sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

No dia em que faria 90 anos, Bezerra da Silva é lembrado como ‘malandro.’ Bezerra também foi taxado como intérprete de 'sambandido', rótulo que o próprio recusou em vida

ANIVERSÁRIO
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Bezerra da Silva despontou como sucesso nacional aos 53 anos
 
‘E malandro é malandro
Mané é mané
Podes crer que é
Malandro é malandro
E mané é mané
Diz aí!’

Foi pelas vielas dos morros cariocas que um pernambucano que chegou ao Rio escondido em um navio encontrou a sua identidade musical. José Bezerra da Silva completaria, nessa quinta-feira, 90 anos se estivesse vivo.

Até os 77, quando morreu, foi um dos principais porta-vozes da malandragem e do cotidiano na favela. Ainda adolescente, Bezerra da Silva deixou o Nordeste pra fugir da miséria e adotou o Morro do Cantagalo, na Zona Sul do Rio, como abrigo.

Lá, conheceu músicos, compositores e começou a desenvolver um estilo particular de cantar samba. De esquina em esquina, garimpava letras que exploravam seu tema favorito: críticas sociais, com um humor ácido e certeiro.

‘Quando os federais grampearam
E levaram o vizinho inocente
Na delegacia ele disse
Doutor não sou agricultor, desconheço a semente’

Algumas das composições eternizadas na voz do cantor, que brincam com consumo de drogas e ironizam as ‘duras’ da polícia, lhe renderam até acusações de apologia. Bezerra também foi taxado como intérprete de ‘sambandido’, rótulo que o próprio recusou em vida.

‘Bezerra é cantor de bandido, fica idolatrando marginal. Eu digo, bicho, quem defende bandido é advogado. Como eles dizem a realidade, que dói, diz que eu sou cantor de bandido porque os autores que cantam pra mim são favelados.’

‘Meu vizinho jogou
Uma semente no seu quintal
De repente brotou
Um tremendo matagal’

Apesar de encarnar o típico malandro carioca, Bezerra da Silva é descrito como um cara família, que se orgulhava de nunca ter sido fichado nas dezenas de vezes em que foi levado pra ‘averiguação.’

Mais velho dos três filhos do artista, o músico Ytallo Bezerra diz que o pai criou um personagem pra retratar o dia a dia da periferia. Mas, em casa, sempre ensinou a diferença entre o malandro e o mané.

‘Ser malandro pro Bezerra é sinônimo de ser uma pessoa inteligente. E aí, automaticamente, alguém entende que ser malandro é ser safado, mas é totalmente diferente. Ele criou esse personagem pra retratar o dia a dia da galera, mas, no dia a dia dele, ele era tranquilão.’

‘Malandro é o cara
Que sabe das coisas
Malandro é aquele
Que sabe o que quer
Malandro é o cara
Que tá com dinheiro
E não se compara
Com um Zé Mané’

Seus principais parceiros musicais eram homens simples, como ele, que trabalhavam de carteiro, servente de obra e camelô. A cineasta Marcia Derraik, que dirigiu o documentário ‘Onde a coruja dorme’, conta que ele tinha trânsito livre em qualquer lugar graças à relação de lealdade que estabeleceu com os compositores dos sambas que gravou.

‘É como ele conceituava o trabalho dele. Ele dizia que queria ir onde a coruja dorme, onde ninguém vai. Ele ia com o gravador pra gravar o samba das pessoas e fazer uma espécie de garimpo. Desde cedo, ele já ficou conhecido como o homem do gravador e alguém que tinha um comprometimento sério com a música e os compositores. Tanto é que ele dizia que podia ir a qualquer quebrada sem pedir autorização de ninguém.’

Bezerra da Silva despontou como sucesso nacional aos 53 anos e se consolidou como uma máquina de lançar hits que até hoje são reverenciados pelas novas gerações.

‘Vou apertar
Mas não vou acender agora
Vou apertar
Mas não vou acender agora
Eh! Se segura malandro
Pra fazer a cabeça tem hora’

A fala de Bezerra da Silva foi extraída do filme ‘Onde a coruja dorme’, de Marcia Derraik e Simplício Neto.


Fonte: CBN

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