O carregamento composto por notas de 50 e 100 ainda não foi oficialmente contabilizado, mas estima-se que supere 1,5 bilhão de bolívares. O dinheiro foi retirado clandestinamente da Venezuela e seria levado para Bolívia onde seria convertido por dólares nas casas de câmbio locais.
Segundo um consultor do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o caso revela uma nova e complexa forma de lavagem de dinheiro. “Além de envolver entes estatais, ampara-se em operações legais para limpar os recursos provenientes do crime”, diz.
Nas ruas de Caracas, um dólar vale 4 190 bolívares. Mas pela cotação oficial, imposta pelo chavismo, são necessários apenas 10 por uma unidade da moeda americana. Enquanto havia dólares disponíveis no mercado venezuelano, os criminosos valiam-se do câmbio artificial imposto pelo governo para multiplicar suas fortunas.
Em todo mundo, a cotação ficcional dos venezuelanos é considerada para informações oficiais, mas quase ninguém aceita aplicá-la. No Paraguai, por exemplo, onde o dinheiro foi localizado, nenhuma casa de câmbio opera com a moeda venezuelana, por causa da discrepância entre o seu valor oficial e real. O mesmo acontece no Brasil.
Mas na Bolívia, prevalece a ficção. A moeda venezuelana é amplamente aceita e remunerada em um valor próximo ao da cotação artificial chavista. Isso significa que gradualmente, os 1,5 bilhão de bolívares – que efetivamente correspondem a menos de 358 000 dólares – seriam convertidos em até 150 milhões de dólares aos seus detentores. Uma supervalorização de cerca de 419 vezes
“Um pequeno grupo de privilegiados da Venezuela e da Bolívia consegue multiplicar seu patrimônio em apenas uma operação de câmbio. E o mais sombrio que a pilhagem do patrimônio venezuelano é feita totalmente dentro da lei”, diz o consultor do Pentágono. O crime segundo ele, está no trânsito não declarado do dinheiro e na provável origem ilícita dos recursos: corrupção e tráfico de drogas.
“É dinheiro da corrupção chavista que está sendo lavado nas casas de câmbio bolivianas com o aval do Estado Boliviano”, diz o economista venezuelano Antonio de La Cruz, diretor-executivo da InterAmerican Trends, com sede em Washington. “O sinal que é dinheiro roubado dos cofres venezuelanos ou resultado de propinas é o fato se serem cédulas de bolívares e não de dólares”, explica De la Cruz.
De posse dos bolívares, as casas de câmbio repassam o papel para o Banco Central da Bolívia a um preço ainda mais alto que o remunerado aos criminosos, obtendo assim o seu lucro na operação. O BC boliviano, por sua vez, utiliza o papel moeda para pagar a sua dívida externa para com a Venezuela, hoje em torno de 768 milhões de dólares. Como a Venezuela aceita a conversão pelo seu valor oficial, cada dez bolívares são equivalentes a um dólar de dívida. Caso a operação tivesse sido concretizada, o governo de Evo Morales conseguiria amortizar cerca de 20% de seus débitos para com os venezuelanos
A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do planeta, mas necessita importar combustível. A razão é o estágio pré-falimentar da estatal petroleira, a PDVSA. No auge do preço da commodity, que entre 2004 e 2014 ficou acima de 50 dólares, passando de 100 por vários anos, o país experimentou um boom econômico capaz de alçá-lo ao primeiro mundo. Mas Hugo Chávez — que foi presidente de 1999 até a sua morte em 2013 — preferiu torrar as reservas de seu país na “exportação” da revolução bolivariana. A Venezuela comprou créditos da dívida externa de aliados como Argentina, Equador e Bolívia.
O pagamento da dívida boliviana por meio da compra de bolívares cotados artificialmente é mais uma forma que os chavistas e seus aliados bolivarianos se valem para sugar os últimos recursos do país. Faturam alto os apaniguados dos governos de Nicolás Maduro e Evo Morales às custas da pilhagem das parcas reservas do país.
O governo boliviano se vangloria de pagar a sua dívida e com isso ajudar os aliados no momento de crise. Mas indiretamente, Evo Morales empurra ainda mais o povo venezuelano para o abismo.
( Leonardo Coutinho/Veja.com)
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