LAVA JATO
O juiz Sérgio Moro (Lula Marques/PT)
Depois de negar por cerca de duas horas ao juiz federal Sergio Moro que tivesse administrado uma conta-corrente de propina entre a Odebrecht e o PT, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci finalizou seu depoimento como réu, no dia 20 de abril, colocando-se à disposição do magistrado para entregar “fatos, com nome, endereço, operações realizadas e coisas que certamente vão ser do interesse da Lava Jato”.
Disse ainda que suas revelações renderiam a Moro e à força-tarefa da
operação ao menos mais um ano de trabalho e que só não falaria naquele
momento, em audiência pública, pela “sensibilidade da informação”.
Como amostra do poder de fogo das revelações que guarda em
sua cela em Curitiba, Palocci citou uma “grande personalidade do meio
financeiro” que lhe procurou para falar sobre recursos de campanha em
nome de “uma autoridade do primeiro escalão do governo”. Ele também deu a
entender que tem conhecimento de irregularidades praticadas em outros
setores da economia que não o petroquímico, como o de comunicação,
frigoríficos e da construção civil.
Na sentença em que condenou Antonio Palocci
a passar doze anos, dois meses e vinte dias na prisão, conhecida nesta
segunda-feira, Sergio Moro mostra que não se convenceu com a versão do
ex-ministro para os 130 milhões de reais que ele intermediou
criminosamente entre o departamento de propinas da empreiteira e
candidatos do PT nas eleições de 2008 e 2010 e muito menos com o aceno
público do petista a colaborar com a Justiça.
Para Moro, o gesto de Palocci teve outras intenções e os
destinatários do recado não eram, necessariamente, o juiz e os
procuradores da Lava Jato. Embora o ex-ministro negocie uma delação
premiada com o Ministério Público Federal, o magistrado interpretou as
declarações dele “como uma ameaça para que terceiros o auxiliem
indevidamente para a revogação da preventiva, do que propriamente como
uma declaração sincera de que pretendia naquele momento colaborar com a
Justiça”.
Ao justificar a prisão preventiva do petista, que se estende
desde a Operação Omertà, em setembro do ano passado, Moro assinalou que
Palocci “é um homem poderoso e com conexões com pessoas igualmente
poderosas e pode influir, solto, indevidamente contra o regular termo da
ação penal e a sua devida responsabilização”.
Se o ex-ministro e executivos da Odebrecht não tivessem sido
presos preventivamente, diz o juiz federal, “estariam hoje discutindo
acerca de novos repasses do saldo de sessenta e seis milhões de reais da
conta corrente geral de propina”.
Essa é a primeira condenação do petista na operação que
investiga um esquema de corrupção na Petrobras. Além da prisão, Antonio
Palocci terá que arcar com uma multa de 1,06 milhão de reais.
Alessandro Silvério, advogado de Palocci, informou que o
ex-ministro recorrerá da decisão. O defensor diz que, assim como nas
alegações finais, vai sustentar que as acusações feitas na denúncia do
Ministério Público Federal são “fatos atípicos” e que o petista é
inocente.
(Por
João Pedroso de Campos/Veja.Abril.com.br)
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