CASO HENRY
Henry BorelRio - Os oito peritos criminais que assinam o laudo da reprodução
simulada da morte do menino Henry Borel Medeiros, de apenas quatro anos,
usaram quatro estudos internacionais para provar que as 23 lesões
encontradas no corpo da criança não podem ter sido caudas por queda
decorrente de acidente doméstico. Essa versão havia sido contada pela
mãe de Henry, Monique Medeiros, e o padrasto da vítima, vereador
Jairinho, presos suspeitos de homicídio.
Através da análise do
laudo, dos depoimentos e das pesquisas, os especialistas concluíram, com
convicção, que todos ferimentos citados na necropsia "apresentavam
características condizentes com aquelas produzidas mediante ação
violenta (homicídio)", de acordo com o documento que O DIA
teve acesso. Eles ainda afirmam, no laudo, que o crime aconteceu no
interior do apartamento de Jairinho, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do
Rio, entre 23h30 do dia 7 de março e 3h30 do dia 8.
O artigo
"Pediatric short-distance household falls: biomechanics and associated
injury severity" (Quedas domiciliares pediátricas de curta distância:
biomecânica e gravidade da lesão associada) (THOMPSON et al., 2011),
concluiu, por exemplo, que crianças de 0 a 4 anos envolvidas em queda
domiciliar de curta distância, como foi sugerido por Monique Medeiros e
Jairinho, não sofreram ferimentos com risco de vida. O estudo ainda
afirma que, durante a pesquisa, nenhuma criança nessa faixa etária
apresentou ferimentos moderados ou graves em múltiplas regiões do corpo.
"Os autores ressaltaram que as quedas domiciliares de curta
distância constituem uma ocorrência comum em crianças; porém, histórias
falsas fornecidas pelos cuidadores são igualmente recorrentes na
tentativa de ocultar traumas abusivos", destacaram os peritos.
O
laudo de necropsia de Henry apontou que a causa da morte do menino foi
uma laceração hepática. Entretanto, de acordo com a pesquisa "Pediatric
nonaccidental abdominal trauma: what the radiologist should know"
(Trauma abdominal pediátrico não acidental: o que o radiologista deve
saber) (SHEYBANI et al., 2014), lesão abdominal em trauma não acidental é
uma causa reconhecida de hospitalização em crianças maltratadas e que
as mesmas são frequentemente graves.
"Em comparação com o trauma
acidental, as lesões por trauma não acidental resultam em maiores taxas
de laparotomia exploradora e a um aumento de seis vezes na chance de
morte", informa a artigo.
Na reprodução simulada realizada no
apartamento, os peritos constataram que a maior altura que Henry poderia
ter caído da cama, caso tive sofrido um acidente doméstico enquanto
dormia, era de 104 centímetros, se ele tivesse tropeçado no ponto mais
alto da poltrona que o escorava para ele não cair da cama. Os peritos
ainda fizeram a medição de todos os outros pontos do quarto e observaram
que a maior altura que Henry poderia ter caído era 2,07 metros, do
ponto mais alto de uma estante modular.
"Em nenhum desses casos
seriam produzidas múltiplas lesões dispersas (externas e internas) em
diferentes regiões do corpo do menino (frente e verso)", concluíram os
peritos no laudo.
A análise dos especialistas é endossada pelo
artigo "Distinguir abdominal infligido versus acidental lesões em
crianças pequenas" (Distinguir abdominal infligido versus acidental
lesões em crianças pequenas) (WOOD et al., 2005).
O estudo
compara as distintas lesões presentes em 121 crianças menores de 6 anos
com trauma abdominal causado por acidente de alta velocidade, baixa
velocidade e lesão infligida.
"Lesões acidentais foram
definidas como de alta velocidade (acidente de veículo motorizado ou
queda maior que três metros) ou de baixa velocidade (trauma doméstico,
acidente de bicicleta ou queda menor que três metros). O trauma
infligido foi definido como uma constelação de lesões inexplicáveis,
confissões de um perpetrador ou revelação da vítima. (...) foi possível
concluir que aquelas com lesões abdominais infligidas têm maior
probabilidade de sofrer lesões mais graves, múltiplas lesões",
destacaram os peritos.
Por fim, os peritos da Polícia Civil se
basearam no livro "Child abuse: medical diagnosis and management" (Abuso
Infantil: diagnóstico médico e gestão) (LASKEY & SIROTNAK, 2009),
para concluir que "as quedas são frequentemente um mecanismo de lesão
relatado, mas quedas domésticas curtas é uma causa improvável de trauma
abdominal significativo".
(Por Thuany Dossares/O Dia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário