SINCERIDADE
Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal
Federal, está realizando essa semana sua primeira visita a Israel a
convite da Universidade Hebraica de Jerusalém, da qual recebeu o título
de Doutor Honoris Causa, no dia 31. Em entrevista, criticou o atual
governo dizendo que “os ideais do ‘partido dos metalúrgicos’ ficou no
passado. Hoje ele é detentor das rédeas do governo e um exemplo de como o
poder corrompe. No Brasil, quem chega ao poder não quer mais largá-lo”.
Bem-humorado e abertamente aliviado com o distanciamento
da política brasileira, Barbosa descartou a possibilidade de
candidatar-se à presidência, apesar de rumores em contrário. “Não tenho
nenhuma vontade. A política no Brasil se tornou uma coisa muito
desagradável”. Perguntado se desejaria participar do julgamento do
Petrolão, respondeu com um contundente “não”. “Não sinto nenhuma falta
da época em que atuei como ministro e o Mensalão ficou no passado. Hoje
estou focado em minha vida privada”.
Barbosa deixou o cargo depois de 11 anos no Supremo,
segundo ele um “bom tempo de serviço”. Fundou uma empresa de palestras e
um escritório de advocacia exclusivamente focado na emissão de
pareceres. Outro aspecto criticado pelo ex-ministro foi a falta de
diversidade de pensamento. “O Brasil atua como um bloco com a mesma
cabeça. E a visão que prevalece é aquela de quem tem o poder.”
Barbosa também afirmou que o Brasil recebe muito mais
atenção internacional do que no passado, mas que o “provincialismo
típico das elites brasileiras não permite maior projeção”. Citou com
otimismo o crescimento da cooperação internacional no combate à
corrupção e comentou os fatos recentes que envolvem a Fifa. ” Nos
últimos dez anos, a cooperação aumentou, principalmente em resultado da
pressão dos Estados Unidos. Ainda há muitos países que servem como porto
seguro para a corrupção, mas eles vêm cedendo. Assim, a atuação
conjunta entre os países tem se tornado mais fluida.”
O ex-ministro se mostrou positivamente surpreso com a
notícia da condenação e prisão do ex-primeiro-ministro israelense Ehud
Olmert. “Em uma democracia, não deve haver ninguém acima da lei. Se
alguém cometeu erros, deslizes e crimes, tem que responder por isso”,
afirmou. Perguntado sobre a possibilidade de os brasileiros verem um de
seus presidentes presos, ele mediu palavras. “Até hoje, tivemos um que
foi julgado e absolvido e, até agora, não há nenhuma prova que envolva a
atual presidente nas denúncias apresentadas. Mas digo o seguinte: é
condição da democracia, e prova de sua solidez e robustez, o fato de a
lei poder a qualquer momento recair sobre quem quer que seja, pouco
importando suas qualificações pessoais, sociais ou políticas”.
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