quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Plano Diretor: Corredores de transporte podem se transformar em áreas de crescimento urbano. Grandes capitais adotaram modelo de ocupação urbana

PLANO DIRETOR NO AR
 

Com a revisão do Plano Diretor de Natal os grandes corredores de transporte da capital potiguar poderão se tornar peça chave para o desenvolvimento e crescimento ordenado da cidade, de modo a acolher mais moradores com a infraestrutura já existente. A ideia de liberar a construção de grandes prédios nessas áreas foi apresentada pelo Secretário de Planejamento da Semurb (Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo), Thiago Mesquita, em audiência na Câmara Municipal e pelo prefeito Álvaro Dias em sessão extraordinária, na semana passada, também na Câmara.

Em São Paulo, esse modelo foi aprovado durante a revisão do Plano Diretor de lá em 2014, quando se permitiu que áreas próximas a corredores de ônibus e estações de metrô nas zonas Oeste, Leste e Sul fossem adensadas e permitida a verticalização das regiões, onde antes eram casas e sobrados. Essas vias ficaram sendo chamadas de Eixo de Estruturação e Transformação Urbana.

“A cidade de Natal é uma cidade horizontal e é um erro grave cometido do Plano Diretor porque Natal deveria ter ao longo dos seus principais corredores uma verticalização com a construção de vários prédios”, disse o prefeito Álvaro Dias. A justificativa é de que, com isso, as pessoas não precisarão morar em municípios vizinhos e, assim, possam ficar perto dos seus empregos, escolas dos filhos, hospitais e onde já existe uma infraestrutura adequada. “Com saneamento, esgoto, asfalto. Se temos isso, porque expulsar daqui para as cidades vizinhas, se podemos construir edifícios e abrigar as pessoas?”, questionou o prefeito.

A ideia defendida por Álvaro é aprovada pelo professor da UFRN, Rubens Ramos, especialista em transporte e mobilidade. Ele diz que este é o modelo ideal para crescer a cidade com foco na mobilidade. “É o conceito correto. O impacto é positivo porque, se adensar os eixos, há melhor distribuição do movimento e ajuda a até a descongestionar. Curitiba foi a primeira capital a fazer isso e teve um crescimento de edifícios de forma organizada”, diz o professor.

Em Natal, corredores como as Avenidas Salgado Filho, Hermes da Fonseca, Bernardo Vieira, Prudente de Morais, Romualdo Galvão, Roberto Freire, Mor Gouveia, João Medeiros Filho e Itapetinga, são algumas passíveis de sofrerem essas intervenções. Nesse modelo, diz o professor, o crescimento da cidade deixa de ser por bairros como está definido no atual Plano Diretor, mas se estende a todas as regiões ao mesmo tempo, priorizando os corredores urbanos.

“Natal preferiu crescer por bairros e os prédios ficaram espalhados. O efeito é de reduzir os fluxos da cidade. Acredito que, se tivesse adotado esse conceito em 2007 não haveria o bairro de Nova Parnamirim. Para comparar, se a Bernardo Vieira fosse adensada, pessoas que precisam cruzar esta via para trabalhar, estudar, não precisaria mais, reduzindo a concentração do trânsito em direção à zona Norte, por exemplo, em horário de pico”, compara o professor.

Contudo, não se pode garantir que as pessoas que precisam se locomover diariamente de outras áreas poderiam comprar imóveis nesses corredores. Neste sentido, o professor Rubens explica que não se deve apenas verticalizar, mas que os imóveis precisam ter um padrão viável para esta classe de pessoas. “São Paulo adotou esses conceitos e aumentou a quantidade de pequenos apartamentos e sem garagem nos eixos. Hoje se obriga a ter garagem, nesse modelo de adensamento não é obrigado. Para tanto, entendo que precisa viabilizar o potencial de construção pelo menos cinco vezes a área do terreno, assim se consegue vender mais barato e atingir essa população, como ocorreu em Nova Parnamirim”, sugere. Com mais pessoas concentradas perto dos eixos de mobilidade, como ocorreu em São Paulo graças à oferta dde imóveis acessíveis à classe trabalhadora, e sem a necessidade de estacionamentos nos prédios, diz o professor, vai se exigir mais investimento do poder público no transporte de massa e em novos modais de transporte, beneficiando a mobilidade urbana da cidade.

(Por Cláudio Oliveira/Portal no Ar)

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