Amigo há quase 50 anos e ex-assessor especial do presidente Michel Temer, Yunes disse a VEJA desta semana que atuou como “mula involuntária” de Padilha ao receber um “pacote” do operador financeiro Lúcio Funaro. As declarações fragilizaram a situação de Padilha no Palácio do Planalto e abriram uma nova crise no governo.
De acordo com relato de Yunes a VEJA, Padilha entrou em contato para pedir-lhe um favor às vésperas da eleição de 2014, em setembro, mês em que, segundo o delator da Odebrecht, parte da fatura dos 10 milhões de reais foi quitada. “Padilha me ligou falando: ‘Yunes, olha, eu poderia pedir para que uma pessoa deixasse um documento em seu escritório? Depois, outra pessoa vai pegar’. Eu disse que podia, porque tenho uma relação de partido e convivência política com ele.”
Segundo Melo Filho, a Odebrecht deu 10 milhões de reais, retirados do seu “departamento de propina”, para financiar políticos do PMDB. A maior parte deste dinheiro teria ido para a campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo. O restante teria ido para Padilha e parte desse dinheiro teria sido entregue nesse encontro de Funaro com Yunes.
“Ah, não dava para saber. Não era um pacote grande, não. Mas não me lembro. Foi tudo tão rápido. Parecia um documento com um pouco mais de espessura. Mas não dava para saber. A delação do Claudio Melo fala que recebi 4 milhões de reais. Cá entre nós, 4 milhões não caberiam num pacote, né? O que o Lúcio deixou aqui foi um pacotinho”, disse Yunes, que afirmou não se recordar do nome da pessoa que foi retirar a encomenda destinada a Padilha.
As declarações do ex-assessor aumentaram as articulações no governo para que Padilha deixe o cargo após a licença que ele tirou para tratar sua saúde. Ele passa por exames finais pré-operatórios em Porto Alegre e deverá ser submetido a uma cirurgia até segunda-feira para a retirada da próstata. O ministro avisou que pretende retornar ao trabalho em 6 de março.
Embora a investigação sobre Padilha já estivesse prevista no grupo de trabalho de Janot desde que o ministro foi citado na delação de Melo Filho, a avaliação na Procuradoria-Geral da República é de que o depoimento de Yunes reforçou a necessidade. A solicitação ao Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar o ministro, que tem foro privilegiado, deverá estar no pacote que Janot pretende encaminhar à Corte após o Carnaval com base nas delações de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht.
Padilha é um dos principais auxiliares de Temer, responsável pela articulação da reforma da Previdência. Sua saída seria mais uma baixa no núcleo duro do governo, após as demissões de Romero Jucá (Planejamento) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), ambos por causa de citações em investigações sobre corrupção. Temer não pretende, por ora, tirá-lo. O presidente leva em conta o fato de que um eventual afastamento do auxiliar faria com que ele perdesse o foro privilegiado e ficasse sob a jurisprudência do juiz Sérgio Moro.
(Com Estadão Conteúdo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário