quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Chuvas não são prelúdio de bom inverno, diz Emparn

CHUVAS
 
As fortes chuvas registradas em diversas regiões do Rio Grande do Norte no início desta semana, incluindo municípios do interior que já há bastante tempo sofrem com colapso no abastecimento de água, renovaram as esperanças do homem do campo em um inverno mais generoso que nos últimos anos. No entanto, as precipitações de agora não servem de parâmetro para analisar a quantidade de chuvas que estariam previstas para 2016.
 
De acordo com o meteorologista Wellington Pinheiro, da Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn), não é possível relacionar as precipitações do fim de dezembro com as que são esperadas entre os meses de fevereiro a maio, época conhecida como quadra chuvosa no estado. Segundo ele, os dois períodos sofrem com interferência de fenômenos climáticos distintos.
 
// Açude Boqueirão, localizado em Parelhas, encontra-se com 7,36% da sua capacidade total
 
As chuvas observadas desde o início do verão, e com maior intensidade a partir do último final de semana do ano, estão associadas ao Fenômeno El Niño e à atuação dos Vórtices Ciclônicos de Ar Superior (VCANS), que são ocasionados pelo aquecimento incomum das águas do Oceano Atlântico Sul, o que libera mais umidade na atmosfera e instabiliza o clima, provocando precipitações de superiores a 70mm de volume.
 
Apesar de fortes, as chuvas motivadas por esse evento atípico são isoladas e não costumam durar muito tempo. A previsão é de que essas ocorrências se encerrem nas próximas semanas. “Já as chuvas que acontecem a partir de fevereiro são causadas pela zona de convergência intertropical e quanto a isso não deveremos ter grandes mudanças. A previsão é de um período abaixo da média, como nos outros anos”, explica o climatologista Wellington Pinheiro.
 
Somente entre às 7h da manhã do último domingo (28) e às 7h de segunda-feira (29), 59 municípios potiguares relataram ocorrência de chuvas, sendo que os maiores volumes ficaram concentrados na mesorregião Central Potiguar, sobretudo no município de Equador, que registrou o maior índice pluviométrico do estado com 75,2 milímetros.
 
As outras cidades que também registraram grande volume de chuva no início da semana foram Jaçanã (com 48,6mm), São Gonçalo do Amarante (42,5mm), Nova Cruz (35mm) e Baía Formosa (33,5mm). Em Natal, as precipitações da madrugada de segunda-feira atingiram 22,1mm.
 
Wellington Pinheiro ainda esclarece que a possibilidade de boas chuvas no interior potiguar, no período de inverno, não está totalmente descartada, porém as chances de que isso ocorra são poucas. 
 
“Pode acontecer? Sim, pode. Mas a tendência é que não haja grandes mudanças do quadro de estiagem que temos percebido recentemente. Essas chuvas do final de dezembro e início de janeiro não podem servir de prelúdio para um bom inverno”, declara.
 
RESERVATÓRIOS
 
Mesmo com as recentes chuvas no interior do estado, ainda existem 13 reservatórios totalmente secos no Rio Grande do Norte, de acordo com a última medição volumétrica realizada pela Secretaria do Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH). O órgão faz o monitoramento da situação de 49 açudes, barragens e lagoas espalhados por todo o RN e com capacidade superior a 5.000.000m³.
 
Dos 13, nove estão situados na Bacia Apodi/ Mossoró (Lucrécia, Bonito II, Malhada Vermelha, Pilões, Santana, Brejo, Jesus Maria José, Santo Antonio de Caraúbas e Apanha Peixe). Os outros quatro são os reservatórios de Zangarelhas, Dourado e Alecrim (na bacia do rio Piranhas/Assu), além de Santa Cruz do Trairi, em Santa Cruz.
 
Por outro lado, somente o reservatório Prata, localizado no município de Goianinha, apresenta 100% da capacidade preenchida (9.321.194,00m³), no entanto a última medição no local foi feita há mais de quatro anos e meio. Com mais de 50%, surgem a Lagoa do Boqueirão, em Touros (84,07%), a Lagoa de Extremoz (77,32%), Lagoa do Bonfim, em Nísia Floresta (56,68%), e o reservatório do Pataxó, em Ipanguaçu (com 51,85% do volume total).
 
Reabastecimento é normalizado após três anos em Carnaúba 
 
O último boletim pluviométrico da Emparn não registrou chuvas no município de Carnaúba dos Dantas, distante aproximadamente 260 km da capital potiguar. Apesar disso, a cidade, que era a que há mais tempo se encontrava em situação de colapso no abastecimento de água no Rio Grande do Norte, conseguiu reverter esse quadro nas últimas semanas.
 
Foram exatos dois anos, onze meses e nove dias que a cidade precisou conviver com a falta de água nas torneiras e nos reservatórios públicos. No entanto, com a conclusão de uma adutora que passou a atender o município de Carnaúbas dos Dantas, em dezembro, a intensa crise hídrica, que perdurava desde 2012, pôde enfim ser amenizada.
 
A obra foi inaugurada pelo Governador Robinson Faria e beneficia até 9 mil pessoas que moram na cidade e em comunidades vizinhas, como Juazeiro e Santo Antônio do Cobra, pertencentes ao município de Parelhas. 
 
Na ocasião, o chefe do Executivo destacou a importância do sistema adutor para diversas famílias, que tinham despesas extras com a compra de galões de água mineral ou de carros-pipa, mas também enfatizou a necessidade de se continuar com o racionamento controlado.
 
“Vi crianças e idosos carregando baldes de água, e  assumi comigo mesmo o compromisso de fazer o possível pra solucionar esta situação”, disse Robinson no momento da inauguração da adutora.
 
A construção possuí 25 km de extensão e será abastecida pelo açude Boqueirão, localizado em Parelhas, e que pela última medição realizada pela SEMARH, no dia 23 deste mês, encontrava-se com 7,36% da sua capacidade total – um dos poucos que ainda não atingiu o colapso total nessa região.
 
Os três anos de seca enfrentados por Carnaúbas dos Dantas, porém, poderiam ter sido evitados caso a obra, que foi iniciada em 2010 e com previsão para estar funcionando após apenas dois anos, tivesse sido entregue no tempo certo. A construção da adutora estava interrompida desde janeiro de 2013, pouco tempo após a cidade entrar em colapso de abastecimento, e somente foi retomada em julho.
 
NÚMEROS
 
Maiores volumes de chuva registrados no RN, 
no início desta semana*:
 
Equador: 75,2mm
Jaçanã: 48,6mm
São Gonçalo do Amarante: 42,5mm
Nova Cruz: 35mm
Baía Formosa: 33,5mm
Senador Georgino Avelino: 27,9mm
Nísia Floresta: 27,2mm
Canguaretama: 26mm
Natal: 22,1mm
Montanhas: 17,8mm
 
 
Dados do Boletim Pluviométrico da Emparn

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