PLANO DIRETOR NO AR
Com a revisão do Plano Diretor de Natal os grandes corredores de
transporte da capital potiguar poderão se tornar peça chave para o
desenvolvimento e crescimento ordenado da cidade, de modo a acolher mais
moradores com a infraestrutura já existente. A ideia de liberar a
construção de grandes prédios nessas áreas foi apresentada pelo
Secretário de Planejamento da Semurb (Secretaria de Meio Ambiente e
Urbanismo), Thiago Mesquita, em audiência na Câmara Municipal e pelo
prefeito Álvaro Dias em sessão extraordinária, na semana passada, também
na Câmara.
Em São Paulo, esse modelo foi aprovado durante a revisão do Plano
Diretor de lá em 2014, quando se permitiu que áreas próximas a
corredores de ônibus e estações de metrô nas zonas Oeste, Leste e Sul
fossem adensadas e permitida a verticalização das regiões, onde antes
eram casas e sobrados. Essas vias ficaram sendo chamadas de Eixo de
Estruturação e Transformação Urbana.
“A cidade de Natal é uma cidade horizontal e é um erro grave cometido
do Plano Diretor porque Natal deveria ter ao longo dos seus principais
corredores uma verticalização com a construção de vários prédios”, disse
o prefeito Álvaro Dias. A justificativa é de que, com isso, as pessoas
não precisarão morar em municípios vizinhos e, assim, possam ficar perto
dos seus empregos, escolas dos filhos, hospitais e onde já existe uma
infraestrutura adequada. “Com saneamento, esgoto, asfalto. Se temos
isso, porque expulsar daqui para as cidades vizinhas, se podemos
construir edifícios e abrigar as pessoas?”, questionou o prefeito.
A ideia defendida por Álvaro é aprovada pelo professor da UFRN,
Rubens Ramos, especialista em transporte e mobilidade. Ele diz que este é
o modelo ideal para crescer a cidade com foco na mobilidade. “É o
conceito correto. O impacto é positivo porque, se adensar os eixos, há
melhor distribuição do movimento e ajuda a até a
descongestionar. Curitiba foi a primeira capital a fazer isso e teve um
crescimento de edifícios de forma organizada”, diz o professor.
Em Natal, corredores como as Avenidas Salgado Filho, Hermes da
Fonseca, Bernardo Vieira, Prudente de Morais, Romualdo Galvão, Roberto
Freire, Mor Gouveia, João Medeiros Filho e Itapetinga, são algumas
passíveis de sofrerem essas intervenções. Nesse modelo, diz o professor,
o crescimento da cidade deixa de ser por bairros como está definido no
atual Plano Diretor, mas se estende a todas as regiões ao mesmo tempo,
priorizando os corredores urbanos.
“Natal preferiu crescer por bairros e os prédios ficaram espalhados. O
efeito é de reduzir os fluxos da cidade. Acredito que, se tivesse
adotado esse conceito em 2007 não haveria o bairro de Nova Parnamirim.
Para comparar, se a Bernardo Vieira fosse adensada, pessoas que precisam
cruzar esta via para trabalhar, estudar, não precisaria mais, reduzindo
a concentração do trânsito em direção à zona Norte, por exemplo, em
horário de pico”, compara o professor.
Contudo, não se pode garantir que as pessoas que precisam se
locomover diariamente de outras áreas poderiam comprar imóveis nesses
corredores. Neste sentido, o professor Rubens explica que não se deve
apenas verticalizar, mas que os imóveis precisam ter um padrão viável
para esta classe de pessoas. “São Paulo adotou esses conceitos e
aumentou a quantidade de pequenos apartamentos e sem garagem nos eixos.
Hoje se obriga a ter garagem, nesse modelo de adensamento não é
obrigado. Para tanto, entendo que precisa viabilizar o potencial de
construção pelo menos cinco vezes a área do terreno, assim se consegue
vender mais barato e atingir essa população, como ocorreu em Nova
Parnamirim”, sugere. Com mais pessoas concentradas perto dos eixos de
mobilidade, como ocorreu em São Paulo graças à oferta dde imóveis
acessíveis à classe trabalhadora, e sem a necessidade de estacionamentos
nos prédios, diz o professor, vai se exigir mais investimento do poder
público no transporte de massa e em novos modais de transporte,
beneficiando a mobilidade urbana da cidade.
(Por Cláudio Oliveira/Portal no Ar)
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