiros, na zona Norte de Natal, reivindicam a padronização urgente do comércio local. Eles revelam que já não suportam mais a situação e que mesmo após inúmeros cadastros realizados pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur), a melhoria nunca foi iniciada.
“Eu estou aqui há mais de 25 anos e perdi as contas de quantos cadastros fiz na Prefeitura, mas nunca realizaram nada, absolutamente nada, para melhorar a nossa situação. Continuamos trabalhando sem as mínimas condições de dignidade, limpeza e estrutura física, debaixo de sol e chuva, poeira, lama, insetos. Vivemos esperando uma melhoria que não chega nunca, mas que é extremamente necessária porque do jeito que é hoje, está insuportável”, desabafou a comerciante Antonieta Vieira.
Ela disse que o número de clientes vem diminuindo consideravelmente a cada ano e por causa disso já pensou em desistir de continuar trabalhando diversas vezes, principalmente depois que seu marido faleceu, há quatro meses. Para ela, se padronizassem a feira livre, os clientes se sentiriam melhores em frequentar o ambiente e retornariam.
“Dá uma tristeza muito grande pois não somos beneficiados em nada e também vontade de desistir mesmo, porque nós, da zona Norte, somos esquecidos e abandonados pelas autoridades municipais. Sem contar a falta de higiene e de segurança, já que raramente vemos policiais militares circulando por aqui, para tentar inibir os marginais. Outro incomodo grande são as moscas, principalmente onde há carnes e peixes”, falou.
O comerciante Bento Barros, que trabalha no local há 30 anos, é outro que já não suporta mais esperar pela padronização e pede urgência no processo de reestruturação da feira livre, que atende moradores de diversos bairros da zona Norte. Ele também reclamou da falta de higienização do local, onde é possível encontrar água servida correndo ao lado de carnes, peixes e vísceras de animais expostos para a venda.
“Precisamos trabalhar para sustentar as nossas famílias e, infelizmente, somos obrigados a suportar essas condições terríveis de insalubridade, de falta de limpeza e higiene e esgoto a céu aberto por falta de estrutura e padronização, que é o que tanto desejamos. Já cansei de esperar por uma melhoria bastante prometida, há muitos anos, mas que nunca é cumprida e onde os únicos prejudicados somos nós e os nossos clientes”, afirmou.
Falta de segurança incomoda
Outro problema bastante relatado pelos comerciantes e consumidores que freqüentam a feira livre do Parque dos Coqueiros é a insegurança e os constantes assaltos e furtos no local. Durante a manhã desta sexta-feira (17), três policiais militares estavam próximo à área onde são comercializados os alimentos perecíveis, mas na parte de roupas e itens domésticos, não havia nenhum.
“Foi um milagre muito grande, porque é muito raro ver policial militar aqui na feita. E quando eles vêm, passam pouco tempo, no máximo uma hora e vão embora. Enquanto isso, somos obrigados a conviver ainda com a violência, já que casos de assaltos, roubos e furtos são constantes e todo mundo aqui conhece alguém ou já foi alvo dos bandidos”, revelou Maria Fernandes.
O consumidor Amaury Cordeiro revelou que já foi assaltado enquanto fazia compras na feira e que é difícil encontrar policiais circulando pela área. Para ele, a padronização será importante não apenas para a organização e higienização, mas também para garantir tranquilidade para consumidores e comerciantes.
“Com certeza, as condições iriam melhorar 100% para todo mundo e nós, moradores da área aqui próxima, também seríamos beneficiados porque aumentaria a segurança geral. Queremos, desejamos há muitos anos por essa padronização, que não chega nunca, apesar de ser falada há bastante tempo”, desabafou.
Há quem prefira assim
Enquanto seus colegas e consumidores já não suportam mais esperar por melhorias na feira, o comerciante José Antônio disse preferir continuar do jeito que está, sem intervenção alguma no comércio. Para ele, é melhor trabalhar em bancas ao ar livre do que trancado em um box, por exemplo. Ele também já foi cadastrado várias vezes pelo município.
“Trabalho aqui há mais de 30 anos e posso dizer que me acostumei a isso tudo aqui. Para falar a verdade, acho até melhor, porque desse jeito, temos um espaço maior e mais ventilado para comercializar minhas verduras. Se ocorrer mesmo essa padronização, que prometem há vários anos, vai mudar tudo e teremos que ir para boxes menores, muitos serão ainda mais prejudicados”, afirmou.
Melhorias só saem em 2016
A tão sonhada padronização da feira livre do Parque dos Coqueiros está prevista para ocorrer somente no próximo ano, segundo explicou a chefe do Setor de Feiras da Semsur, Andrea de Paula. Ela disse que existe um projeto sendo estudado para uma possível organização da área, com a disponibilização de tendas com estruturas metálicas, lixeiras fixas, fiscalização da pasta, guardas municipais para a segurança das pessoas e apoio de agentes de trânsito.
“Já conseguimos retirar o comércio de alimentos que ficava em um terreno arenoso, completamente irregular, em atendimento a uma determinação do Ministério Público Estadual e estamos estudando a sua transferência para um local apropriado para sua instalação definitiva, no entanto, tudo isso só será possível a partir de 2016. E sobre a limpeza, durante a feira, há agentes da Urbana atuando até as 12h. Já quando o comércio acaba, uma equipe com 15 garis fazem os serviços, incluindo um caminhão-pipa”, explicou.
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