PANDEMIA
Comércio popular do Alecrim teve grande circulação esta semana, logo
após Governo do Estado e Prefeitura do Natal relaxarem medidas de
isolamento social
O Comitê Científico do Consórcio Nordeste criticou o relaxamento do
isolamento social no Rio Grande do Norte. Um documento publicado nesta
sexta-feira (3) pelos cientistas avalia como “equívoco” a autorização
para retomada das atividades econômicas no Estado.
Os pesquisadores recomendam a adoção de “lockdown”, ou seja, um
isolamento mais rígido, em todo o Estado, bem como o fechamento
intermitente das divisas com o Ceará e a Paraíba.
No boletim, os cientistas ressaltam os resultados positivos da
imposição de “lockdown” em cidades como São Luís (MA), Recife (PE) e
Fortaleza (CE).
Mas afirmam que, apesar de ter ocorrido uma redução temporária nas
taxas de ocupação hospitalar, as capitais poderão se deparar com uma
avalanche de casos graves de Covid-19 vindos do interior, produzindo
nova sobrecarga no sistema de saúde.
“De qualquer maneira, com um crescimento de casos da ordem de 71% em
14 dias, taxa de ocupação de leitos de UTI no máximo (100%) ou próximo
disso, este comitê não consegue entender quais critérios epidemiológicos
e clínicos têm sido usados pelo comitê científico local, apoiado pelo
governo estadual, bem como a Prefeitura do Natal, para justificar uma
reabertura, mesmo que gradual, de lojas e outras atividades econômicas
na capital do Estado”, traz o boletim, que é presidido pelo médico e
neurocientista Miguel Nicolelis.
Segundo o Comitê Científico do Nordeste, o afrouxamento do isolamento
social não pode ser feito em locais com fator de reprodução (Rt) acima
de 1 e que tenham taxa de ocupação de leitos acima de 80% (enfermaria ou
de UTI). Atualmente, o Rio Grande do Norte tem a taxa de reprodução de
1,34.
Ou seja, 100 pessoas infectadas podem transmitir o novo coronavírus para 134 pessoas.
“O afrouxamento só pode ser cientificamente justificado por um Rt
sensivelmente abaixo de 1, com curvas de casos e óbitos apresentando
quedas consistentes e de grande monta por mais de 14 dias, e com uma
taxa de ocupação de leitos ao redor de 70%”, reforça o comitê
científico.
Os cientistas também se mostram preocupados com a interiorização dos
casos de Covid-19 no Rio Grande do Norte. As maiores taxas de reprodução
da doença estão concentradas em cidades da Região Metropolitana
(Parnamirim, Macaíba e São Gonçalo do Amarante), da Região Oeste
(Mossoró e Apodi) e da Região do Seridó (Caicó).
A análise feita pelo colegiado no dia 29 de junho comprova que a
pandemia de coronavírus atingiu todas as regiões do Estado. As cinco
cidades identificadas como tendo o maior crescimento de casos estão
distribuídas por todo o território estadual: Extremoz (Grande Natal),
Guamaré (Litoral Norte), Mossoró (Oeste), Jucurutu (Seridó) e Tibau do
Sul (Litoral Sul).
O grupo liderado por Miguel Nicolelis também critica o Governo do
Estado por não disponibilizar um representante para o Comitê. Em maio, o
coordenador de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais) da UFRN, cientista
Ricardo Valentim, anunciou o seu afastamento grupo nordestino.
“Infelizmente, a contínua ausência de um representante oficial do Rio
Grande do Norte no nosso comitê eliminou a comunicação direta com o
governo do estado potiguar, algo que lamentamos profundamente”, aponta o
organismo.
Sem comunicação, o Comitê Nordeste diz não ter acesso a qualquer
informação sobre a realização de inquéritos soroepidemiológicos no
estado.
O boletim técnico recomenda a “completa reversão do plano de
relaxamento (ou flexibilização)” oferecido pelo comitê local do governo
do Rio Grande do Norte e da Prefeitura do Natal. Segundo os cientistas,
com ocupação máxima de leitos de UTI em Natal e Mossoró, não é
concebível que qualquer tipo de afrouxamento do isolamento seja
iniciado.
Além disso, o comitê recomenda que se estabeleça um programa estadual
de testagem, para realização de múltiplos inquéritos
soroepidemiológicos.
O documento também sugere que o governo estadual e a Prefeitura do
Natal adotem barreiras sanitárias ao longo das entradas da cidade,
principalmente a partir da rodovia BR-101, nos trechos Sul (acesso João
Pessoa) e Norte (acesso para Litoral Norte).
“Este Comitê continua vendo com extrema preocupação qualquer
iniciativa de relaxamento social (…) que não se baseie nos critérios
estabelecidos pela OMS”, afirma o estudo.
(Por:AgoraRN)
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