terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Alberto Fernández pede a Bolsonaro para deixarem ‘diferenças no passado.’ Presidente argentino pediu trabalho conjunto na questão ambiental, brasileiro destacou importância do combate ao crime transnacional

AMÉRICA DO SUL

 Jair Bolsonaro (c) se absteve de cumprimentar Alberto Fernández (esq.) após sua vitória eleitoral em julho de 2019, e não compareceu à posse em 10 de dezembro, incomodado pela campanha do peronista a favor da libertação de Lula - 30/11/2020 Presidência Argentina/AFP

O presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Argentina, Alberto Fernández, realizaram nesta segunda-feira, 30, sua primeira reunião privada desde a vitória do líder argentino nas eleições do ano passado. Segundo comunicado da Casa Rosada, Bolsonaro requisitou a colaboração entre as duas nações para o turismo e entre suas Forças Armadas, enquanto Fernández deu ênfase ao Mercosul e à questão ambiental.

“Estou realizando esta reunião para dar ao Mercosul o impulso de que precisa e é imperativo que Brasil e Argentina o façam juntos”, disse Fernández.

A reunião marca o Dia da Amizade entre ambos países, na data da criação do Mercosul, realizado pela primeira vez entre os ex-presidentes Raúl Alfonsín e José Sarney há 35 anos. Sarney participou do evento desta segunda-feira por teleconferência.

“É um dia muito importante para a Argentina e o Brasil e para todo o continente, porque pela primeira vez as pessoas começaram a pensar na integração do continente”, afirmou o argentino. Ele também pediu para deixar “as diferenças no passado e enfrentar o futuro com as ferramentas que funcionam bem entre nós, para realçar todos os pontos de concordância”.

O presidente brasileiro se absteve de cumprimentar Fernández após sua vitória eleitoral em julho de 2019, e não compareceu à posse em 10 de dezembro, incomodado pela campanha do peronista a favor da libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Temeroso de que Fernández, herdeiro de uma economia mergulhada em uma grave crise, adote políticas protecionistas, o governo Bolsonaro chegou a ameaçar deixar o Mercosul.

De acordo com a Casa Rosada, contudo, Bolsonaro destacou que “o Mercosul é o nosso principal pilar de integração” e pediu a geração de “mecanismos mais ágeis e menos burocráticos”. Ele também pediu o aprofundamento do turismo entre as duas nações.

Apesar das diferenças nas políticas econômicas, de saúde e sociais entre os governos brasileiro e argentino, o encontro entre os dois foi considerado um primeiro passo para a reaproximação entre os países, tradicionais parceiros comerciais.

Além disso, Fernández pediu a colaboração de Bolsonaro na questão ambiental, exigindo um acordo para a proteção da natureza.

“É um assunto que nos preocupa muito. Temos que fazer um acordo de preservação. Temos oportunidades em desenvolvimento para fornecer gás para a Argentina e o Brasil”, ressaltou.

O brasileiro, por outro lado, não prioriza o meio ambiente em sua agenda. No ano passado, declarou que na região apenas “veganos, que comem só vegetais”, estão preocupados com a questão ambiental, falou para “meter a foice em todo mundo no Ibama” e “não quero xiitas”, e costuma contrapor a preservação ambiental à economia, que, em sua opinião, são incompatíveis. Atualmente, um acordo entre a União Europeia e o Mercosul está suspenso devido à falta de um plano para proteger a Amazônia, palco de crescentes incêndios florestais.

Em nota, a Casa Rosada também informou que Bolsonaro destacou a colaboração entre as Forças Armadas dos dois países.

“Nossas Forças Armadas têm uma excelente integração. Vamos fortalecer nossa integração nas indústrias de defesa e avançaremos no combate ao narcotráfico e ao crime transnacional”, disse.

O Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina e a cooperação bilateral também ocorre em áreas como a saúde pública, permitindo a exportação de midazolam, insumo fundamental para o tratamento de pacientes com Covid-19 em estado grave. Abatido pela pandemia, o PIB argentino caiu 19,1% no segundo trimestre do ano, o maior colapso trimestral desde o início da estatística, em 1981.

A crise argentina e o recente afastamento entre Fernández e Cristina Kirchner, sua vice-presidente e mentora, símbolo da esquerda no país, podem ter ajudado na tentativa de reaproximação entre Fernández e Bolsonaro.

 

 (Por:Veja.com.br)

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