PRESIDENTE DENUNCIADO
O presidente Michel Temer (PMDB), que foi denunciado por Janot ao STF (Evaristo Sá/AFP)
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encaminhou na noite desta segunda-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia por corrupção passiva contra o presidente da República, Michel Temer (PMDB), e o ex-deputado federal e ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), com base nas investigações desencadeadas a partir das delações da JBS. Esta é a primeira vez na história do país que um presidente é denunciado no exercício do mandato.
“Entre os meses de março a abril de 2017, com vontade livre e
consciente, o presidente da República, Michel Miguel Temer Lulia,
valendo-se de sua condição de chefe do Poder Executivo e liderança
política nacional, recebeu para si, em unidade de desígnios e por
intermédio de Rodrigo Santos da Rocha Loures, vantagem indevida de
500.000 reais ofertada por Joesley Mendonça Batista, presidente da
sociedade empresária J&F Investimentos S.A., cujo pagamento foi
realizado pelo executivo da J&F Ricardo Saud”, afirma trecho da
denúncia.
Em outra parte, Janot diz que Temer e Rocha Loures, “em
comunhão de esforços e unidade de desígnios, com vontade livre e
consciente, ainda aceitaram a promessa de vantagem indevida no montante
de 38 milhões de reais.”
Apontado como o “homem da mala” de Michel Temer, Rodrigo
Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com 500.000 reais do diretor
de relações institucionais da JBS e delator Ricardo Saud em um
restaurante de São Paulo, no dia 24 de abril. O valor seria parte da
propina combinada com o ex-parlamentar para resolver uma pendência da
empresa no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Em encontro no Palácio do Jaburu na noite do dia 7 de
março, Temer indicou Rocha Loures como seu interlocutor de “estrita
confiança” a Joesley Batista, que gravava secretamente a conversa e
havia lhe perguntado se o Palácio do Planalto poderia ajudá-lo a vencer
um processo contra a Petrobras no Cade.
Janot afirma na denúncia que “possivelmente” também fazem
parte da organização criminosa composta por Michel Temer e Rodrigo Rocha
Loures os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e
Eliseu Padilha (Casa Civil), além do ex-ministro Geddel Vieira Lima
(PMDB-BA). “As práticas espúrias voltadas a atender interesses
privados, a partir de vultosos recursos públicos, não se restringem
àqueles reportados na denúncia ora ofertada. Percebe-se que a
organização criminosa não apenas esteve em operação, em passado recente,
como também hoje se mantém em plena atividade”, diz Rodrigo Janot.
O procurador-geral também cita crimes atribuídos pelos
delatores do Grupo J&F ao grupo político de Michel Temer em
contratos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), na Caixa
Econômica Federal e no Ministério da Agricultura, além do financiamento
ilícito da campanha de Eduardo Cunha à presidência da Câmara e a
abertura de uma conta-corrente com o operador Lúcio Bolonha Funaro para
pagamento de propinas.
Para o Janot, embora os crimes narrados pelos delatores não
tenham sejam objeto da denúncia apresentada ao STF, “a compreensão dos
ilícitos ali descritos ajudará a entender o motivo pelo qual os
integrantes do grupo do PMDB da Câmara dos Deputados reputavam
imprescindível a manutenção do silêncio do ex-deputado federal Eduardo
Cunha e do seu operador Lúcio Funaro, por meio da continuidade do
pagamento de propinas por Joesley Batista, mesmo depois da prisão
daqueles na ‘Operação Lava Jato’”.
Rodrigo Janot pediu o compartilhamento de informações entre o
inquérito 4483, no qual Michel Temer foi denunciado, e o 4327, que
apura crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização
criminosa por integrantes do chamado “PMDB da Câmara”.
A denúncia oferecida pelo PGR não pode ser instaurada diretamente no STF. O ministro Edson Fachin,
relator da Lava Jato na corte, deve enviar a acusação para a Câmara,
que decidirá se autoriza ou não a abertura do processo contra o
presidente. A denúncia tramitará pela Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) da Casa e então será submetida ao plenário, onde, para ser
instaurada, é preciso a aprovação de 342 dos 513 deputados.
Caso a denúncia avance na Câmara, os onze ministros do
Supremo analisarão o pedido de Rodrigo Janot e decidirão se Temer se
torna réu. Se a maioria decidir assim, o presidente será afastado do
Planalto por 180 dias.
Novas denúncias contra o presidente devem ser enviadas ao
STF nos próximos dias pelos crimes de obstrução de justiça e organização
criminosa.
(Por
Eduardo Gonçalves e João Pedroso de Campos/Veja.Abril.com.br)
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