Montanha de sucata no campus Praia Vermelha da UFF Foto: Guilherme Pinto / Extra
Asfixiadas e negligenciadas, as universidades públicas federais ainda pulsam. Mas sobrevivem a cada ano com mais dificuldades, somando problemas e subtraindo verba de custeio, numa equação que entrou em colapso após o último anúncio de bloqueio no orçamento, feito em julho pelo Ministério da Educação. Foi o terceiro este ano. No Rio, acumulando dívidas, unidades como a UFRJ correm risco de paralisar serviços a partir do mês que vem. Nos campi, o retrato da crise: obras abandonadas, bibliotecas com acervos ultrapassados, mobiliário quebrado, infiltrações, banheiros insalubres, elevadores parados, telefones cortados, falta de materiais, demissões e atraso nos salários de terceirizados, com redução no serviço de limpeza e segurança.
Aluno de História e coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal Fluminense (UFF), João Neto conta que, em maio, os estudantes se uniram para capinar o matagal que tornava os campi do Gragoatá e da Praia Vermelha, em Niterói, mais inseguros e infestados de mosquitos:
No campus da UFF, estudantes convivem com o abandono Foto: Guilherme Pinto / Extra
No alojamento da Rural, alunos desviam de goteiras Foto: arquivo pessoal
A falta de iluminação é outra queixa dos alunos da UFF na Praia Vermelha.
— Procuramos andar em grupo. O caminho que leva ao bloco H é escuro e fica ao lado do esqueleto abandonado do Instituto de Farmácia. Os tapumes da obra, parada desde 2015, caíram e qualquer um pode se esconder ali — diz Mariáh Valentim, de 24 anos, estudante de Engenharia Ambiental, informando que o telhado da biblioteca da Engenharia está ameaçando cair.
Há oito meses à frente da reitoria da UFF, Antonio Claudio Lucas Nóbrega tenta colocar ordem na casa tendo nos cofres R$ 10 milhões:
— Isso é menos do que o necessário para manter a universidade em setembro. Além do contingenciamento, tivemos bloqueio de 30% do orçamento para contas de custeio. São menos R$ 52 milhões. Confiamos na liberação de recursos este mês. A UFF ficará aberta.
UFRJ prestes a parar
A situação orçamentária da UFF não difere da de outras federais, como a UFRJ, a Federal do Estado do Rio (Unirio) e a Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Isso porque todas foram atingidas pelos contingenciamentos de verba impostos ao MEC neste ano. Em março, foram bloqueados R$ 5,8 bilhões. Em abril, 30% da verba das universidades foram retirados. Em julho, outro decreto bloqueou R$ 348,47 milhões. O corte, segundo o governo, foi aplicado sobre gastos não obrigatórios, como água, luz, terceirizados, obras, equipamentos e realização de pesquisas. Despesas obrigatórias, como pagamento de salários, não foram afetadas.
O esqueleto do novo alojamento, da UFRJ: obra parada Foto: Guilherme Pinto / Extra
Na Cidade Universitária da UFRJ, na Ilha do Fundão, esqueletos de prédios que já deveriam estar prontos há anos estão abandonados. E edifícios inaugurados em 1972, projetados por grandes arquitetos, estão em estado de penúria. O que abriga a Faculdade de Arquitetura e a reitoria está com os pilotis pichados, repleto de infiltrações e com vidraças quebradas. Os andares afetados pelo incêndio de 2016 seguem fechados, assim como a ala do alojamento estudantil que pegou fogo em 2017.
Os pilotis do prédio da reitoria da UFRJ, no Fundão, estão pichados, e o chão, esburacado Foto: Guilherme Pinto / Extra
— Do quinto ao oitavo andares, está tudo interditado. Em alguns, não há banheiro em condições de uso. Este período, algumas disciplinas estão sendo fundidas em uma, porque a universidade não está podendo contratar professor substituto — conta o estudante de Arquitetura Felipe Levy Lopes, de 24 anos.
Em nota, a reitoria da UFRJ informou que, sem os recursos pelo MEC, a universidade pode ter serviços paralisados neste mês.
Unirio faz cortes
Na Unirio, estudantes relatam que o serviço de transporte entre as cinco unidades da universidade foi reduzido, houve demissão de funcionários terceirizados e faltam materiais básicos como papel, além de produtos para a limpeza. Outro problema é a manutenção dos prédios antigos.
— Muitas bolsas de monitoria foram cortadas no início do ano — diz Rafaella Giordano, de 19 anos, aluna de Letras.
A Unirio tem dívidas que chegam a R$ 36,1 milhões e restam R$ 6,1 milhões em caixa para chegar a dezembro. Em nota, a reitoria afirmou que está tomando medidas de economia e não vai suspender atividades.
Em Seropédica, as condições do campus da UFRRJ também refletem a crise.
— Estamos enfrentando vários problemas estruturais, como a manutenção dos prédios, principalmente alojamentos e laboratórios. As instalações elétricas são antigas. A iluminação no campus é péssima — conta Gustavo Cunha, de 22 anos, aluno de Matemática e integrante do DCE.
O reitor da Rural, Ricardo Berbara, afirmou que, em função do bloqueio de R$ 22 milhões, precisou cortar “perto de 50% da folha de terceirizados, correios, gastos com combustível e segurança’’:
— Isso implica em risco ao bem-estar e à segurança. São 1.800 estudantes alojados. Não temos dívidas com fornecedores, mas a Rural tem hoje R$ 35 em conta.
Em nota, o Ministério da Educação afirmou que “caso o cenário econômico apresente evolução positiva neste segundo semestre, os valores bloqueados serão reavaliados”.
(Por:Extra.Globo.com.br)
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