A instalação de bloqueadores de sinais de celular na
Penitenciária Estadual de Parnamirim (PEP), que motivou a onda de
ataques a veículos do transporte público e prédios de órgãos oficiais em
todo o Rio Grande do Norte, já foi concluída e logo será ampliada para
outras unidades do sistema prisional potiguar. Segundo o secretário de
Estado da Justiça e da Cidadania, Wallber Virgolino da Silva Ferreira,
os equipamentos, apesar de ontem ainda estarem passando por alguns
testes, começaram a funcionar oficialmente na última segunda-feira (1º).
A Penitenciária Estadual de Alcaçuz, a maior unidade do estado
localizada em Nísia Floresta, e a Cadeia Pública de Nova Cruz, sediada
no município de mesmo nome, serão as próximas unidades a receber a
tecnologia de bloqueio. “Alcaçuz porque é o maior presídio do estado e
precisa ser visto com bons olhos. E Nova Cruz por ser estratégico no
remanejamento desses presos”, explicou Virgolino. “Os grandes presídios
terão instalação de bloqueadores. Não há necessidade nos CDPs [Centros
de Detenção Provisória], temos que fortalecer os presídios para
custodiar bem essas pessoas”, acrescentou o titular da Secretaria de
Estado da Justiça e da Cidadania (Sejuc).
//Wallber Virgolino da Silva, Secretário de Estado da Justiça
O secretário preferiu não estimar data para que os equipamentos
sejam implantados em outros presídios. Questionado sobre novas ações de
retaliação com futuras implementações nas outras unidades do estado,
Virgolino afirmou saber que vai haver reações, mas que com menos
intensidade do que ocorreu nestes últimos ataques.
“O confronto foi latente dessa vez e acho que vai haver de novo.
Toda vez que mexermos na zona de conforto deles vai ocorrer isso”,
previu o secretário.
A reportagem do NOVO esteve na manhã de ontem na unidade de
Parnamirim para verificar os bloqueadores. Foram vistas duas antenas nos
cantos ao fundo do presídio. Em uma delas havia uma equipe de
funcionários vestidos com roupas de segurança, como as usadas por
eletricistas de companhias de energia, manuseando o equipamento. O
repórter chegou a receber uma ligação pelo celular, o que revelou que o
sinal não estava bloqueado naquele momento.
Questionado, Wallber Virgolino explicou que os bloqueadores já
estão funcionando, mas que estão entrando em funcionamento pleno aos
poucos. “Estamos em fases de testes, o sinal vai e volta. Mas eles já
estão funcionando sim”, justificou. No PEP, a empresa responsável pelos
bloqueadores de sinais de celular é a Neger Tecnologia e Sistemas Ltda.
Conforme consta na publicação feita no Diário Oficial do Estado, em
julho, o valor do contrato é de R$ 174 mil, sendo seis parcelas de R$ 29
mil. O contrato é de 1º de julho até 31 de dezembro de 2016, com
validade de 12 meses.
O secretário de Estado da Justiça e da Cidadania, Wallber
Virgolino, disse que os cinco presos transferidos na última
segunda-feira da Penitenciária Estadual de Parnamirim para a
Penitenciária Federal de Segurança Máxima, localizada em Mossoró, foi
para evitar que esses detentos se mantenham à frente das ordens sobre os
ataques realizados desde sexta-feira passada. O quinteto comandaria as
áreas periféricas de toda a Região Metropolitana de Natal, arquitetando
cada ataque a ônibus e órgãos públicos nos últimos dias.
Outros membros do Sindicato dentro e fora das unidades prisionais
potiguares também comandaram os atentados. Até mesmo pessoas de estados
como Paraíba e Ceará, apontou Virgolino: “Cada bairro periférico na
Grande Natal era dominado por um, então eles conseguiam que os membros
de fora em cada área trabalhasse para eles nos ataques. Partiu deles
também, porque teve gente de fora e de outros estados também
comandando”.
Wallber Virgolino não quis passar os nomes dos presos transferidos
nesta semana, por uma solicitação da Justiça Federal. Ele disse que
“todos são dessa pseudo facção que se denomina Sindicato do Crime”. “Dos
cinco, todos são líderes da facção criminosa que atua dentro e fora das
unidades prisionais do RN, todos tem forte influência nesses ataques, e
três desses indivíduos identificamos como autores dos áudios que
circularam nas redes sociais, tocando o terror e querendo intimidar o
Estado. Quem gosta de intimidar o Estado ganha esse presente”, ironizou.
Mais transferências estão por vir. Pelo menos 30 outros membros do
Sindicato do Crime – organização que, segundo o titular da Sejuc, é a
única que no momento “afronta o Estado” – estão sob investigação e
correm o risco de serem transferidos para unidades federais também,
sobretudo os considerados líderes dentro da facção.
“Novas transferências ocorrerão. Estamos identificando esses
criminosos, vamos transferir só quem realmente tenha poder de comando,
enquanto que esses outros que ficarem vamos dominar nas unidades
prisionais, iremos separar e movimentá-los no sentido de quebrar as
células criminosas para que a sensação de segurança volte o mais rápido
possível”, adiantou Virgolino.
A semana começou com descoberta de túneis na Penitenciária de
Alcaçuz. Os detentos do Pavilhão 1 perderam o benefício de ter TVs,
aparelhos de som e ventiladores em suas celas após a descoberta de um
túnel e uma “teresa” – corda improvisada de lençóis – em revista feita
na segunda-feira (1º). Já ontem, mais um túnel foi descoberto no
Pavilhão 4 da unidade.
Segundo o secretario Walber Virgulino, titular da Sejuc, a medida é
uma forma de punição pela tentativa de fuga. “Toda ação gera uma
reação. O Estado não pode ficar de braços cruzados, inerte. Estamos aqui
para respeitar o direito dos apenados, mas se eles não quiserem esse
respeito, vamos tirar as regalias. Só tem direito quem cumpre o dever”,
destacou.
Ele ainda chamou a atenção para o tamanho da estrutura, que possuía
cerca de dez metros de profundidade. Virgolino acredita que se não
fosse o trabalho que ele credita ao setor de Inteligência da Secretaria,
praticamente os 200 homens que estão no pavilhão fugiriam sem serem
notados. A informação partiu de um informante da Sejuc, que costuma
trabalhar com denúncias de apenados, familiares de presos e
colaboradores nas ruas.
“Agimos rápido, essa informação [sobre o túnel] chegou na noite de
domingo e na segunda-feira pela manhã o grupo tático juntamente com a
equipe de Alcaçuz adentraram o pavilhão e descobriram o túnel. O que
chamou a atenção foi a profundidade de quase dez metros. Percebemos que a
cada dia os criminosos se aperfeiçoam e cavando dez metros, com
certeza, essa fuga iria passar desapercebida”, ressaltou o titular da
Sejuc.
// Túnel encontrado ontem em Alcaçuz: profundidade de quase dez metros
Wallber Virgolino se disse perplexo por ter sido descoberto que a
estrutura desembocaria em uma casa que fica nas proximidades da
penitenciária, tudo para que os presos evitassem serem percebidos pelos
guariteiros. “O que mais causa perplexidade é que a Inteligência
levantou que esse túnel sairia de dentro do Pavilhão 1 para uma casa
próxima à muralha de Alcaçuz. Eles não iriam sair no pé do muro e sim
dentro da casa, o que quer dizer que praticamente todo o pavilhão iria
embora”, afirmou.
No Pavilhão 4 o túnel foi encontrado ontem. Segundo informações do
diretor de Alcaçuz, Ivo Freire, uma estrada está sendo construída nas
partes interna e externa da unidade para facilitar futuras operações. Um
caminhão que faz parte da obra foi quem acabou denunciando a construção
dos presos.
“Um caminhão passou e o piso afundou. A equipe desconfiou, foi
verificar e aí desabou tudo”, narrou o diretor da unidade. Segundo ele,
após o ocorrido foram feitas revistas dentro de todos os pavilhões, onde
foram encontrados aparelhos celulares, facas e outros objetos
proibidos.
Questionado sobre se os internos do pavilhão também teriam as
regalias subtraídas, Ivo explicou que, pelo menos por esta semana, os
detentos dos pavilhões 1 e 4 estão juntos devido a obras que ocorrem no
interior da unidade, então os apenados já estavam sem as ditas regalias.
Represálias
Wallber Virgolino é taxativo ao dizer que não teme novas
represálias do crime organizado após esse castigo aplicado em Alcaçuz.
“O Estado não pode temer represálias de bandidos. O Estado nem coração
tem. Ele tem que garantir o direito público. Então não dói em mim agir
de forma mais rígida. O povo exige que o Estado imponha seu poder dentro
das unidades prisionais. É o que estamos fazendo. Se eles [criminosos]
vão retaliar, aí o problema é deles”, disparou.
O secretário disse que o estado está preparado para qualquer reação
das facções atuantes no Rio Grande do Norte. Ele aproveitou para mandar
um recado para a população: “Estamos aqui preparados para agir de forma
dura e eficiente. Há consequências negativas? Sim, mas isso é uma
guerra urbana. Vão ter as consequências negativas e o povo tem que
entender isso, que tudo isso é para garantir o sossego e a segurança”.
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