segunda-feira, 1 de junho de 2015

Joaquim Barbosa diz que não tem vontade de ser presidente do Brasil. Ex-ministro do STF disse que a política brasileira se tornou "muito desagradável"

SINCERIDADE


Barbosa fundou uma empresa de palestras e um escritório de advocacia. Foto: Divulgação
Barbosa fundou uma empresa de palestras e um escritório de advocacia. Foto: Divulgação
Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, está realizando essa semana sua primeira visita a Israel a convite da Universidade Hebraica de Jerusalém, da qual recebeu o título de Doutor Honoris Causa, no dia 31. Em entrevista, criticou o atual governo dizendo que “os ideais do ‘partido dos metalúrgicos’ ficou no passado. Hoje ele é detentor das rédeas do governo e um exemplo de como o poder corrompe. No Brasil, quem chega ao poder não quer mais largá-lo”.

Bem-humorado e abertamente aliviado com o distanciamento da política brasileira, Barbosa descartou a possibilidade de candidatar-se à presidência, apesar de rumores em contrário. “Não tenho nenhuma vontade. A política no Brasil se tornou uma coisa muito desagradável”. Perguntado se desejaria participar do julgamento do Petrolão, respondeu com um contundente “não”. “Não sinto nenhuma falta da época em que atuei como ministro e o Mensalão ficou no passado. Hoje estou focado em minha vida privada”.

Barbosa deixou o cargo depois de 11 anos no Supremo, segundo ele um “bom tempo de serviço”. Fundou uma empresa de palestras e um escritório de advocacia exclusivamente focado na emissão de pareceres. Outro aspecto criticado pelo ex-ministro foi a falta de diversidade de pensamento. “O Brasil atua como um bloco com a mesma cabeça. E a visão que prevalece é aquela de quem tem o poder.”
Barbosa também afirmou que o Brasil recebe muito mais atenção internacional do que no passado, mas que o “provincialismo típico das elites brasileiras não permite maior projeção”. Citou com otimismo o crescimento da cooperação internacional no combate à corrupção e comentou os fatos recentes que envolvem a Fifa. ” Nos últimos dez anos, a cooperação aumentou, principalmente em resultado da pressão dos Estados Unidos. Ainda há muitos países que servem como porto seguro para a corrupção, mas eles vêm cedendo. Assim, a atuação conjunta entre os países tem se tornado mais fluida.”

O ex-ministro se mostrou positivamente surpreso com a notícia da condenação e prisão do ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert. “Em uma democracia, não deve haver ninguém acima da lei. Se alguém cometeu erros, deslizes e crimes, tem que responder por isso”, afirmou. Perguntado sobre a possibilidade de os brasileiros verem um de seus presidentes presos, ele mediu palavras. “Até hoje, tivemos um que foi julgado e absolvido e, até agora, não há nenhuma prova que envolva a atual presidente nas denúncias apresentadas. Mas digo o seguinte: é condição da democracia, e prova de sua solidez e robustez, o fato de a lei poder a qualquer momento recair sobre quem quer que seja, pouco importando suas qualificações pessoais, sociais ou políticas”.

Durante a entrevista, o racismo foi outro tema abordado por Barbosa, o primeiro negro a ocupar a posição de ministro do STF. Segundo ele, o Brasil precisa manter políticas constantes e amplas para os 50% da população que está sendo marginalizada. “Achei vergonhosa a campanha da imprensa contra a política de cotas nas universidades. Ela bateu violentamente – e perdeu. Infelizmente, o atual governo não dá bola para a questão do racismo, muito embora exista grande necessidade de mudanças”.

Joaquim Barbosa foi uma das 13 personalidades internacionais a receber esse ano o título honorário da Universidade Hebraica de Jerusalém, dividindo o palco com o ex-presidente israelense Shimon Peres e o Ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier. Em anos anteriores, Paulo Henrique Cardoso e Celso Lafer também foram agraciados com o mesmo título.

Fonte: Terra

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