MOBILIZAÇÃO
Alessandra Bernardo
alessabsl@gmail.com
O Rio Grande do Norte possui hoje cem pessoas na fila de espera para receber um rim e 95 aguardando uma doação de córnea. Apesar disso, o Estado apresenta um índice de 52% de recusa familiar para que os órgãos de seus entes que tiveram morte encefálica sejam doados e salvem vidas. Para diminuir esse número e garantir que a fila de espera seja zerada, a Central de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) realizou neste sábado (27), quando é comemorado o Dia Nacional de Doação de Órgãos, a II Caminhada pela Vida.
Segundo o secretário adjunto da Sesap, Marcelo Bessa, até 2013, o índice era de 60%, ou seja, de cada cem famílias consultadas, 60 responderam “não”. Mas devido uma série de atividades e palestras de conscientização sobre a importância da doação de órgãos e tecidos para transplantes que vem sendo realizada pela secretaria desde o início deste ano, o número caiu para 52%. Com isso, o Rio Grande do Norte aumentou o número de doações e possui atualmente 14,5 doadores para cada grupo de um milhão de habitantes, o que o coloca acima da média brasileira, que é de 13,5 para cada um milhão.
“No Brasil, a recusa é alta porque depende da família autorizar ou não o processo. A falta de informações sobre como é feito o procedimento, em que condição, como são retirados os órgãos e como ficará o corpo depois, atrapalha muito. E queremos desmistificar isso, mostra como é feito todo o procedimento e a seriedade com que trabalhamos, para que as pessoas se sintam interessadas em serem doadoras de órgãos e tecidos e autorizar que seus entes, que tenham tido morte encefálica, também nos ajudem a salvar vidas”, explicou.
Marcelo falou sobre a importância de se comunicar o desejo em ser um doador aos seus familiares, para que eles possam permitir o procedimento e que isso também é um dos objetivos da campanha, que foi desenvolvida durante todo o mês de setembro, com ciclo de palestras em instituições de educação, hospitais e empresas públicas e privadas. Ele disse também que, quem ainda tem dúvidas sobre o procedimento, pode procurar a Central de Transplantes, para esclarecimentos.
“É um trabalho grandioso, porque não é só sensibilizar as pessoas para que elas sejam doadoras, mas também seus familiares, daí a importância de expressar seu desejo em vida. Conseguimos baixar o índice de rejeição, mas ele ainda é alto, por isso, vamos continuar as ações de sensibilização. De janeiro até agosto, foram feitos 99 transplantes de córnea e 54 de rim, mas também estamos aptos para o de coração. Já fígado, a expectativa é que até o final do ano, retornemos o serviço”, afirmou.
A II Caminhada pela Vida saiu de frente do Campus Natal do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), na Avenida Salgado Filho, com chegada no prédio do Hemonorte, na Alexandrino de Alencar. No local, houve apresentação da banda de música da Polícia Militar e depoimentos de transplantados,
receptores e familiares de doadores.
“Minha vida mudou”
A dificuldade em encontrar um doador de órgãos no Rio Grande do Norte foi sentida de perto pelo aposentado José Amarildo Nobre, que passou pelo transplante há seis anos. Diagnosticado com paralisação da função renal, ele passou quase cinco anos fazendo hemodiálise quase diariamente e sofrendo com os sintomas da doença, que o deixavam debilitado.
“Meus rins estavam paralisando e eu não sabia, somente depois de muito tempo é que recebi um diagnóstico correto e comecei a fazer a hemodiálise, até entrar na fila de espera pelo órgão e encontrar um compatível. Lutei muito, mas só consegui um rim de um doador falecido, que teve morte encefálica e a família autorizou a doação. Isso mudou completamente a minha vida para melhor e tento conscientizar todos sobre a importância de ser um doador de órgãos e tecidos, ajudar a salvar vidas, como salvaram a minha”, afirmou.
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