MORTE DE HOMEM NEGRO NO SUL
Manifestantes da Barra da Tijuca usam cartazes para protestar contra
morte de homem negro em um supermercado Carrefour de Porto Alegre
Rio - Cerca de 200 manifestantes fizeram um protesto no Carrefour da Barra da Tijuca, na Zona Oeste, após a morte de um homem negro, identificado como João Alberto Silveira Freitas,
em uma unidade do supermercado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O
ato, totalmente dispersado por volta das 18h50, terminou sem
incidentes. A reportagem do DIA, que esteve no local,
acompanhou os protestos dentro e fora do mercado, onde ativistas
carregaram faixas, cartazes e entoaram cânticos antirracismo e contra
racistas. O ato também teve a presença de personalidades negras e
brancas. Um dos momentos de tensão, mais ao fim da manifestação,
transcorreu quando os presentes organizavam a saída do local junto a
funcionários e clientes, para evitar represálias da Polícia Militar. Os
PMs escoltaram o grupo para fora do estacionamento e a dispersão foi
pacífica.
A reportagem filmou o momento em que os presentes gritaram "racistas não
passarão", enquanto carregavam cartazes com dizeres como "sem luta, sem
paz", "Carrefour assassino" e outros frases contra o mercado e de cunho
antirracista. O protesto consistiu em lotar carrinhos com
produtos variados e bloquear os caixas. Uma cliente do supermercado
chegou a ligar para a polícia por não conseguir passar as compras e foi
aplaudida com ironia pelos protestantes. Os seguranças do
estabelecimento observaram a movimentação, antes da chegada dos
policiais miliatares. Alguns manifestantes aproveitaram equipamentos de
som à venda no mercado para repetir mensagem "não comprem, não colaborem
com um mercado racista". Em um dado momento, os protestantes colocaram
para tocar a música "Olho de Tigre", do rapper mineiro Djonga, conhecido
canção antirracismo.
Por volta das 18h10, os manifestantes pediram a liberação dos
funcionários do estabelecimento. Após um breve momento de tensão
envolvendo o gerente do Carrefour Barra, que pediu aos funcionários que
arrumassem a loja antes da dispensa, o que foi recusado pelos
manifestantes, o homem cedeu e concordou em dispensar a equipe na parte
de trás da loja, onde há o relógio de ponto.
@jornalodia
Cerca de 200 pessoas fazem um protesto no Carrefour da Barra da Tijuca após morte de homem negro em um supermercado de Porto Alegre. #ODia
Crédito: Lucas Cardoso
Os manifestantes negociaram a saída junto ao gerente,
para evitar represálias. A Polícia Militar acompanha o ato com cinco
viaturas e homens da cavalaria da corporação. Os ativistas combinaram
que o gerente deixaria o local primeiro e, após, clientes brancos e os
ativistas, todos em blocos. Pessoas brancas formaram um cordão, de mãos
dados, em frente à polícia, para proteger os negros. Às 18h35, o
protesto seguiu no estacionamento da loja. Os manifestantes exibiram
cartazes e faixas, como haviam feito mais cedo no início do ato.
A reportagem também flagrou PMs filmando os
ativistas, que se dispersaram em duplas e trios com medo de repressão
dos policiais. Eles seguiram entoando cânticos contra o racismo e outros
com xingamentos ao presidente Jair Bolsonaro. Logo depois, o ato foi
totalmente dispersado.
No local, também estiveram artistas como Tico Santa Cruz, Patrícia
Pillar, o rapper 'BK', Pretinho da Serrinha e Nego do Borel.
O ativista dos Direitos Humanos, Raull Santiago,
morador do Complexo do Alemão também esteve no Carrefour. "A gente está
aqui para dizer que basta. Isso só vai mudar de verdade se todo mundo
trouxer a responsabilidade para si. Esse país é racista, é desigual,
violento e precisa de uma mudança agora", disse Raull.
Ricardo Fernandes, estudante e ativista também falou
durante o protesto. "A gente está cansado de ser resistente. Só
queríamos ter a oportunidade de viver. Não nos gera orgulho ser
resistente. Nós queremos ter a experiência de simplesmente pessoas,
seres humanos".
Histórico desfavorável
O supermercado Carrefour já protagonizou outros escândalos antes de morte de João Alberto. Em agosto deste ano,
um homem de 53 anos morreu enquanto trabalhava em uma loja da rede em
Recife. Para não impactar as vendas, os funcionários da loja cobriram
seu corpo com guarda-sóis e tapumes e só o retiraram quando o movimento
da loja diminuiu, mantendo as vendas como se nada tivesse acontecido.
Um caso ocorrido em outubro de 2018 -
mas que só veio à tona com imagens de segurança divulgadas em março de
2019 - também chamou a atenção pelo uso desproporcional de força
direcionado a um negro - e que também era deficiente físico.
Luís Carlos Gomes abriu uma latinha de cerveja dentro
de uma unidade da rede em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e, ao
ser questionado por funcionários da loja, disse que pagaria pelo
produto. Em seguida, o homem, negro e deficiente físico, foi perseguido
por um gerente da loja e por um segurança, encurralado e agredido dentro
do banheiro da unidade.
No final de 2018, um segurança de
uma unidade em Osasco agrediu e matou um cachorro com uma barra de
ferro. Na ocasião, nenhum funcionário da loja socorreu o animal, que foi
levado a uma clínica veterinária por uma pessoa que estava passando, e
não sobreviveu. Manchinha, como era conhecido, era dócil e e abandonado e
circulava pelo estacionamento do supermercado.
(Por Lucas Cardoso/O Dia)
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