HATMO
“Há oito anos, uma menina chamada Walclécia e que estava internada com Leucemia no Hospital Varela Santiago pediu para eu doar a minha medula óssea para salvar a vida dela. Aquele pedido me tocou de uma forma tão profunda que corri para o Hemonorte para me cadastrar e ajudá-la. Eu e ela tínhamos certeza que eu seria compatível, mas infelizmente, ela morreu. Mas antes, ela me disse que não daria tempo de salvá-la, mas que eu poderia fazer isso pelos seus amiguinhos que estavam na mesma situação. E eu decidi que iria lutar por ela e por eles e hoje, é o que eu faço”.
A frase acima é da presidente da Humanização e Apoio ao Transplantado de Medula Óssea do Rio Grande do Norte (Hatmo-RN), Rosali Cortez, e revela o início da sua caminhada para encontrar doadores e oferecer apoio e suporte para o processo de transplante no Estado.
Com 30 anos de voluntariado e há quase seis à frente da Hatmo, Rosali acredita que o sentido da vida é cumprir uma missão e a sua é ajudar quem precisa. E foi dentro de outro hospital, desta vez em Salvador, que ela teve a certeza de que sua vida teria como um dos principais focos a prática de ações voluntárias. “Uma vez toquei no hospital e o médico chegou para mim e disse que naquele dia ninguém estava
precisando de remédios para a dor. Foi ali que vi o meu caminho. Acredito que o sentido da vida é cumprir uma missão. Sou mãe para muitos filhos e até mãe de mãe de pacientes. Tem pessoas que acham que ser voluntário é para quem está desocupado ou passou por algum trauma. Mas para ser voluntário basta ter boa vontade, um bom coração e um espírito de luta”, revelou.
Ela disse que ainda durante a infância, em Goiás, conheceu exemplos de solidariedade dentro de casa, com seus pais, que eram missionários e diariamente praticavam ações pautadas na caridade e ajuda ao próximo. “Sempre tive estes exemplos dentro de casa. Lembro que meu pai ajudava pessoas nas ruas e teve uma história que me marcou. Tinha um rapaz pedindo dinheiro para uma passagem de ônibus e meu pai deixou ele dentro do ônibus em direção ao destino escolhido. Só que logo depois meu pai viu o rapaz descendo do ônibus e foi até ele e disse: ‘Deus não quer que você faça isso, que seja um mentiroso. E foi então que o rapaz aprendeu a lição’. Com esta situação, também aprendi que devemos ser solidários, mas sempre ensinar a pescar, e se formos doar, temos que acompanhar esta doação”, disse Rosali.
E, em Natal, depois do episódio com Walclécia, ela disse que cadastrou toda sua família como doadores no Hemonorte e passou a fazer campanhas educativas em hospitais e órgãos ligados ao atendimento a pessoas com câncer, mas viu que aidna era uma luta grande. Então, foi a partir disso que surgiu a ideia de criar a Hatmo. Hoje, formada por um grupo de voluntários que presta apoio e busca dar um tratamento humanizado à vida dos pacientes com leucemia, a instituição assiste 120 crianças e há 75 adultos cadastrados. Além do apoio emocional e auxílio no processo do transplante, ela também presta assistência aos pacientes e famílias através doação de cestas básicas.
“A Hatmo tem coração, tem pessoas, mas não tem sede. Atuamos em vários países e quem faz tratamento em outros estados e fora do Brasil tem o apoio necessário. Não somos a favor do assistencialismo, pois o que precisamos é de mudanças nas políticas públicas para melhorar a situação das pessoas que vivem com câncer no Brasil. Pessoas famosas como os atores Reynaldo Gianecchini e Drica Moraes foram
transplantados rapidamente, mas a realidade é que o processo que vai desde o cadastro no Hemonorte, no Redome, até o transplante em si, é muito lento, quando tem que ser é para ontem, porque são vidas que não podem esperar. Vemos tanto dinheiro envolvido no futebol, no carnaval, mas é preciso que o governo olhe para a saúde, porque as pessoas estão morrendo. Corremos atrás de exames para os pacientes, até tiramos do nosso próprio bolso, mas é desumano pagarmos particular enquanto o Governo é que é o responsável”, lamentou.
Conscientização para doação
Uma das principais dificuldades relatadas por Rosali Cortez em seu trabalho diário ainda é a falta de conscientização da sociedade sobre o ato de doar medula óssea. Para ela, a maior parte das pessoas acha que não vai ter a doença e não se preocupa com o todo. “Há um estigma que a doação de medula óssea é invasiva. A coleta é feita na área da bacia e não na coluna. O incômodo é passageiro, mas vale uma vida toda e pode salvar vida. Temos que ser imitadores de Cristo. Costumo usar a expressão “dízimo do sangue”, já que se pode doar até 10% do sangue. Temos que doar sangue, plaquetas, medula óssea, voluntariado, objetos e praticar o desapego. Há pessoas que vão doar com medo, mas saem renovadas e se sentem mais de Deus. Também sinto isso” afirmou.
Todo mês de outubro, a Hatmo participa da Primavera dos Doadores, logo após as comemorações pelo Dia Nacional do Doador de Medula Óssea, celebrado no dia 06. Neste ano, o evento começou com a abertura de exposição de material de campanhas passadas e contou com palestras de orientação e cadastro de novos doadores no Hemonorte e Hemovida. O encerramento foi com a com a Festa do Doador, na sede da entidade, no conjunto dos Professores, em Capim Macio.
Interessados passam por entrevista e testes
Rosali Cortez disse que o cadastro dos interessados em serem doadores pode ser feito tanto no Hemonorte como no Hemovida, por pessoas entre os 18 e 55 anos, que tenham boa saúde, sem histórico de doenças como câncer, hepatites B ou C e HIV. Para isso, basta levar o documento de identidade e CPF. Também será feita uma entrevista para esclarecer dúvidas a respeito das doações e coleta de uma amostra de sangue, de dez mililitros, para a tipagem de HLA (características genéticas importantes para a seleção de um doador).
“A doação só acontece, no caso de algum paciente ser compatível. Estima-se que a compatibilidade entre irmãos varie entre 25% a 30%, podendo chegar a um em 100 mil entre pessoas que não sejam parentes. Por isso, quanto mais pessoas se cadastrarem, maior a possibilidade de encontrar doadores compatíveis. E não há riscos para os doadores, porque apenas 10% da medula do doador é retirada e ela é recomposta pelo próprio organismo em até oito dias”, esclareceu.
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