quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Bloqueadores de celular entram em operação em Parnamirim

BLOQUEADORES

A instalação de bloqueadores de sinais de celular na Penitenciária Estadual de Parnamirim (PEP), que motivou a onda de ataques a veículos do transporte público e prédios de órgãos oficiais em todo o Rio Grande do Norte, já foi concluída e logo será ampliada para outras unidades do sistema prisional potiguar. Segundo o secretário de Estado da Justiça e da Cidadania, Wallber Virgolino da Silva Ferreira, os equipamentos, apesar de ontem ainda estarem passando por alguns testes, começaram a funcionar oficialmente na última segunda-feira (1º).
 
A Penitenciária Estadual de Alcaçuz, a maior unidade do estado localizada em Nísia Floresta, e a Cadeia Pública de Nova Cruz, sediada no município de mesmo nome, serão as próximas unidades a receber a tecnologia de bloqueio. “Alcaçuz porque é o maior presídio do estado e precisa ser visto com bons olhos. E Nova Cruz por ser estratégico no remanejamento desses presos”, explicou Virgolino. “Os grandes presídios terão instalação de bloqueadores. Não há necessidade nos CDPs [Centros de Detenção Provisória], temos que fortalecer os presídios para custodiar bem essas pessoas”, acrescentou o titular da Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania (Sejuc).
 
//Wallber Virgolino da Silva, Secretário de Estado da Justiça
//Wallber Virgolino da Silva, Secretário de Estado da Justiça
 
O secretário preferiu não estimar data para que os equipamentos sejam implantados em outros presídios. Questionado sobre novas ações de retaliação com futuras implementações nas outras unidades do estado, Virgolino afirmou saber que vai haver reações, mas que com menos intensidade do que ocorreu nestes últimos ataques.
 
“O confronto foi latente dessa vez e acho que vai haver de novo. Toda vez que mexermos na zona de conforto deles vai ocorrer isso”, previu o secretário.
 
A reportagem do NOVO esteve na manhã de ontem na unidade de Parnamirim para verificar os bloqueadores. Foram vistas duas antenas nos cantos ao fundo do presídio. Em uma delas havia uma equipe de funcionários vestidos com roupas de segurança, como as usadas por eletricistas de companhias de energia, manuseando o equipamento. O repórter chegou a receber uma ligação pelo celular, o que revelou que o sinal não estava bloqueado naquele momento.
 
Questionado, Wallber Virgolino explicou que os bloqueadores já estão funcionando, mas que estão entrando em funcionamento pleno aos poucos. “Estamos em fases de testes, o sinal vai e volta. Mas eles já estão funcionando sim”, justificou. No PEP, a empresa responsável pelos bloqueadores de sinais de celular é a Neger Tecnologia e Sistemas Ltda. Conforme consta na publicação feita no Diário Oficial do Estado, em julho, o valor do contrato é de R$ 174 mil, sendo seis parcelas de R$ 29 mil. O contrato é de 1º de julho até 31 de dezembro de 2016, com validade de 12 meses.
 
O secretário de Estado da Justiça e da Cidadania, Wallber Virgolino, disse que os cinco presos transferidos na última segunda-feira da Penitenciária Estadual de Parnamirim para a Penitenciária Federal de Segurança Máxima, localizada em Mossoró, foi para evitar que esses detentos se mantenham à frente das ordens sobre os ataques realizados desde sexta-feira passada. O quinteto comandaria as áreas periféricas de toda a Região Metropolitana de Natal, arquitetando cada ataque a ônibus e órgãos públicos nos últimos dias.
 
Outros membros do Sindicato dentro e fora das unidades prisionais potiguares também comandaram os atentados. Até mesmo pessoas de estados como Paraíba e Ceará, apontou Virgolino: “Cada bairro periférico na Grande Natal era dominado por um, então eles conseguiam que os membros de fora em cada área trabalhasse para eles nos ataques. Partiu deles também, porque teve gente de fora e de outros estados também comandando”.
 
Wallber Virgolino não quis passar os nomes dos presos transferidos nesta semana, por uma solicitação da Justiça Federal. Ele disse que “todos são dessa pseudo facção que se denomina Sindicato do Crime”. “Dos cinco, todos são líderes da facção criminosa que atua dentro e fora das unidades prisionais do RN, todos tem forte influência nesses ataques, e três desses indivíduos identificamos como autores dos áudios que circularam nas redes sociais, tocando o terror e querendo intimidar o Estado. Quem gosta de intimidar o Estado ganha esse presente”, ironizou.
 
Mais transferências estão por vir. Pelo menos 30 outros membros do Sindicato do Crime – organização que, segundo o titular da Sejuc, é a única que no momento “afronta o Estado” – estão sob investigação e correm o risco de serem transferidos para unidades federais também, sobretudo os considerados líderes dentro da facção.
 
“Novas transferências ocorrerão. Estamos identificando esses criminosos, vamos transferir só quem realmente tenha poder de comando, enquanto que esses outros que ficarem vamos dominar nas unidades prisionais, iremos separar e movimentá-los no sentido de quebrar as células criminosas para que a sensação de segurança volte o mais rápido possível”, adiantou Virgolino.
 
A semana começou com descoberta de túneis na Penitenciária de Alcaçuz. Os detentos do Pavilhão 1 perderam o benefício de ter TVs, aparelhos de som e ventiladores em suas celas após a descoberta de um túnel e uma “teresa” – corda improvisada de lençóis – em revista feita na segunda-feira (1º). Já ontem, mais um túnel foi descoberto no Pavilhão 4 da unidade.
 
Segundo o secretario Walber Virgulino, titular da Sejuc, a medida é uma forma de punição pela tentativa de fuga. “Toda ação gera uma reação. O Estado não pode ficar de braços cruzados, inerte. Estamos aqui para respeitar o direito dos apenados, mas se eles não quiserem esse respeito, vamos tirar as regalias. Só tem direito quem cumpre o dever”, destacou.
 
Ele ainda chamou a atenção para o tamanho da estrutura, que possuía cerca de dez metros de profundidade. Virgolino acredita que se não fosse o trabalho que ele credita ao setor de Inteligência da Secretaria, praticamente os 200 homens que estão no pavilhão fugiriam sem serem notados. A informação partiu de um informante da Sejuc, que costuma trabalhar com denúncias de apenados, familiares de presos e colaboradores nas ruas.
 
“Agimos rápido, essa informação [sobre o túnel] chegou na noite de domingo e na segunda-feira pela manhã o grupo tático juntamente com a equipe de Alcaçuz adentraram o pavilhão e descobriram o túnel. O que chamou a atenção foi a profundidade de quase dez metros. Percebemos que a cada dia os criminosos se aperfeiçoam e cavando dez metros, com certeza, essa fuga iria passar desapercebida”, ressaltou o titular da Sejuc.
 
// Túnel encontrado ontem em Alcaçuz: profundidade de quase dez metros
// Túnel encontrado ontem em Alcaçuz: profundidade de quase dez metros
 
Wallber Virgolino se disse perplexo por ter sido descoberto que a estrutura desembocaria em uma casa que fica nas proximidades da penitenciária, tudo para que os presos evitassem serem percebidos pelos guariteiros. “O que mais causa perplexidade é que a Inteligência levantou que esse túnel sairia de dentro do Pavilhão 1 para uma casa próxima à muralha de Alcaçuz. Eles não iriam sair no pé do muro e sim dentro da casa, o que quer dizer que praticamente todo o pavilhão iria embora”, afirmou.
 
No Pavilhão 4 o túnel foi encontrado ontem. Segundo informações do diretor de Alcaçuz, Ivo Freire, uma estrada está sendo construída nas partes interna e externa da unidade para facilitar futuras operações. Um caminhão que faz parte da obra foi quem acabou denunciando a construção dos presos.
 
“Um caminhão passou e o piso afundou. A equipe desconfiou, foi verificar e aí desabou tudo”, narrou o diretor da unidade. Segundo ele, após o ocorrido foram feitas revistas dentro de todos os pavilhões, onde foram encontrados aparelhos celulares, facas e outros objetos proibidos.
 
Questionado sobre se os internos do pavilhão também teriam as regalias subtraídas, Ivo explicou que, pelo menos por esta semana, os detentos dos pavilhões 1 e 4 estão juntos devido a obras que ocorrem no interior da unidade, então os apenados já estavam sem as ditas regalias.
 
Represálias
 
Wallber Virgolino é taxativo ao dizer que não teme novas represálias do crime organizado após esse castigo aplicado em Alcaçuz. “O Estado não pode temer represálias de bandidos. O Estado nem coração tem. Ele tem que garantir o direito público. Então não dói em mim agir de forma mais rígida. O povo exige que o Estado imponha seu poder dentro das unidades prisionais. É o que estamos fazendo. Se eles [criminosos] vão retaliar, aí o problema é deles”, disparou.
 
O secretário disse que o estado está preparado para qualquer reação das facções atuantes no Rio Grande do Norte. Ele aproveitou para mandar um recado para a população: “Estamos aqui preparados para agir de forma dura e eficiente. Há consequências negativas? Sim, mas isso é uma guerra urbana. Vão ter as consequências negativas e o povo tem que entender isso, que tudo isso é para garantir o sossego e a segurança”.
 

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