sábado, 18 de abril de 2015

Padre Fábio de Melo convidou artistas de diversas religiões e compôs sambas para seu novo CD, ‘Deus no esconderijo do verso’

NOVO CD
 
Padre Fábio de Melo lança disco com participação de grandes nomes da MPB Foto: Antônio José Marto Reis Clemente / Divulgação
Naiara Andrade

“Nem toda reza é santa/ nem todo escuro é breu/ Nem toda beleza encanta/ nem tudo que tenho é meu”. A estrofe de “Perfeita contradição”, interpretada por Padre Fábio de Melo e Fagner em “Deus no esconderijo do verso”, bem traduz o clima do novo CD do líder católico. Nele, Padre Fábio aproxima os extremos ao reunir cantores de diversas religiões como participações especiais e faz samba, gênero comumente relacionado ao profano, ao carnaval.

— Se você analisar os compositores seculares, vai perceber que eles fizeram muita música religiosa sem saber. Ouve o samba-canção “O mundo é um moinho”, de Cartola... Quer coisa mais religiosa do que essa? E as obras de Gilberto Gil e Gonzaguinha?! Eles não tiveram a pretensão do discurso religioso, mas suas palavras têm naturalmente essa aura, propõem valores. São muitos os sambas do mundo que se pode cantar dentro da igreja. Por que não levar a religião até o samba também? — contrapõe Padre Fábio, que na juventude chegou a trabalhar como carnavalesco de uma agremiação de Formiga, cidade mineira onde nasceu.


"Eu me prendo aos espiritualizados porque religião não é garantia de nada, pode ser um envólucro em que cabe hipocrisia, mentira, falsidade", diz Padre Fábio Foto: Antônio José Marto Reis Clemente / Divulgação

Zeca Pagodinho, sambista e umbandista, canta com o padre na faixa “Amigo onde Deus é”. E usa os versos de “Se é pecado sambar”, clássico na voz de Beth Carvalho, para dar seu veredicto: “É legal ter um padre cantando samba porque ‘se sambar é pecado, Deus queira me perdoar’”. Candomblecista, Nana Caymmi faz dueto com Fábio de Melo na faixa-título do disco. A espírita Alcione, em “Sobre ganhar e perder”. Elba Ramalho e Fafá de Belém, católicas fervorosas, soltam a voz em “Oculto e revelado” e “O tempo não espera ninguém”, respectivamente. E Ninah Jo, adepta declarada da numerologia, em “Nós num só mundo”. O lançamento mostra-se, portanto, uma celebração ecumênica.

— Sei que são todos gente do bem, pessoas de caráter admirável. Isso, para mim, é o que prevalece. Embora rezemos em altares diferentes, professamos valores muito semelhantes. Por isso os quis no disco comigo — afirma o anfitrião, que, no entanto, não fez os convites pessoalmente: — É desconfortável abordar diretamente o outro artista, sobretudo quando o assunto é música. Acho que a pessoa tem que ter o direito de dizer não. Aí, através do produtor (José Milton) ficou mais fácil.


“Não tenho que ter medo da evidência, apenas cuidado com o modo como sou evidenciado”, diz o padre sobre fama
“Não tenho que ter medo da evidência, apenas cuidado com o modo como sou evidenciado”, diz o padre sobre fama Foto: Antônio José Marto Reis Clemente / Divulgação

Das 14 faixas do CD, dez são inéditas, de autoria de Padre Fábio de Melo. As quatro restantes são regravações: “O vendedor de sonhos” e “Para eu parar de me doer” (Milton Nascimento/Fernando Brant), “Estrela luminosa” (Altay Veloso) e “Paciência” (Lenine/Dudu Falcão).

— Acredito nas letras dessas músicas. O que faz um bom compositor é sua espiritualidade, é o tanto que ele tem de alma. Eu me prendo aos espiritualizados porque religião não é garantia de nada, pode ser um envólucro em que cabe hipocrisia, mentira, falsidade — explica o padre.


Padre Fábio de Melo vai a uma barbearia pela primeira vez na vida, acompanhado por Angélica, no “Estrelas”
Padre Fábio de Melo vai a uma barbearia pela primeira vez na vida, acompanhado por Angélica, no “Estrelas” Foto: Felipe Monteiro/ GShow / Divulgação

Fã ardoroso de MPB desde criança, Fábio de Melo já se considera parte integrante dela.
— Depois desse disco eu posso tudo, né? Olha o time reunido! — brinca: — Agora, falando sério, esse trabalho me abre uma porta muito especial, faz muita diferença entrar por ela.

Padre e cantor, artista de sucesso, ele não se esconde dos holofotes. Há pouco mais de uma semana, por exemplo, gravou participação no “Estrelas”, programa sobre a vida de famosos (o quadro ainda não tem data para ir ao ar).

— Todo e qualquer veículo de comunicação em que eu tenha a oportunidade de expor os valores em que creio são benéficos, ainda que o nome do programa possa parecer contrário à minha opção de vida. Não tenho que ter medo da evidência, apenas cuidado com o modo como sou evidenciado — detalha o religioso, que na ocasião passeou num carro antigo com a apresentadora e fez a barba pela primeira vez numa barbearia: — Nunca tinha ido porque tenho pavor de navalha. Meu pai era barbeiro, eu o via trabalhar com lâmina e me dava um nervoso! Gostei da experiência, mas continua sendo um pouco agonizante.

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