terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Aedes Aegypti é o novo hóspede do Hotel Reis Magos

HÓSPEDE
“Este prédio não tem serventia nenhuma”, esbravejou Luiz Roberto Fonseca, Secretário Municipal de Saúde (SMS), ao visitar ontem pela manhã o prédio do antigo Hotel Reis Magos, na Praia do Meio, zona Leste de Natal. Fechado desde 1995, o imóvel é um potencial foco de criação do mosquito Aedes aegypti – transmissor dos vírus causadores da dengue, do Zika e da febre Chikungnya. Envolvido num arrastado embate judicial, com a disputa entre a demolição e a preservação histórica do edifício, o local hoje é considerado um dos principais pontos críticos de proliferação do inseto.
 
A vistoria realizada pela Secretaria Municipal de Saúde ocorreu após denúncias de moradores. Um grande criadouro foi descoberto na casa de máquinas do antigo hotel. A estrutura – uma caixa de concreto de pouco mais de três metros quadrados – era utilizada pelo maquinário responsável pela movimentação de elevadores e das bombas de sucção do hotel. Atualmente, o local virou um mero – e perigoso – reservatório de água parada. “Um ponto ideal para proliferação do mosquito”, completa o secretário municipal.

 Luiz Roberto Fonseca, Secretário de Saúde
 
Equipes de Controle de Zoonoses e da Vigilância Sanitária eliminaram o foco. “O serviço foi realizado na semana passada. Acabamos com o criadouro. A água retirada, aplicamos larvicidas, as larvas destruídas e instalamos ovitrampas (armadilhas) para impedir o retorno dos insetos. Retornamos hoje (ontem) para verificar se os focos haviam retornado”, justificou Dianaldo Rodrigues, gerente da regional leste da SMS. 
 
A piscina do hotel também foi vistoriada. O local apresenta uma lâmina d’água, aparentando suja e de tom esverdeado, de pouco mais de 50 centímetros, e está repleta de peixes da espécie tilápia. Os animais se alimentam das larvas do mosquito e da ração provida por um funcionário do hotel, que toma conta do imóvel há 16 anos.
 
“A água está assim por causa do lodo. Mas aqui não é foco criador. As tilápias impedem qualquer criação de mosquito. Até porque eu nunca fiquei doente. Nunca tive dengue na vida. Eu seria o primeiro a me preocupar se aqui fosse muito perigoso para a saúde”, lembra o caseiro João Carlos Almeida. Ele transformou a estrutura que um dia era o bar e restaurante do Reis Magos na própria residência. Divide o imóvel com a filha, mulher, sogro e um cunhado. “Ficaremos aqui até definirem o que será feito do imóvel”, relata.
 
// Moradores denunciaram criadouro do mosquito

 
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a zona Leste de Natal registra 23 pontos críticos de proliferação do Aedes aegypti. Estes locais são vitoriados semanalmente para evitar o surgimento de novas gerações do inseto. De acordo com a inspeção dos agentes de endemias e da vigilância sanitária, o antigo hotel tem diversos alvos com potencial de suscitar a criação de vetores dos vírus da Dengue, Zika e Chikungnya. Muito em razão do acumulo de lixo nas laterais do prédio. Não é difícil encontrar copos e garrafas plásticas, bem como entulho e restos de construção espalhados, algo que pode ocasionar o surgimento de novas levas do mosquito.
 
Responsabilidade
 
O hotel Reis magos será notificado pela Secretaria Municipal de Saúde nos próximos dias. Um Termo de Inspeção Sanitária será encaminhado à sede da empresa Hotéis Pernambuco AS, em Recife-PE, que é a proprietária do antigo hotel desde 1995. “Após a expedição do termo, a empresa terá 30 dias para realizar medidas que impeçam o surgimento de foco do mosquito. Passado este tempo, nós podemos emitir sanções, como multas”, relata o secretário Luiz Roberto Fonseca. 
 
Construído em 1965, o estabelecimento tinha 63 apartamentos, uma suíte presidencial, dois salões nobres, um parque aquático, sauna, playground e restaurante. Hoje, o local não lembra em nada os tempos áureos de funcionamento. A andares de apartamento estão em plena ruína. As lajes de sustentação demonstram grave desgaste. “Elas [lajes] estão muito deterioradas. Os cobogós [as peças de concreto vazado instaladas nas paredes] estão quebrando”, conta o caseiro João Carlos Almeida. Em alguns andares, inclusive, estes elementos sumiram completamente.
 
Com temor de algum acidente, os agentes de endemia decidiram não verificar as áreas internas do edifício. “Eu morro de medo que isso desabe. Nunca mais subi para área dos quartos. Eu aconselho que façam o mesmo”, advertiu o caseiro aos servidores da SMS e repórteres que estavam no local.
 
Lixo nas laterais do hotel
 
Segundo o secretário municipal, na próxima visita dos agentes de saúde, uma equipe da Defesa Civil Municipal também será convidada para analisar a estrutura física do edifício. Ele se mostrou favorável à demolição do imóvel. “Não temos de gastar recursos num prédio que o próprio dono quer demoli-lo. Poderia estar fomentando o turismo e emprego, mas é foco de mosquitos e abrigo para pombos”, reclama.
 
O último andar do hotel acabou transformado num grande pombal. “Não podemos fazer nada. São animais protegidos por lei”, relata Alessandre Alessandre Medeiros, Chefe do Centro de Controle de Zoonoses de Natal. Os pombos são protegidos pela lei federal 9.605 – a regulamentação de crimes ambientais. 
 
Campanha pela demolição
 
Sobre o Hotel Reis Magos pairam mais dúvidas que certezas. A Justiça Federal da 5ª Região, localizada na cidade do Recife, rejeitou, no último dia 28 de janeiro, o recurso postulado pelo Ministério Público Federal no Rio Grande do Norte (MPF/RN), que questionava o valor histórico e arquitetônico do imóvel e pedia para que o alvará de demolição da estrutura fosse expedido o mais breve possível. Com a decisão, o prédio não pode receber qualquer alteração em sua estrutura física. 
 
Isso porque a medida judicial impede qualquer atividade até que seja feito o processo de tombamento levado adiante pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O laudo – que ainda não foi iniciado – pode durar até um ano para ser finalizado. Além disso, o imóvel está tombado de forma provisória em esfera estadual pela Fundação José Augusto.
 
O NOVO jornal tentou contato com a direção da empresa Hotéis Pernambuco AS, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
 

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