MANOBRAS
Por Josias de Souza
Entre 2003 e 2012, o governo de Minas Gerais praticou manobras
contábeis que retiraram do Sistema Único de Saúde o equivalente a R$
14,2 bilhões, acusa o Ministério Público Federal. Nesse período,
chefiaram o governo mineiro os tucanos Aécio Neves e Antonio Anastasia,
hoje senadores. Uma ação civil pública ajuizada em Belo Horizonte pede à
Justiça que determine ao Estado a restituição, ainda que em parcelas,
da verba suprimida da saúde.
A ação foi protocalada em 12 de junho. Mas só foi divulgada
pela Procuradoria da República nesta quinta-feira (25). Sustenta-se na
petição inicial que o governo mineiro descumpriu a Emenda Constitucional
29, que tornou obrigatória a partir de 2000 a aplicação de no mínimo
12% do orçamento dos Estados na área da saúde.
Para simular obediência à legislação, acusa a Procuradoria, o governo
mineiro incluiu na conta da saúde despesas estranhas ao setor
—saneamento básico, por exemplo. Contabilizavam-se como investimentos em
saúde verbas repassadas à Copasa, sociedade de economia mista que
fornece água e esgoto aos mineiros mediante cobrança de tarifas.
Em 2006, os recursos repassados à Copasa responderam por 37,18% do
total contabilizado como gasto de saúde. Naquele ano, anota a
Procuradoria na ação, “apenas 43,57% da quantia que o Estado afirmava
ter investido em saúde realmente reverteu em benefício de ações
universais e do SUS. Mais da metade, na verdade, dizia respeito a
saneamento básico, previdência social” e outras despesas que “jamais
poderiam ter sido incluídas no cálculo do piso constitucional da saúde.”
Segundo a Procuradoria, computaram-se como gastos em saúde até
“despesas com animais e vegetais.” Eram “verbas direcionadas ao
Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e à Fundação Estadual do Meio
Ambiente (FEAM).
Houve pior: a ação judicial anota que “…o governo de Minas Gerais
chegou ao absurdo de incluir como se fossem aplicações em saúde pública
serviços veterinários.” Consultas veterinárias e compra de remédios e
vacinas para cães da polícia entraram na rubrica do SUS.
O PSDB se pronunciou por meio de nota do seu diretório em Minas. Diz o
texto: “Sobre os investimentos em saúde realizados pelo Estado de Minas
Gerais, o PSDB-MG reitera seu respeito ao Ministério Público Federal,
mas ressalva que trata se de assunto já amplamente divulgado e
esclarecido, sem nenhum fato novo, e observa que, como pode ser
facilmente constatado, no que diz respeito aos investimentos em saúde,
os entendimentos adotados pelo Estado de Minas Gerais sempre foram
idênticos aos realizados pelo governo federal e por outros estados da
Federação.”
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