domingo, 1 de setembro de 2019

Universidades federais do Rio De Janeiro pedem socorro

SOCORRO
Montanha de sucata no campus Praia Vermelha da UFF
Montanha de sucata no campus Praia Vermelha da UFF Foto: Guilherme Pinto / Extra

Asfixiadas e negligenciadas, as universidades públicas federais ainda pulsam. Mas sobrevivem a cada ano com mais dificuldades, somando problemas e subtraindo verba de custeio, numa equação que entrou em colapso após o último anúncio de bloqueio no orçamento, feito em julho pelo Ministério da Educação. Foi o terceiro este ano. No Rio, acumulando dívidas, unidades como a UFRJ correm risco de paralisar serviços a partir do mês que vem. Nos campi, o retrato da crise: obras abandonadas, bibliotecas com acervos ultrapassados, mobiliário quebrado, infiltrações, banheiros insalubres, elevadores parados, telefones cortados, falta de materiais, demissões e atraso nos salários de terceirizados, com redução no serviço de limpeza e segurança.

Aluno de História e coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal Fluminense (UFF), João Neto conta que, em maio, os estudantes se uniram para capinar o matagal que tornava os campi do Gragoatá e da Praia Vermelha, em Niterói, mais inseguros e infestados de mosquitos:

— Antes dos cortes, a UFF já funcionava com dificuldades. Os terceirizados vinham com salários atrasando. No fim de junho, a reitoria trocou as empresas de limpeza e vigilância. O efetivo caiu pela metade.

No campus da UFF, estudantes convivem com o abandono
No campus da UFF, estudantes convivem com o abandono Foto: Guilherme Pinto / Extra

No alojamento da Rural, alunos desviam de goteiras
No alojamento da Rural, alunos desviam de goteiras Foto: arquivo pessoal

A falta de iluminação é outra queixa dos alunos da UFF na Praia Vermelha.

— Procuramos andar em grupo. O caminho que leva ao bloco H é escuro e fica ao lado do esqueleto abandonado do Instituto de Farmácia. Os tapumes da obra, parada desde 2015, caíram e qualquer um pode se esconder ali — diz Mariáh Valentim, de 24 anos, estudante de Engenharia Ambiental, informando que o telhado da biblioteca da Engenharia está ameaçando cair.

Há oito meses à frente da reitoria da UFF, Antonio Claudio Lucas Nóbrega tenta colocar ordem na casa tendo nos cofres R$ 10 milhões:

— Isso é menos do que o necessário para manter a universidade em setembro. Além do contingenciamento, tivemos bloqueio de 30% do orçamento para contas de custeio. São menos R$ 52 milhões. Confiamos na liberação de recursos este mês. A UFF ficará aberta.

UFRJ prestes a parar
A situação orçamentária da UFF não difere da de outras federais, como a UFRJ, a Federal do Estado do Rio (Unirio) e a Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Isso porque todas foram atingidas pelos contingenciamentos de verba impostos ao MEC neste ano. Em março, foram bloqueados R$ 5,8 bilhões. Em abril, 30% da verba das universidades foram retirados. Em julho, outro decreto bloqueou R$ 348,47 milhões. O corte, segundo o governo, foi aplicado sobre gastos não obrigatórios, como água, luz, terceirizados, obras, equipamentos e realização de pesquisas. Despesas obrigatórias, como pagamento de salários, não foram afetadas.

O esqueleto do novo alojamento, da UFRJ: obra parada
O esqueleto do novo alojamento, da UFRJ: obra parada Foto: Guilherme Pinto / Extra

Na Cidade Universitária da UFRJ, na Ilha do Fundão, esqueletos de prédios que já deveriam estar prontos há anos estão abandonados. E edifícios inaugurados em 1972, projetados por grandes arquitetos, estão em estado de penúria. O que abriga a Faculdade de Arquitetura e a reitoria está com os pilotis pichados, repleto de infiltrações e com vidraças quebradas. Os andares afetados pelo incêndio de 2016 seguem fechados, assim como a ala do alojamento estudantil que pegou fogo em 2017.

Os pilotis do prédio da reitoria da UFRJ, no Fundão, estão pichados, e o chão, esburacado
Os pilotis do prédio da reitoria da UFRJ, no Fundão, estão pichados, e o chão, esburacado Foto: Guilherme Pinto / Extra

— Do quinto ao oitavo andares, está tudo interditado. Em alguns, não há banheiro em condições de uso. Este período, algumas disciplinas estão sendo fundidas em uma, porque a universidade não está podendo contratar professor substituto — conta o estudante de Arquitetura Felipe Levy Lopes, de 24 anos.

Em nota, a reitoria da UFRJ informou que, sem os recursos pelo MEC, a universidade pode ter serviços paralisados neste mês.

Unirio faz cortes
Na Unirio, estudantes relatam que o serviço de transporte entre as cinco unidades da universidade foi reduzido, houve demissão de funcionários terceirizados e faltam materiais básicos como papel, além de produtos para a limpeza. Outro problema é a manutenção dos prédios antigos.

— Muitas bolsas de monitoria foram cortadas no início do ano — diz Rafaella Giordano, de 19 anos, aluna de Letras.

A Unirio tem dívidas que chegam a R$ 36,1 milhões e restam R$ 6,1 milhões em caixa para chegar a dezembro. Em nota, a reitoria afirmou que está tomando medidas de economia e não vai suspender atividades.

Em Seropédica, as condições do campus da UFRRJ também refletem a crise.

— Estamos enfrentando vários problemas estruturais, como a manutenção dos prédios, principalmente alojamentos e laboratórios. As instalações elétricas são antigas. A iluminação no campus é péssima — conta Gustavo Cunha, de 22 anos, aluno de Matemática e integrante do DCE.

O reitor da Rural, Ricardo Berbara, afirmou que, em função do bloqueio de R$ 22 milhões, precisou cortar “perto de 50% da folha de terceirizados, correios, gastos com combustível e segurança’’:

— Isso implica em risco ao bem-estar e à segurança. São 1.800 estudantes alojados. Não temos dívidas com fornecedores, mas a Rural tem hoje R$ 35 em conta.

Em nota, o Ministério da Educação afirmou que “caso o cenário econômico apresente evolução positiva neste segundo semestre, os valores bloqueados serão reavaliados”.


(Por:Extra.Globo.com.br)

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