segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Coronel Dancleiton, pressão alta no comando da Polícia Militar

COMANDO
 
Uma semana após as mudanças promovidas pelo governador Robinson Faria, que mexeram em quase toda a estrutura da cúpula de segurança, a sala do Comando-Geral, no Quartel da Polícia Militar do Rio Grande do Norte (PMRN), continua bastante movimentada. São demandas e mais demandas que chegam, a espera de um parecer do novo chefe da instituição, coronel Dancleiton Pereira Leite.
 
Além dos policiais militares que entram e saem do gabinete a todo momento, cobrando melhores condições de trabalho, mais viaturas nas ruas e mais homens em serviço, equipes de reportagem também ocupam o tempo do atual comandante-geral. 
 
Durante toda a sua primeira semana no cargo, ele precisou responder perguntas como: “o que vai mudar na segurança pública a partir de agora?” e “que medidas pretende tomar para combater a crescente na violência?”.
 
A população, assustada por casos recentes de latrocínio (assalto seguido de morte) em que as vítimas sequer apresentaram resistência aos criminosos, exige uma solução imediata para o problema, com ações enérgicas dos representantes do Estado.
 
Por outro lado, policiais – os quais Dancleiton chama constantemente de “heróis” – reclamam de acordos não cumpridos pelo governador, como promoções e diárias operacionais, que estariam desmotivando muitos a continuarem na carreira militar.
 
Com esse cenário à frente, o coronel da PMRN conta que sua pressão arterial subiu bastante nos primeiros dias após o anúncio de que assumiria o comando-geral. “Ela foi lá pra cima. Chegou a ficar 23 por 17. Eu sentia que não podia passar um final de semana inteiro sem fazer alguma coisa”, lembra. 
 
A nomeação do novo comandante saiu no Diário Oficial do Estado (DOE) de 23 de janeiro, um sábado. No mesmo dia, Dancleiton e seu subcomandante, coronel Sairo Rogério da Rocha, visitaram as unidades prisionais de onde quase 90 detentos escaparam somente neste mês.
 
Na última segunda-feira (25), ele assinou a promoção de 1.039 praças (cabos, sargentos e soldados), evitando uma greve que vinha sendo cogitada pelos policiais. “Se isso acontecer, vai mostrar para a população que a PM está enfraquecida e será a oportunidade para os bandidos agirem”, clamou aos mais de mil homens que estavam na assembleia, realizada no início da semana passada, no Clube Tiradentes.
 
Com a desenvoltura de um pastor evangélico (função que, aliás, ele exerce há 15 anos na Igreja Evangélica Comunidade do Corpo de Cristo), o novo comandante-geral conseguiu reverter a situação e conquistar o apoio de grande parte dos militares. Os praças saíram da reunião satisfeitos, mesmo com uma lista de outras demandas, que ainda devem passar pelo coronel Dancleiton Leite em breve.
 
O atual comandante-geral diz querer estar mais próximo da categoria e, para exemplificar isso, ele cita um trecho da canção Comando Alpha, que aprendeu aos 19 anos de idade, quando serviu na Academia de Polícia Militar do Guatupê, no Paraná. 
 
“Essa canção diz que ‘toda tropa tem que ter na cabeça, o seu melhor soldado’”, recita. Quando questionado se ele se sente esse “melhor soldado”, o novo chefe da PMRN explica que a letra não trata, necessariamente, de perícia tática, mas da incumbência de assumir para si qualquer responsabilidade em nome da instituição.
 
O coronel também credita o seu preparo para assumir a função de comandante-geral ao seu tempo de experiência em vários setores da Polícia Militar. Ingresso na organização em 1987, logo após deixar o Exército brasileiro como oficial da reserva da Arma de Infantaria, Dancleiton já soma 29 anos dedicados exclusivamente à PMRN.
 
Nesse período, ele já participou do Corpo de Bombeiros Militar do Estado, além de ser instrutor na Academia de Polícia do Rio Grande do Norte e assumir papel de comando no Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque) e subcomando da Polícia Rodoviária Estadual (CPRE) e ser Diretor de Pessoal da instituição. “Foram períodos pequenos, mas de grande valia para experiência”, destaca.
 
Postura profissional
 
Apesar do currículo extenso, Dancleiton ainda lamenta não ter tido a oportunidade de atuar em algum município do interior potiguar, o que considera necessário para qualquer oficial. “Hoje eu vejo que deveria ter passado por mais lugares. Por exemplo, eu nunca trabalhei diretamente no interior do estado. Conheço muitas unidades, já estive lá, mas nunca comandei nem servi em nenhuma companhia. Acho que isso faltou na minha carreira”, destaca o coronel que nasceu em Natal.
 
Contudo, o tenente-coronel Castelo Branco, que trabalha no setor administrativo ao lado do novo comandante-geral, acredita que isso não fará grande diferença para a gestão de Dancleiton à frente da instituição. 
 
“Ele sempre teve essa postura de tratar o pessoal com respeito. Tive a oportunidade de trabalhar com ele no CPRE e o coronel também demonstrou muito
 
profissionalismo, realizávamos muitas operações”, relata. “Ele é um oficial que veste a farda e está junto com a tropa, não apenas cobra. Então eu acho que do soldado ao oficial mais antigo da PM estão todos muito motivados”, diz.
 
Com o fim da primeira semana de trabalho, o coronel Dancleiton Leite avalia ter começado bem o seu comando e informa que a pressão já voltou ao normal. “As coisas estão acontecendo, as promoções estão vindo e a polícia está nas ruas. Claro, são ainda muitas demandas, mas o importante é manter o pessoal acreditando”, concluí.
 
“Minha missão principal é pastorear”, afirma
 
Em alguns lugares, Dancleiton Pereira Leite não é conhecido pelo seu posto de comando na PMRN. Na igreja que frequenta há aproximadamente dois anos, no bairro de Golandim, em São Gonçalo do Amarante, ele é reconhecido como Pastor Dancleiton.
 
Há 15 anos, ele divide as obrigações na instituição militar com a função na Igreja Evangélica Comunidade do Corpo de Cristo e diz que um nunca chegou a interferir no outro antes, até este momento.
 
Ele relata não ter podido acompanhar os cultos da semana passada com a mesma frequência de antes, por causa das obrigações que o novo posto lhe impõe. O próprio coronel conta que esta é a sua “missão principal” e que pode, inclusive, encurtar a sua passagem pelo Comando-Geral, para poder dedicar-se com mais afinco ao trabalho de pregação.
 
“Eu até falo que não quero passar muito tempo aqui também por causa disso. Eu quero cumprir o meu papel, minha missão, e depois vou voltar para a minha missão principal, aquela que vou ter até morrer, que é pastorear”, declara, dizendo também que considera o atual cargo apenas “transitório e passageiro”.
 
Comandante por causa do pai
 
Único de uma família de cinco filhos que decidiu seguir a profissão do pai, Dancleiton conta que teve a infância marcada por histórias da instituição. Aos 18 anos, quando serviu o Exército brasileiro, ele já sabia que isso era o que queria fazer. “Foi uma experiência importantíssima, porque foi ali que me identifiquei com a carreira militar”, lembra.
 
No ano seguinte ao alistamento obrigatório, em 1987, ingressou na Polícia Militar, fazendo o curso de preparação de oficiais na cidade de Curitiba e retornando para o Rio Grande do Norte somente em 1990, já como aspirante.
 
Foi exatamente nessa época que seu pai, o então coronel Luís Pereira, assumiu o comando-geral da PMRN, durante a gestão do governador José Agripino Maia. “Ele primeiro foi subcomandante e depois disso foi nomeado para o comando, ficando de 1990 a 1993 no posto”, explica Dancleiton.
 
“Era até engraçado porque quando ele vinha falar comigo, naquela época, me chamava pelo apelido. O meu nome é Dancleiton e ele sempre me chamou de Keith. Por isso, o pessoal tirava muita onda comigo”, relembra o atual comandante, aos risos.
 
Segundo conta, o pai teve grande influência na sua decisão de aceitar o convite para ser comandante-geral da PM do Estado. Entre todos os prós e contras que diz ter considerado antes de responder ao governador Robinson Faria, um detalhe falou mais alto.
 
“Meu pai influenciou muito. Foi o principal motivo pelo qual aceitei. Queria dar a ele esse orgulho de ver o filho seguindo os seus passos”, conta o coronel. Ele acrescenta que Seu Luís ficou bastante emocionado ao receber a visita e, mesmo com 79 anos de idade – “perto de fazer 80” – e residindo atualmente no interior, vai presenciar a passagem de comando que acontece nesta segunda-feira.
 

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