SECA
Nadjara Martins
repórter
Quase três horas diárias são gastas pelo agricultor aposentado José Neto Dantas, 73 anos, na busca por água para saciar o gado. Morador da comunidade de Acamã dos Dantas, zona rural de Acari, José Dantas enfrenta duas e até três viagens diárias até um poço tubular instalado em uma comunidade vizinha. A água que busca é salobra, mas ajuda a limpar a casa e manter o rebanho – três vacas e alguns bezerros – sadio. Com a redução dos níveis de água do Gargalheiras, reservatório que abastece a região, e a ausência de chuvas há quase dois anos, qualquer forma de obter água é comemorada pelo agricultor. Água potável só é vista pela comunidade uma vez ao mês, via carro-pipa.
repórter
Quase três horas diárias são gastas pelo agricultor aposentado José Neto Dantas, 73 anos, na busca por água para saciar o gado. Morador da comunidade de Acamã dos Dantas, zona rural de Acari, José Dantas enfrenta duas e até três viagens diárias até um poço tubular instalado em uma comunidade vizinha. A água que busca é salobra, mas ajuda a limpar a casa e manter o rebanho – três vacas e alguns bezerros – sadio. Com a redução dos níveis de água do Gargalheiras, reservatório que abastece a região, e a ausência de chuvas há quase dois anos, qualquer forma de obter água é comemorada pelo agricultor. Água potável só é vista pela comunidade uma vez ao mês, via carro-pipa.
Magnus NascimentoJosé Neto gasta três horas diárias em busca de água para o gado
“A água que vem é limitada e se a gente fosse comprar o dinheiro ia embora, comadre. Agora se voltasse a chover ia ser bom”, explica o agricultor. Morador da comunidade desde 1973, José Neto possui uma cisterna construída e mantida por ele, que ajuda a guardar água para a comunidade, onde residem dez famílias. O reservatório está em níveis tão baixos quanto o do semelhante em grande escala – o Gargalheiras. “Suspenderam o carro-pipa do Exército, a nossa sorte é que tem o da Prefeitura”, acrescenta o agricultor. Ele divide a casa com a esposa e um filho mais velho, que trabalha em Acari.
Entre os moradores e comerciantes do Seridó, a constatação é única: nunca se viu o Gargalheiras com níveis tão baixos de reserva de água – 3% da capacidade ou 1,4 milhão de metros cúbicos. Quase toda a comporta da barragem está visível, bem como praticamente toda a área antes ocupada por água. O último sangramento da barragem aconteceu entre 2009 e 2010. Com a estiagem prolongada que pode entrar no quarto ano consecutivo no sertão do Rio Grande do Norte, cidades como Currais Novos e Acari, antes abastecidas pelo reservatório, entraram em sistema de rodízio.
Em 2014, o Gargalheiras iniciou o ano com 14% da reserva de água, caiu
para 7% em maio e encerra o ano com 3% da capacidade. A água que
abastece as cidades do Seridó vem do volume morto, ou seja, abaixo da
tomada de água. Segundo a Secretaria de Estado de Recursos Hídricos
(Semarh), em uma situação de aporte zero de água no inverno, o
reservatório poderá colapsar em 2015.
Francisco das Chagas de Medeiros, conhecido como Titi, 50 anos, reside na vila Gargalheiras desde que nasceu. Construída aos pés do reservatório, na vila residem cerca de 500 pessoas entre pescadores, artesãos e comerciantes que sobrevivem do turismo trazido pela barragem, considerada um dos cartões-postais do Estado. Pescador desde os sete anos de idade, ele confessa nunca ter visto o reservatório chegar a um nível tão crítico. Para manter a casa, onde vive com a esposa e um filho, Titi precisou conseguir novos empregos.
“Só da pesca não dá para viver mais não. De 4h30 eu vou para a barragem, pego camarão até 8h30, depois vou procurar uns bicos de garçom, trabalho na pizzaria. Já peguei até três empregos e mesmo assim tenho dois carnês de luz e de água vencido, não sei como ainda não vieram cortar”, desabafa. “Tentaram me tirar o seguro de pescador porque eu estava fazendo os bicos, mas era isso ou morrer de fome.” O filho mais velho, de 26 anos, abandonou a pesca para procurar emprego em fábricas e facções nas cidades vizinhas, como Acari.
Titi ainda revela que, apesar de a pesca na barragem ser suspensa entre dezembro e fevereiro, os pescadores estão desobedecendo a regra. Os peixes estão no período reprodutivo e, no fim do mês, começa a ser pago o seguro-pescador. “Ou pesca ou passa fome, então o pessoal se arrisca. E o peixe não tá nem crescendo porque não tá na época. É só chover que resolve”, conta.
Em casa, a seca também incomoda: o pescador resolveu “limpar” o pescado em casa, para economizar a água. O abastecimento da comunidade é feito por sistema de rodízio, a cada duas vezes por semana. “E temos que comprar água, porque a da Caern não presta pra beber”, finaliza o pescador.
Francisco das Chagas de Medeiros, conhecido como Titi, 50 anos, reside na vila Gargalheiras desde que nasceu. Construída aos pés do reservatório, na vila residem cerca de 500 pessoas entre pescadores, artesãos e comerciantes que sobrevivem do turismo trazido pela barragem, considerada um dos cartões-postais do Estado. Pescador desde os sete anos de idade, ele confessa nunca ter visto o reservatório chegar a um nível tão crítico. Para manter a casa, onde vive com a esposa e um filho, Titi precisou conseguir novos empregos.
“Só da pesca não dá para viver mais não. De 4h30 eu vou para a barragem, pego camarão até 8h30, depois vou procurar uns bicos de garçom, trabalho na pizzaria. Já peguei até três empregos e mesmo assim tenho dois carnês de luz e de água vencido, não sei como ainda não vieram cortar”, desabafa. “Tentaram me tirar o seguro de pescador porque eu estava fazendo os bicos, mas era isso ou morrer de fome.” O filho mais velho, de 26 anos, abandonou a pesca para procurar emprego em fábricas e facções nas cidades vizinhas, como Acari.
Titi ainda revela que, apesar de a pesca na barragem ser suspensa entre dezembro e fevereiro, os pescadores estão desobedecendo a regra. Os peixes estão no período reprodutivo e, no fim do mês, começa a ser pago o seguro-pescador. “Ou pesca ou passa fome, então o pessoal se arrisca. E o peixe não tá nem crescendo porque não tá na época. É só chover que resolve”, conta.
Em casa, a seca também incomoda: o pescador resolveu “limpar” o pescado em casa, para economizar a água. O abastecimento da comunidade é feito por sistema de rodízio, a cada duas vezes por semana. “E temos que comprar água, porque a da Caern não presta pra beber”, finaliza o pescador.
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