TRANSTORNOS
Alessandra Bernardo
alessabsl@gmail.com
As condições enfrentadas atualmente pela Saúde Mental no Rio Grande do Norte têm provocado uma série de problemas para os familiares dos usuários que necessitam de atenção e cuidados psiquiátricos. Relatos de falta de vagas, de superlotação de enfermarias e precariedade da urgência e emergência do Hospital João Machado são constantes e aumentam a preocupação da aposentada Lindalva Sotero, que têm dois filhos com transtornos mentais.
“Meus filhos sofrem de esquizofrenia e praticamente não têm mais nenhum momento lúcido, possuem comportamento agressivo e eu não tenho a mínima condição de morar com eles ou mesmo deles morarem sozinhos, por causa do transtorno. A única alternativa é mantê-los internado. Graças a Deus, hoje eles estão no Hospital Severino Lopes, onde são bem tratados, apesar das dificuldades que o hospital enfrenta há algum tempo”, desabafou ela.
A situação é a mesma para a aposentada Severina Alves, tem um filho esquizofrênico desde a infância e que vive em constantes internações. “Já cheguei a passar 12 dias numa fila para conseguir uma vaga e vivi muita humilhação e sofrimento dentro de hospitais. A última vez que ele ficou internado no João Machado, passou quase duas semanas, mas teve que sair e foi encaminhado para o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que não é adequado para esse tipo de atendimento”, afirmou.
Segundo um dos coordenadores do Sindicato dos Servidores da Saúde do Rio Grande do Norte (Sindsaúde/RN), Paulo Martins, numa rápida visita às dependências do Hospital João Machado, no Tirol, ele constatou enfermarias lotadas, com usuários internados em leitos improvisados no chão e os pacientes no setor de urgência e emergência todos instalados em grande cômodo com apenas um banheiro, sem privacidade.
“Não é um acolhimento adequado para um paciente com transtorno mental. Os espaços do pronto-socorro deveriam receber no máximo dez pessoas, mas há relatos de mais de 30 pacientes juntos, o que gera uma situação de perigo para eles próprios, familiares, amigos e os servidores do hospital, principalmente em um caso de surto emocional. E a falta de vagas faz com que muitos sejam encaminhados para o Caps em pleno surto, para um atendimento paliativo apenas”, explicou.
Para o presidente da Associação dos Amigos e Familiares dos Doentes Mentais do Estado, Ailton Torres, eles só pedem um tratamento e internação dignos. “São seres humanos também, como eu e você, que precisam de condições de qualidade para poderem evoluir e terem mais qualidade de vida”, falou.
Severino Lopes luta para aumentar valor da diária
Apesar do aumento da demanda por tratamentos psiquiátricos, o Rio Grande do Norte enfrenta hoje uma diminuição dos serviços ambulatoriais e hospitalares, causados principalmente pelo não cumprimento da Lei 10.216/2001, que versa sobre a garantia de tratamentos para os portadores de transtornos mentais e a quantidade de serviços oferecidos à população. No final de 2014, o setor sofreu novo baque com a suspensão dos atendimentos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) pelo Hospital Psiquiátrico Severino Lopes, fundado há 58 anos no bairro do Tirol.
Desde outubro passado, a direção luta para conseguir complementar o valor das diárias, dos atuais R$ 43,73 para, no mínimo, R$ 120. Conforme estudos realizados pela unidade, o atual custo de uma diária no Hospital é de R$ 261,00. No entanto, a última contraproposta apresentada pela Prefeitura de Natal foi para R$ 61,22, ou seja, um complemento de apenas 40%. Segundo o diretor administrativo do Severino Lopes, Cláudio Lopes, é insuficiente para a sobrevivência do hospital e que, em função da crise financeira, foi necessário fazer empréstimos junto a Caixa Econômica Federal, cujo débito é descontado justamente no repasse feito pelo SUS.
“O valor continua muito aquém da nossa realidade e isso está prejudicando a quantidade e a qualidade dos serviços prestados à população, que estão completamente defasados e insuficientes para atender a todos que desenvolvem algum sintoma psicótico ou transtorno mental. Lutando para que as pessoas tenham direito a um tratamento digno e adequado, com acesso aos serviços essenciais para a melhoria de vida do usuário. Oferecemos seis refeições, medicamentos e o tratamento com médicos, terapeutas, enfermeiros, psicólogos, e demais profissionais”, explicou.
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