DADOS DO SUS
Paciente sendo atendido em UTI, no Rio de Janeiro, em junho. O índice de
mortalidade de homens é maior devido a vários fatores. Entre eles,
especialistas apontam a menor predisposição masculina a cuidar da saúde e
respeitar as regras de isolamento. Foto: Fabio Teixeira / NurPhoto via
Getty Images
Adelson José da Silva, de 67 anos, morreu em decorrência da Covid-19 no
dia 5 de maio. Ele era pardo, havia cursado até o ensino médio e vivia
em área urbana. Essas características, somadas à idade e à presença de
ao menos uma comorbidade, diabetes, o colocam no grupo em que, segundo
dados coletados no Sistema Sivep-Gripe, do OpenDataSUS, mantido pelo
Sistema Único de Saúde, está a vítima-padrão da Covid-19 no Brasil.
Um levantamento exclusivo encomendado por ÉPOCA à consultoria Lagom
Data, em que foram analisados dados de 54.488 vítimas, mostra o que
dizem os mortos sobre a pandemia no Brasil. A conclusão é que, por
razões socioeconômicas e sociodemográficas, a doença matou mais pobres e
pardos, mais homens que mulheres e mais jovens do que em outros países
onde a pandemia inviabilizou sistemas de saúde, como na Itália e na
Espanha.
Por meio do Sistema Sivep-Gripe, é possível ler o que
cada profissional da saúde escreveu na ficha de cada paciente infectado
pelo novo coronavírus no Brasil. A inserção tem uma certa defasagem: na
terça-feira 30, última coleta feita pela reportagem, eram contabilizadas
54.488 mortes, enquanto os números do Ministério da Saúde estavam em 60
mil.
Regiões brasileiras apresentam diferenças na composição racial dos mortos pela Covid-19
Foto: Dados do Brasil: Sivep Gripe / Opendatasus
Sexo, idade e localização são as informações mais completas nas fichas
pesquisadas. Com isso, é possível saber que 96% dos pacientes que
morreram de Covid-19 após serem internados no Brasil viviam em zonas
urbanas e quase seis em cada dez eram homens. A cor da pele é preenchida
em cerca de dois terços das fichas e, apesar das lacunas, os números
evidenciam o impacto da desigualdade.
Das vítimas cuja cor foi identificada, 61% constam como pardas e pretas,
enquanto, segundo o IBGE, os pardos e pretos no país representam 54%.
No Norte, 86% das vítimas eram pardas e pretas, um número
proporcionalmente maior do que a desses fenótipos na população da região
— que é de 76%. No Nordeste, eram 82% dos mortos, mesmo sendo apenas
70% da população, de acordo com o IBGE.
Protesto em favor das vítimas da pandemia na Esplanada dos Ministérios,
em Brasília. O país superou a marca de 60 mil mortos na quarta-feira 1º
de julho. Foto: Sergio Lima / AFP
“Os dados do SUS mostram que, por razões socioeconômicas e
sociodemográficas, a Covid-19 matou mais pobres e pardos, mais homens
que mulheres e mais jovens do que em outros países onde a pandemia
inviabilizou sistemas de saúde”
Ao analisar a média de idade das vítimas, o levantamento mostra
importantes oscilações entre os estados — em Mato Grosso, 40% dos mortos
tinham menos de 60 anos, enquanto no Rio Grande do Sul apenas 21%
estavam nessa faixa —, e também que os brasileiros morreram mais jovens
na comparação internacional.
No Brasil, a média para mulheres é de
70 anos e para os homens de 67. Mas, quando se observa as idades por
categorias, há maior percentual de vítimas mais jovens do que a média de
países europeus. No Brasil, cerca de 6% das vítimas tinham entre 40 e
49 anos, enquanto em países como Itália, Espanha e Suécia, esse
porcentual não passou de 1%.
Já entre 50 e 59 anos, os
brasileiros que morreram em decorrência da pandemia superavam 10% do
total. Nos três países europeus, as vítimas nessa faixa etária eram
menos de 5%. Na Espanha e na Itália, 40% das vítimas tinham entre 80 e
90 anos. No Brasil, essa faixa correspondia a cerca de 20% dos mortos.
Nos Estados Unidos, 19% dos mortos tinham menos de 65 anos. No Brasil,
26% tinham menos de 60 anos.
(Marcelo Soares, com reportagem de Alice Cravo e Constança Tatsch/Época)
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