O ator Leonardo Villar na época da novela 'Passione' Foto: TV GLOBO / Zé Paulo Cardeal / Divulgação
Leonardo Villar e Glória Menezes em cena do premiado filme "O pagador de promessas", de 1962. Ator morreu nesta sexta-feira, ao 96 anos, vítima de uma parada cardíaca Foto: Divulgação
RIO — Aos 96 anos, Leonardo Villar morreu na manhã de sexta-feira. Ele não resistiu a uma parada cardíaca. Na semana passada, Villar havia passado mal em casa e foi levado a um hospital de São Paulo, onde estava internado desde então.
Para o cineasta François Truffaut (1932-1984), ícone da Nouvelle Vague, Leonardo Villar integrava, nos anos 1960, o rol dos melhores atores do mundo. Tal admiração surgiu após o francês conferir, com seus próprios olhos, o desempenho do ator como Zé do Burro, no filme “O pagador de promessas” (1962). A produção, adaptada da peça de Dias Gomes e dirigida por Anselmo Duarte, trouxe de Cannes para o Brasil, em 1962, a única Palma de Ouro que o país ostenta até hoje. No ano seguinte, foi indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro e mostrou ao mundo, definitivamente, o talento de Villar.
Se a imensa projeção foi graças à estreia no cinema, o ator já tinha uma trajetória significativa no teatro. Nascido Leonildo Motta, na cidade de Piracicaba (SP), em 1923, Leonardo Villar ingressou na Escola de Arte Dramática (EAD) com o aval de Cacilda Becker (1921-1969), em 1946. Logo após o teste que vaticinou a entrada do jovem aspirante na instituição, a atriz se virou para o crítico Décio de Almeida Prado e disse: “Acho que ganhamos um ator”.
Formado, ingressou na Companhia Dramática Nacional (CDN), onde foi dirigido por ninguém menos que Bibi Ferreira. Também passou oito anos no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), onde, em 1958, protagonizou uma histórica montagem de “Panorama visto da ponte”, de Arthur Miller. O palco, aliás, moldou a base da trajetória de Villar, que encenou montagens de clássicos como “Gata em teto de zinco quente”, de Tennessee Williams, “A dama das camélias”, de Dumas, e “Personagens à procura de um autor”, de Pirandello.
O ator também é conhecido por ter susbtituído Sergio Cardoso em "O primeiro amor", em 1972, após o amigo morrer de um ataque cardíaco a menos de um mês do fim das gravações. Na TV, aliás, Villar fez mais de 30 novelas, como “Estúpido Cupido” (1976), “Barriga de Aluguel” (1990) , “Amazônia” (1991), “Laços de Família” (2000). O último trabalho na TV Globo foi na novela “Passione” (2010).
'Não tem espetáculo'
Apesar da forte ligação com o teatro, os anos recentes demonstravam um Leonardo Villar desgostoso com as coxias. Em entrevista concedida a Artur Xexéo, no GLOBO, em março de 2008, o ator chegou a afirmar que o teatro havia perdido sua magia.— Não gosto de falar muito sobre isso. Vão dizer que é saudosismo, que estou velho. Mas as peças tinham dez, 15 atores, cenários... Hoje em dia, é um telão lá atrás a alguns acessórios. Tem que ter um texto muito bom para te segurar. Porque espetáculo não tem.
À época da entrevista, Villar estava lançando o filme “Chega de saudade”, de Laís Bodanzky. Aliás, sua carreira no cinema também merece grande destaque, com pelo menos três joias no currículo: “Lampião, o rei do cangaço”, de Carlos Coimbra, “A grande cidade”, de Cacá Diegues, e “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Roberto Santos. Além, claro, do premiadíssimo “O pagador de promessas”.
(O Globo)
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