CHUVAS
As fortes chuvas registradas em diversas regiões do Rio Grande do
Norte no início desta semana, incluindo municípios do interior que já há
bastante tempo sofrem com colapso no abastecimento de água, renovaram
as esperanças do homem do campo em um inverno mais generoso que nos
últimos anos. No entanto, as precipitações de agora não servem de
parâmetro para analisar a quantidade de chuvas que estariam previstas
para 2016.
De acordo com o meteorologista
Wellington Pinheiro, da Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn),
não é possível relacionar as precipitações do fim de dezembro com as
que são esperadas entre os meses de fevereiro a maio, época conhecida
como quadra chuvosa no estado. Segundo ele, os dois períodos sofrem com
interferência de fenômenos climáticos distintos.
As chuvas observadas desde o início do
verão, e com maior intensidade a partir do último final de semana do
ano, estão associadas ao Fenômeno El Niño e à atuação dos Vórtices
Ciclônicos de Ar Superior (VCANS), que são ocasionados pelo aquecimento
incomum das águas do Oceano Atlântico Sul, o que libera mais umidade na
atmosfera e instabiliza o clima, provocando precipitações de superiores a
70mm de volume.
Apesar de fortes, as chuvas
motivadas por esse evento atípico são isoladas e não costumam durar
muito tempo. A previsão é de que essas ocorrências se encerrem nas
próximas semanas. “Já as chuvas que acontecem a partir de fevereiro são
causadas pela zona de convergência intertropical e quanto a isso não
deveremos ter grandes mudanças. A previsão é de um período abaixo da
média, como nos outros anos”, explica o climatologista Wellington
Pinheiro.
Somente entre às 7h da manhã do último
domingo (28) e às 7h de segunda-feira (29), 59 municípios potiguares
relataram ocorrência de chuvas, sendo que os maiores volumes ficaram
concentrados na mesorregião Central Potiguar, sobretudo no município de
Equador, que registrou o maior índice pluviométrico do estado com 75,2
milímetros.
As outras cidades que também
registraram grande volume de chuva no início da semana foram Jaçanã (com
48,6mm), São Gonçalo do Amarante (42,5mm), Nova Cruz (35mm) e Baía
Formosa (33,5mm). Em Natal, as precipitações da madrugada de
segunda-feira atingiram 22,1mm.
Wellington
Pinheiro ainda esclarece que a possibilidade de boas chuvas no interior
potiguar, no período de inverno, não está totalmente descartada, porém
as chances de que isso ocorra são poucas.
“Pode
acontecer? Sim, pode. Mas a tendência é que não haja grandes mudanças do
quadro de estiagem que temos percebido recentemente. Essas chuvas do
final de dezembro e início de janeiro não podem servir de prelúdio para
um bom inverno”, declara.
RESERVATÓRIOS
Mesmo
com as recentes chuvas no interior do estado, ainda existem 13
reservatórios totalmente secos no Rio Grande do Norte, de acordo com a
última medição volumétrica realizada pela Secretaria do Estado do Meio
Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH). O órgão faz o monitoramento
da situação de 49 açudes, barragens e lagoas espalhados por todo o RN e
com capacidade superior a 5.000.000m³.
Dos 13,
nove estão situados na Bacia Apodi/ Mossoró (Lucrécia, Bonito II,
Malhada Vermelha, Pilões, Santana, Brejo, Jesus Maria José, Santo
Antonio de Caraúbas e Apanha Peixe). Os outros quatro são os
reservatórios de Zangarelhas, Dourado e Alecrim (na bacia do rio
Piranhas/Assu), além de Santa Cruz do Trairi, em Santa Cruz.
Por
outro lado, somente o reservatório Prata, localizado no município de
Goianinha, apresenta 100% da capacidade preenchida (9.321.194,00m³), no
entanto a última medição no local foi feita há mais de quatro anos e
meio. Com mais de 50%, surgem a Lagoa do Boqueirão, em Touros (84,07%), a
Lagoa de Extremoz (77,32%), Lagoa do Bonfim, em Nísia Floresta
(56,68%), e o reservatório do Pataxó, em Ipanguaçu (com 51,85% do volume
total).
Reabastecimento é normalizado após três anos em Carnaúba
O
último boletim pluviométrico da Emparn não registrou chuvas no
município de Carnaúba dos Dantas, distante aproximadamente 260 km da
capital potiguar. Apesar disso, a cidade, que era a que há mais tempo se
encontrava em situação de colapso no abastecimento de água no Rio
Grande do Norte, conseguiu reverter esse quadro nas últimas semanas.
Foram
exatos dois anos, onze meses e nove dias que a cidade precisou conviver
com a falta de água nas torneiras e nos reservatórios públicos. No
entanto, com a conclusão de uma adutora que passou a atender o município
de Carnaúbas dos Dantas, em dezembro, a intensa crise hídrica, que
perdurava desde 2012, pôde enfim ser amenizada.
A
obra foi inaugurada pelo Governador Robinson Faria e beneficia até 9 mil
pessoas que moram na cidade e em comunidades vizinhas, como Juazeiro e
Santo Antônio do Cobra, pertencentes ao município de Parelhas.
Na
ocasião, o chefe do Executivo destacou a importância do sistema adutor
para diversas famílias, que tinham despesas extras com a compra de
galões de água mineral ou de carros-pipa, mas também enfatizou a
necessidade de se continuar com o racionamento controlado.
“Vi
crianças e idosos carregando baldes de água, e assumi comigo mesmo o
compromisso de fazer o possível pra solucionar esta situação”, disse
Robinson no momento da inauguração da adutora.
A
construção possuí 25 km de extensão e será abastecida pelo açude
Boqueirão, localizado em Parelhas, e que pela última medição realizada
pela SEMARH, no dia 23 deste mês, encontrava-se com 7,36% da sua
capacidade total – um dos poucos que ainda não atingiu o colapso total
nessa região.
Os três anos de seca enfrentados por
Carnaúbas dos Dantas, porém, poderiam ter sido evitados caso a obra,
que foi iniciada em 2010 e com previsão para estar funcionando após
apenas dois anos, tivesse sido entregue no tempo certo. A construção da
adutora estava interrompida desde janeiro de 2013, pouco tempo após a
cidade entrar em colapso de abastecimento, e somente foi retomada em
julho.
NÚMEROS
Maiores volumes de chuva registrados no RN,
no início desta semana*:
Equador: 75,2mm
Jaçanã: 48,6mm
São Gonçalo do Amarante: 42,5mm
Nova Cruz: 35mm
Baía Formosa: 33,5mm
Senador Georgino Avelino: 27,9mm
Nísia Floresta: 27,2mm
Canguaretama: 26mm
Natal: 22,1mm
Montanhas: 17,8mm
Dados do Boletim Pluviométrico da Emparn