MEDICAÇÃO
Álvaro Dias anunciou a distribuição de mais de 1 milhão de comprimidos de ivermectina
O ginásio Nélio Dias, na zona Norte de Natal, vai abrigar ainda esta
semana um centro de profilaxia e tratamento para a Covid-19. Segundo o
prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), que também é médico, a proposta é
a de distribuir no local a ivermectina, um medicamento antiparasitário,
como medida profilática contra doença. No entanto, não há comprovação
científica sobre a eficácia do fármaco contra a infecção do novo
coronavírus.
“Vamos iniciar um trabalho de distribuição em massa da Ivermectina,
com todo o acompanhamento médico necessário. Está comprovado que esse
medicamento é eficaz na prevenção do coronavírus e vamos usar essa arma
em nosso favor para vencer a guerra contra essa pandemia”, explicou
Álvaro Dias, em publicação no Twitter.
A criação do centro de profilaxia foi aprovada pelo Comitê Científico
de combate à Covid-19 Município. O colegiado é formado por
representantes da classe médica da capital. Após anuência dos
especialistas, em reunião que ocorreu no último domingo (28), a
prefeitura municipal decidiu adotar a ivermectina como medida
profilática contra a doença viral.
Segundo o titular da Secretaria Municipal de Saúde, George Antunes,
serão adquiridos 1 milhão de comprimidos de ivermectina. O fármaco será
distribuído no centro de tratamento do Ginásio Nélio Dias e nas unidades
básicas de saúde. A distribuição, ainda de acordo com o município, será
feita mediante prescrição médica.
O infectologista e imunologista potiguar Fernando Suassuna,
entretanto, é um dos entusiastas do uso da ivermectina. De acordo com o
médico, que vem a estudando há alguns meses, em laboratório, a
medicação, em até 48h, “consegue eliminar 97% dos vírus dentro das
células e 94% no sobrenadante das células. Seria uma ação efetiva e
rápida”, comentou.
No entanto, apesar do uso do medicamento já ocorrer em diversas
partes do Brasil no controle da Covid-19, a ivermectina não tem
comprovação científica de eficácia contra o coronavírus. Até o momento,
um dos poucos estudos relacionados com o fármaco foi produzido em abril
pelo Biomedicine Discovery Institute (BDI) da Monash University, em
Melbourne, na Austrália. A análise mostrou que a droga tem atividade
antiviral contra o vírus causador da Covid-19. No entanto, as pesquisas
preliminares foram feitas apenas “in vitro”, em análises laboratoriais,
sem a promoção de testes em seres humanos.
Além disso, os pesquisadores australianos apontam que o medicamento
não deve ser usado em seres humanos para combater a Covid-19 sem testes
clínicos. “O potencial uso da ivermectina no combate da Covid-19
continua sem comprovação. A utilização depende dos resultados de testes
pré-clínicos e ensaios clínicos para o progresso dos trabalhos”,
detalhou a pesquisa.
Segundo informações da Liga Acadêmica de Medicina Tropical e
Infectologia da Universidade Federal da Paraíba (Lamti-UFPB), para
inibir a replicação do coronavírus, nas análises laboratoriais, a
concentração plasmática do medicamento precisa de 2,2 mil nanogramas por
mililitro (ng/ml). A instituição aponta, no entanto, que dois
comprimidos de ivermectina têm apenas 25 ng/ml.
Desta forma, segundo o comparativo feito pelos pesquisadores
paraibanos, para conseguir impedir o contágio, o indivíduo teria de
ingerir 176 comprimidos de ivermectina. “Essa posologia seria
inantingível. Sem contar que 98% da dose administrada de ivermectina é
excretada pelas fezes sem sofrer absorção”, aponta a Lamti-UFPB.
O médico infectologista Alexandre Motta, que atua no Hospital Giselda
Trigueiro, unidade de referência para o atendimento de pacientes com a
Covid-19 no Estado, também condena o uso profilático do medicamento em
pacientes acometidos com infecção do novo coronavírus. “Desperdício de
recursos públicos de algo sem comprovação científica que vai gerar nas
pessoas uma falsa sensação de proteção e uma elevação dos níveis de
contaminação”, pontuou.
Segundo a bula do medicamento, a droga não pode ser usada por pessoas
que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família
tenham tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer
outro componente de sua fórmula. Além disso, alguns indivíduos podem
sofrer com diarreia, náuseas, dor abdominal, falta de apetite, entre
outros.
Procurada pela Agora RN, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) aponta que a ivermectina está registrada
apenas para o combate de infecções causadas por parasitas. Sobre a
prescrição para a Covid-19, o órgão informa que a utilização não está
registrada contra essa doença, sendo, desta forma, não reconhecida pela
agência como eficaz contra ela.
(Por:AgoraRN)
Nenhum comentário:
Postar um comentário