sábado, 4 de julho de 2020

Cientistas dizem que reabrir comércio no Rio Grande do Norte foi “equívoco.” Em boletim publicado nesta sexta-feira (3), integrantes do Comitê Científico do Consórcio Nordeste disseram não entender quais critérios embasaram autorização dada pelo Governo do Estado e pela Prefeitura do Natal para que as atividades econômicas pudessem ser retomadas esta semana. Pesquisadores se dizem, ainda, preocupados com interiorização do coronavírus

PANDEMIA
 
 Comércio popular do Alecrim teve grande circulação esta semana, logo após Governo do Estado e Prefeitura do Natal relaxarem medidas de isolamento social

O Comitê Científico do Consórcio Nordeste criticou o relaxamento do isolamento social no Rio Grande do Norte. Um documento publicado nesta sexta-feira (3) pelos cientistas avalia como “equívoco” a autorização para retomada das atividades econômicas no Estado.

Os pesquisadores recomendam a adoção de “lockdown”, ou seja, um isolamento mais rígido, em todo o Estado, bem como o fechamento intermitente das divisas com o Ceará e a Paraíba.

No boletim, os cientistas ressaltam os resultados positivos da imposição de “lockdown” em cidades como São Luís (MA), Recife (PE) e Fortaleza (CE).

Mas afirmam que, apesar de ter ocorrido uma redução temporária nas taxas de ocupação hospitalar, as capitais poderão se deparar com uma avalanche de casos graves de Covid-19 vindos do interior, produzindo nova sobrecarga no sistema de saúde.

“De qualquer maneira, com um crescimento de casos da ordem de 71% em 14 dias, taxa de ocupação de leitos de UTI no máximo (100%) ou próximo disso, este comitê não consegue entender quais critérios epidemiológicos e clínicos têm sido usados pelo comitê científico local, apoiado pelo governo estadual, bem como a Prefeitura do Natal, para justificar uma reabertura, mesmo que gradual, de lojas e outras atividades econômicas na capital do Estado”, traz o boletim, que é presidido pelo médico e neurocientista Miguel Nicolelis.

Segundo o Comitê Científico do Nordeste, o afrouxamento do isolamento social não pode ser feito em locais com fator de reprodução (Rt) acima de 1 e que tenham taxa de ocupação de leitos acima de 80% (enfermaria ou de UTI). Atualmente, o Rio Grande do Norte tem a taxa de reprodução de 1,34.

Ou seja, 100 pessoas infectadas podem transmitir o novo coronavírus para 134 pessoas.

“O afrouxamento só pode ser cientificamente justificado por um Rt sensivelmente abaixo de 1, com curvas de casos e óbitos apresentando quedas consistentes e de grande monta por mais de 14 dias, e com uma taxa de ocupação de leitos ao redor de 70%”, reforça o comitê científico.

Os cientistas também se mostram preocupados com a interiorização dos casos de Covid-19 no Rio Grande do Norte. As maiores taxas de reprodução da doença estão concentradas em cidades da Região Metropolitana (Parnamirim, Macaíba e São Gonçalo do Amarante), da Região Oeste (Mossoró e Apodi) e da Região do Seridó (Caicó).

A análise feita pelo colegiado no dia 29 de junho comprova que a pandemia de coronavírus atingiu todas as regiões do Estado. As cinco cidades identificadas como tendo o maior crescimento de casos estão distribuídas por todo o território estadual: Extremoz (Grande Natal), Guamaré (Litoral Norte), Mossoró (Oeste), Jucurutu (Seridó) e Tibau do Sul (Litoral Sul).

O grupo liderado por Miguel Nicolelis também critica o Governo do Estado por não disponibilizar um representante para o Comitê. Em maio, o coordenador de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais) da UFRN, cientista Ricardo Valentim, anunciou o seu afastamento grupo nordestino.

“Infelizmente, a contínua ausência de um representante oficial do Rio Grande do Norte no nosso comitê eliminou a comunicação direta com o governo do estado potiguar, algo que lamentamos profundamente”, aponta o organismo.

Sem comunicação, o Comitê Nordeste diz não ter acesso a qualquer informação sobre a realização de inquéritos soroepidemiológicos no estado.

O boletim técnico recomenda a “completa reversão do plano de relaxamento (ou flexibilização)” oferecido pelo comitê local do governo do Rio Grande do Norte e da Prefeitura do Natal. Segundo os cientistas, com ocupação máxima de leitos de UTI em Natal e Mossoró, não é concebível que qualquer tipo de afrouxamento do isolamento seja iniciado.

Além disso, o comitê recomenda que se estabeleça um programa estadual de testagem, para realização de múltiplos inquéritos soroepidemiológicos.

O documento também sugere que o governo estadual e a Prefeitura do Natal adotem barreiras sanitárias ao longo das entradas da cidade, principalmente a partir da rodovia BR-101, nos trechos Sul (acesso João Pessoa) e Norte (acesso para Litoral Norte).

“Este Comitê continua vendo com extrema preocupação qualquer iniciativa de relaxamento social (…) que não se baseie nos critérios estabelecidos pela OMS”, afirma o estudo.


(Por:AgoraRN)

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