quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Um apelo motivou uma história de luta para salvar vidas no RN. Presidente da Hatmo, Rosali Cortez, segue na busca incessante por doadores de medula óssea. Com 30 anos de voluntariado, ela tem como missão de vida ajudar a quem precisa

HATMO

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“Há oito anos, uma menina chamada Walclécia e que estava internada com Leucemia no Hospital Varela Santiago pediu para eu doar a minha medula óssea para salvar a vida dela. Aquele pedido me tocou de uma forma tão profunda que corri para o Hemonorte para me cadastrar e ajudá-la. Eu e ela tínhamos certeza que eu seria compatível, mas infelizmente, ela morreu. Mas antes, ela me disse que não daria tempo de salvá-la, mas que eu poderia fazer isso pelos seus amiguinhos que estavam na mesma situação. E eu decidi que iria lutar por ela e por eles e hoje, é o que eu faço”.

A frase acima é da presidente da Humanização e Apoio ao Transplantado de Medula Óssea do Rio Grande do Norte (Hatmo-RN), Rosali Cortez, e revela o início da sua caminhada para encontrar doadores e oferecer apoio e suporte para o processo de transplante no Estado.

Com 30 anos de voluntariado e há quase seis à frente da Hatmo, Rosali acredita que o sentido da vida é cumprir uma missão e a sua é ajudar quem precisa. E foi dentro de outro hospital, desta vez em Salvador, que ela teve a certeza de que sua vida teria como um dos principais focos a prática de ações voluntárias. “Uma vez toquei no hospital e o médico chegou para mim e disse que naquele dia ninguém estava 

precisando de remédios para a dor. Foi ali que vi o meu caminho. Acredito que o sentido da vida é cumprir uma missão. Sou mãe para muitos filhos e até mãe de mãe de pacientes. Tem pessoas que acham que ser voluntário é para quem está desocupado ou passou por algum trauma. Mas para ser voluntário basta ter boa vontade, um bom coração e um espírito de luta”, revelou.

Ela disse que ainda durante a infância, em Goiás, conheceu exemplos de solidariedade dentro de casa, com seus pais, que eram missionários e diariamente praticavam ações pautadas na caridade e ajuda ao próximo. “Sempre tive estes exemplos dentro de casa. Lembro que meu pai ajudava pessoas nas ruas e teve uma história que me marcou. Tinha um rapaz pedindo dinheiro para uma passagem de ônibus e meu pai deixou ele dentro do ônibus em direção ao destino escolhido. Só que logo depois meu pai viu o rapaz descendo do ônibus e foi até ele e disse: ‘Deus não quer que você faça isso, que seja um mentiroso. E foi então que o rapaz aprendeu a lição’. Com esta situação, também aprendi que devemos ser solidários, mas sempre ensinar a pescar, e se formos doar, temos que acompanhar esta doação”, disse Rosali.

E, em Natal, depois do episódio com Walclécia, ela disse que cadastrou toda sua família como doadores no Hemonorte e passou a fazer campanhas educativas em hospitais e órgãos ligados ao atendimento a pessoas com câncer, mas viu que aidna era uma luta grande. Então, foi a partir disso que surgiu a ideia de criar a Hatmo. Hoje, formada por um grupo de voluntários que presta apoio e busca dar um tratamento humanizado à vida dos pacientes com leucemia, a instituição assiste 120 crianças e há 75 adultos cadastrados. Além do apoio emocional e auxílio no processo do transplante, ela também presta assistência aos pacientes e famílias através doação de cestas básicas.

“A Hatmo tem coração, tem pessoas, mas não tem sede. Atuamos em vários países e quem faz tratamento em outros estados e fora do Brasil tem o apoio necessário. Não somos a favor do assistencialismo, pois o que precisamos é de mudanças nas políticas públicas para melhorar a situação das pessoas que vivem com câncer no Brasil. Pessoas famosas como os atores Reynaldo Gianecchini e Drica Moraes foram 

transplantados rapidamente, mas a realidade é que o processo que vai desde o cadastro no Hemonorte, no Redome, até o transplante em si, é muito lento, quando tem que ser é para ontem, porque são vidas que não podem esperar. Vemos tanto dinheiro envolvido no futebol, no carnaval, mas é preciso que o governo olhe para a saúde, porque as pessoas estão morrendo. Corremos atrás de exames para os pacientes, até tiramos do nosso próprio bolso, mas é desumano pagarmos particular enquanto o Governo é que é o responsável”, lamentou.

Conscientização para doação
Uma das principais dificuldades relatadas por Rosali Cortez em seu trabalho diário ainda é a falta de conscientização da sociedade sobre o ato de doar medula óssea. Para ela, a maior parte das pessoas acha que não vai ter a doença e não se preocupa com o todo. “Há um estigma que a doação de medula óssea é invasiva. A coleta é feita na área da bacia e não na coluna. O incômodo é passageiro, mas vale uma vida toda e pode salvar vida. Temos que ser imitadores de Cristo. Costumo usar a expressão “dízimo do sangue”, já que se pode doar até 10% do sangue. Temos que doar sangue, plaquetas, medula óssea, voluntariado, objetos e praticar o desapego. Há pessoas que vão doar com medo, mas saem renovadas e se sentem mais de Deus. Também sinto isso” afirmou.

Todo mês de outubro, a Hatmo participa da Primavera dos Doadores, logo após as comemorações pelo Dia Nacional do Doador de Medula Óssea, celebrado no dia 06. Neste ano, o evento começou com a abertura de exposição de material de campanhas passadas e contou com palestras de orientação e cadastro de novos doadores no Hemonorte e Hemovida. O encerramento foi com a com a Festa do Doador, na sede da entidade, no conjunto dos Professores, em Capim Macio.

Interessados passam por entrevista e testes
Rosali Cortez disse que o cadastro dos interessados em serem doadores pode ser feito tanto no Hemonorte como no Hemovida, por pessoas entre os 18 e 55 anos, que tenham boa saúde, sem histórico de doenças como câncer, hepatites B ou C e HIV. Para isso, basta levar o documento de identidade e CPF. Também será feita uma entrevista  para esclarecer dúvidas a respeito das doações e coleta de uma amostra de sangue, de dez mililitros, para a tipagem de HLA (características genéticas importantes para a seleção de um doador).

“A doação só acontece, no caso de algum paciente ser compatível. Estima-se que a compatibilidade entre irmãos varie entre 25% a 30%, podendo chegar a um em 100 mil entre pessoas que não sejam parentes. Por isso, quanto mais pessoas se cadastrarem, maior a possibilidade de encontrar doadores compatíveis. E não há riscos para os doadores, porque apenas 10% da medula do doador é retirada e ela é recomposta pelo próprio organismo em até oito dias”, esclareceu.

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