“Este prédio não tem serventia nenhuma”, esbravejou Luiz Roberto
Fonseca, Secretário Municipal de Saúde (SMS), ao visitar ontem pela
manhã o prédio do antigo Hotel Reis Magos, na Praia do Meio, zona Leste
de Natal. Fechado desde 1995, o imóvel é um potencial foco de criação do
mosquito Aedes aegypti – transmissor dos vírus causadores da dengue, do
Zika e da febre Chikungnya. Envolvido num arrastado embate judicial,
com a disputa entre a demolição e a preservação histórica do edifício, o
local hoje é considerado um dos principais pontos críticos de
proliferação do inseto.
A vistoria realizada pela
Secretaria Municipal de Saúde ocorreu após denúncias de moradores. Um
grande criadouro foi descoberto na casa de máquinas do antigo hotel. A
estrutura – uma caixa de concreto de pouco mais de três metros quadrados
– era utilizada pelo maquinário responsável pela movimentação de
elevadores e das bombas de sucção do hotel. Atualmente, o local virou um
mero – e perigoso – reservatório de água parada. “Um ponto ideal para
proliferação do mosquito”, completa o secretário municipal.
Equipes de Controle de Zoonoses e da
Vigilância Sanitária eliminaram o foco. “O serviço foi realizado na
semana passada. Acabamos com o criadouro. A água retirada, aplicamos
larvicidas, as larvas destruídas e instalamos ovitrampas (armadilhas)
para impedir o retorno dos insetos. Retornamos hoje (ontem) para
verificar se os focos haviam retornado”, justificou Dianaldo Rodrigues,
gerente da regional leste da SMS.
A piscina do
hotel também foi vistoriada. O local apresenta uma lâmina d’água,
aparentando suja e de tom esverdeado, de pouco mais de 50 centímetros, e
está repleta de peixes da espécie tilápia. Os animais se alimentam das
larvas do mosquito e da ração provida por um funcionário do hotel, que
toma conta do imóvel há 16 anos.
“A água está
assim por causa do lodo. Mas aqui não é foco criador. As tilápias
impedem qualquer criação de mosquito. Até porque eu nunca fiquei doente.
Nunca tive dengue na vida. Eu seria o primeiro a me preocupar se aqui
fosse muito perigoso para a saúde”, lembra o caseiro João Carlos
Almeida. Ele transformou a estrutura que um dia era o bar e restaurante
do Reis Magos na própria residência. Divide o imóvel com a filha,
mulher, sogro e um cunhado. “Ficaremos aqui até definirem o que será
feito do imóvel”, relata.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a
zona Leste de Natal registra 23 pontos críticos de proliferação do Aedes
aegypti. Estes locais são vitoriados semanalmente para evitar o
surgimento de novas gerações do inseto. De acordo com a inspeção dos
agentes de endemias e da vigilância sanitária, o antigo hotel tem
diversos alvos com potencial de suscitar a criação de vetores dos vírus
da Dengue, Zika e Chikungnya. Muito em razão do acumulo de lixo nas
laterais do prédio. Não é difícil encontrar copos e garrafas plásticas,
bem como entulho e restos de construção espalhados, algo que pode
ocasionar o surgimento de novas levas do mosquito.
Responsabilidade
O
hotel Reis magos será notificado pela Secretaria Municipal de Saúde nos
próximos dias. Um Termo de Inspeção Sanitária será encaminhado à sede
da empresa Hotéis Pernambuco AS, em Recife-PE, que é a proprietária do
antigo hotel desde 1995. “Após a expedição do termo, a empresa terá 30
dias para realizar medidas que impeçam o surgimento de foco do mosquito.
Passado este tempo, nós podemos emitir sanções, como multas”, relata o
secretário Luiz Roberto Fonseca.
Construído em
1965, o estabelecimento tinha 63 apartamentos, uma suíte presidencial,
dois salões nobres, um parque aquático, sauna, playground e restaurante.
Hoje, o local não lembra em nada os tempos áureos de funcionamento. A
andares de apartamento estão em plena ruína. As lajes de sustentação
demonstram grave desgaste. “Elas [lajes] estão muito deterioradas. Os
cobogós [as peças de concreto vazado instaladas nas paredes] estão
quebrando”, conta o caseiro João Carlos Almeida. Em alguns andares,
inclusive, estes elementos sumiram completamente.
Com
temor de algum acidente, os agentes de endemia decidiram não verificar
as áreas internas do edifício. “Eu morro de medo que isso desabe. Nunca
mais subi para área dos quartos. Eu aconselho que façam o mesmo”,
advertiu o caseiro aos servidores da SMS e repórteres que estavam no
local.
Segundo o secretário municipal, na próxima
visita dos agentes de saúde, uma equipe da Defesa Civil Municipal também
será convidada para analisar a estrutura física do edifício. Ele se
mostrou favorável à demolição do imóvel. “Não temos de gastar recursos
num prédio que o próprio dono quer demoli-lo. Poderia estar fomentando o
turismo e emprego, mas é foco de mosquitos e abrigo para pombos”,
reclama.
O último andar do hotel acabou
transformado num grande pombal. “Não podemos fazer nada. São animais
protegidos por lei”, relata Alessandre Alessandre Medeiros, Chefe do
Centro de Controle de Zoonoses de Natal. Os pombos são protegidos pela
lei federal 9.605 – a regulamentação de crimes ambientais.
Campanha pela demolição
Sobre
o Hotel Reis Magos pairam mais dúvidas que certezas. A Justiça Federal
da 5ª Região, localizada na cidade do Recife, rejeitou, no último dia 28
de janeiro, o recurso postulado pelo Ministério Público Federal no Rio
Grande do Norte (MPF/RN), que questionava o valor histórico e
arquitetônico do imóvel e pedia para que o alvará de demolição da
estrutura fosse expedido o mais breve possível. Com a decisão, o prédio
não pode receber qualquer alteração em sua estrutura física.
Isso
porque a medida judicial impede qualquer atividade até que seja feito o
processo de tombamento levado adiante pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O laudo – que ainda não foi
iniciado – pode durar até um ano para ser finalizado. Além disso, o
imóvel está tombado de forma provisória em esfera estadual pela Fundação
José Augusto.
O NOVO jornal tentou contato com a
direção da empresa Hotéis Pernambuco AS, mas não obteve resposta até o
fechamento desta edição.
por: Jalmir Oliveira/NOVO
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