Nadjara Martins
Repórter Tribuna do Norte

Embora o grupo Latiam tenha desmentido, na última quinta-feira (28), que Fortaleza já teria sido escolhida como sede do próximo centro de conexões áreas (hub) da companhia, o burburinho pode servir de alerta para o Rio Grande do Norte. Na última semana, Fortaleza e Recife, que disputam com Natal a chance de sediar o investimento de R$ 4 bilhões, movimentaram as peças do jogo. O Ceará conseguiu entrar, de última hora, dentro do pacote de concessões de aeroportos do Governo Federal, a ser lançado em 9 de junho. Já a capital pernambucana se equiparou às rivais ao decretar a redução da cobrança tributária sobre o combustível das companhias aéreas. O RN retomou as obras de apenas um dos acessos ao aeroporto de São Gonçalo do Amarante.

Até o início desta semana, o aeroporto potiguar poderia congratular-se como o único do Nordeste de administração privada. Ceará e RN também estavam a frente por terem reduzido a cobrança do ICMS sobre o querosene de aviação. O combustível representa 40% dos custos das companhias.

Na análise do ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, para o RN tomar a dianteira da disputa é preciso correr com obras de mobilidade e infraestrutura. Os acessos ao aeroporto, assim como uma conexão ferroviária centro-terminal foram apresentadas como primordiais pela TAM em reunião a portas fechadas, no Palácio do Planalto. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, o ministro delineia o cenário de desafios a serem enfrentados pelo o RN até dezembro deste ano. Confira:

Como Natal-São Gonçalo podem se diferenciar nesta disputa?
No dia 21, levei a presidente da TAM, Claudia Sendes, e o presidente do conselho da Latam, Marco Antonio Bologna, em uma audiência com a presidente da República e o ministro da Aviação, Eliseu Padilha. Eles foram expor à presidente todo esse projeto, importante para o desenvolvimento regional por sair do eixo Rio-São Paulo-Brasília e viabiliza isso para o Nordeste brasileiro. Foi uma reunião de 1h30 em que eles colocaram todos os requisitos necessários, o que vai definir a decisão e porque eles trouxeram isso para o Brasil. Para mim, um diferencial é termos o combustível produzido a 150 quilômetros do aeroporto.

Um dos pleitos poderia ser a redução do preço do combustível no RN, em detrimento do preço em PE e CE?

Sim, esta é uma decisão técnica da Petrobrás, temos que ter cuidado, mas é um caminho que podemos perseguir de maneira cautelosa. Outra questão a ser abordada, segundo as prioridades da TAM, são os acessos do aeroporto. O governador já assegurou que até dezembro entrega o Norte (BR-406), e temos que viabilizar o sul (BR-304), que é tão ou mais importante que o outro para quem quer ser hub. Na nossa competição com Recife e Fortaleza temos que tentar soluções criativas. Por exemplo, eles querem uma ligação férrea do centro ao aeroporto. Nós temos o VLT que está indo até Parnamirim e Zona Norte, mas precisamos viabilizar até o aeroporto. Temos outra questão: eles têm pilotos em hotéis em Natal que demoram 1h20 no deslocamento até o terminal. Quando tivermos um hub de conexões ao mundo inteiro, precisamos ter uma rede hoteleira nas proximidades. Já estamos viabilizando junto à Inframérica como resolver este item.

Há tempo hábil para viabilizar o acesso, a via férrea…?

Um acesso só não resolve, a TAM já deixou isso bem claro, tem que ter os dois. O governador já afirmou que até dezembro teremos o norte, a TAM precisa desta segurança. Mas pelo tamanho do hub precisamos do outro. Temos que ver com a Inframérica o que ela pode pensar em recursos como viabilizar.

O que preocupa com relação às outras capitais?

Me preocupa que haverá um pacote no dia 9 de junho de novas concessões de infraestrutura, muito importante para a economia, e serão três aeroportos nesta modelagem. O primeiro, é importante que se diga, que conquistamos foi o do Rio Grande do Norte. Agora virão Porto Alegre, Salvador e Florianópolis, e houve uma pressão muito grande para que Recife e Fortaleza entrassem. A decisão era que somente entrariam se fossem escolhidos como hub. Agora, na reunião, a presidente anunciou que Fortaleza entrou nas privatizações, e é o que me preocupa. Era o nosso trunfo. Então, a deficiência que eles tinham será eliminada. 

Foi questão de articulação política?

Por coincidência o governador (do Ceará) esteve na véspera com a presidente. Mesmo assim, ainda temos como reivindicar, pois Ceará tem o porto de Pecém e vai ganhar uma siderúrgica, e Pernambuco o de Suape, e a refinaria. Não podem estes estados continuarem crescendo e a gente aqui, é preciso ter um olhar diferenciado para os estados médios. O RN precisa alcançar um patamar de desenvolvimento condizente com a sua história e sonhos.

A desoneração do ICMS sobre o querosene de aviação ainda pode ser considerada um diferencial?

Veja bem, o RN agora que se igualou ao Ceará, que já dava há mais de um ano, só entramos no patamar que outros já estavam. Apenas nivelou. Foi importante porque se não nem estaríamos sendo considerados. Agora há outras coisas para resolver. Sem acesso não há hub, e há a linha de trem. Pretendo tratar com a CBTU nos próximos dias para viabilizar esse projeto e a própria estrutura do aeroporto.

Como o senhor avalia a estrutura do aeroporto?

Um estado que tem um aeroporto como aquele está mostrando um cartão de visita. É o mais moderno do Brasil. É a única pista em comprimento e largura que tem capacidade para receber o A380, um avião com capacidade para transportar 800 passageiros. Com esta pista, estamos mostrando nossa disponibilidade para crescer. O momento é que cada um fazer o seu dever de casa, poderíamos disputar e ganhar o maior investimento dos próximos 50 anos, com tamanha força de desenvolvimento. 

Cabe alguma iniciativa de melhoria pelo trade turístico?

Depois do encontro com os prefeitos, pretendo fazer uma reunião entre o trade turístico e a TAM. Esta questão não pode ser emocionalizada e politizada, precisamos mostrar que o interesse é de todo o RN. 

O turismo pode ser uma saída de crescimento para o Brasil neste ano de ajuste fiscal?

Sem dúvida o turismo não pode ser relegado a segundo plano. Ele precisa constar na agenda econômica do país, ele participa com quase 4% do PIB nacional. É um dado muito significativo. Ele atende 52 segmentos da economia brasileira e gera 6 milhões de empregos diretos e indiretos. Neste momento de Olimpíada chegando é preciso fortalecer. Estamos em um momento bom, que é o dólar alto: ruim para quem quer viajar para fora, bom para que as pessoas venham gastar aqui dentro. Essa encruzilhada está a nosso favor. Este deve ser o vetor da economia que deve gerar mais rápido emprego e renda, e que atinge facilmente todas as camadas sociais. Do taxista, garçom, dono de pousada, todos os seguimentos estão envolvidos. Mas precisamos nos mostrar assim, ter força política para isso. 

Quais os planos para a pasta?

Penso em transformar a Embratur em uma agência e, como a Apex, capaz de ir em busca de patrocínio. Também pretendo criar áreas especiais de turismo, com uma legislação própria. Cancun é um exemplo: são 15 quilômetros de praia que, no ano passado, gerou 14 bilhões de dólares para o México, o dobro do turismo no Brasil. Estou pensando em ter no Brasil algumas Cancuns, áreas que pudéssemos ter um tratamento diferenciado para os investimentos brasileiros. Pretendo levar isso ao Congresso Nacional, é um projeto a médio e longo prazo que pretendo desenvolver.

Investimento na aviação e turismo regional é uma saída?

Sim, investimento na rede hoteleira regional é importante. É preciso também mudar o perfil turístico além de sol, praia e mar. Há várias práticas para interiorizar o turismo e mostrar ao Brasil coisas as pessoas não conhecem. Mas para ampliar esse turismo é preciso ter hotel regional, aeroporto regional, e para isso é preciso ter a congruência do governo para destravar a burocracia; além da segurança pública. O turismo não vai para um lugar se não tiver a segurança do seu destino, e os municípios podem ajudar. A cidade precisa fazer a sua parte da iluminação pública, limpeza e nos acessos. É preciso ter equipamentos turísticos para não só trazer o turista, mas fazer ele ficar aqui, buscar com criatividade uma forma de fazer.

Há novos convênios do Mtur para o RN?

Sim, há dois: um deles para o Museu da Rampa, que precisa ser finalizado. E há também o de R$ 30 milhões para a reforma do Centro de Convenções, que não começou. Na hora da competição, tudo isso pesa, seja para cima ou para baixo.

Quem é

Henrique Eduardo Alves é o atual Ministro do Turismo. Deputado federal por 42 anos, presidiu, até 2014, a Câmara dos Deputados.
Programação
Motores
Data: 8 de junho
Horário: 8h
Local: Versailles Recepções, no Cidade Jardim
8h – Pronunciamentos de autoridades
9h – Palestra”O destino Natal, diferenciais e gargalos como produto turístico”, com Claiton Aemelim, diretor de produtos nacionais da CVC Viagens:
10h – Palestra “Hub doméstico da TAm em Brasília: como opera e o que mudou no aeroporto e na cidade”, com José Luís Menghini, presidente do Consórcio Inframérica
11h – Debate medidado pelo presidente da Fecomercio, Marcelo Queiroz
12h – Palestra “Turismo como negócio: perspectivas e desafios do setor no contexto econômico nacional”, com o econominsta Alexandre Schwartsman

fonte: visor político