Uma semana após as mudanças promovidas pelo governador Robinson
Faria, que mexeram em quase toda a estrutura da cúpula de segurança, a
sala do Comando-Geral, no Quartel da Polícia Militar do Rio Grande do
Norte (PMRN), continua bastante movimentada. São demandas e mais
demandas que chegam, a espera de um parecer do novo chefe da
instituição, coronel Dancleiton Pereira Leite.
Além
dos policiais militares que entram e saem do gabinete a todo momento,
cobrando melhores condições de trabalho, mais viaturas nas ruas e mais
homens em serviço, equipes de reportagem também ocupam o tempo do atual
comandante-geral.
Durante toda a sua primeira
semana no cargo, ele precisou responder perguntas como: “o que vai mudar
na segurança pública a partir de agora?” e “que medidas pretende tomar
para combater a crescente na violência?”.
A
população, assustada por casos recentes de latrocínio (assalto seguido
de morte) em que as vítimas sequer apresentaram resistência aos
criminosos, exige uma solução imediata para o problema, com ações
enérgicas dos representantes do Estado.
Por outro
lado, policiais – os quais Dancleiton chama constantemente de “heróis” –
reclamam de acordos não cumpridos pelo governador, como promoções e
diárias operacionais, que estariam desmotivando muitos a continuarem na
carreira militar.
Com esse cenário à frente, o
coronel da PMRN conta que sua pressão arterial subiu bastante nos
primeiros dias após o anúncio de que assumiria o comando-geral. “Ela foi
lá pra cima. Chegou a ficar 23 por 17. Eu sentia que não podia passar
um final de semana inteiro sem fazer alguma coisa”, lembra.
A
nomeação do novo comandante saiu no Diário Oficial do Estado (DOE) de
23 de janeiro, um sábado. No mesmo dia, Dancleiton e seu subcomandante,
coronel Sairo Rogério da Rocha, visitaram as unidades prisionais de onde
quase 90 detentos escaparam somente neste mês.
Na
última segunda-feira (25), ele assinou a promoção de 1.039 praças
(cabos, sargentos e soldados), evitando uma greve que vinha sendo
cogitada pelos policiais. “Se isso acontecer, vai mostrar para a
população que a PM está enfraquecida e será a oportunidade para os
bandidos agirem”, clamou aos mais de mil homens que estavam na
assembleia, realizada no início da semana passada, no Clube Tiradentes.
Com
a desenvoltura de um pastor evangélico (função que, aliás, ele exerce
há 15 anos na Igreja Evangélica Comunidade do Corpo de Cristo), o novo
comandante-geral conseguiu reverter a situação e conquistar o apoio de
grande parte dos militares. Os praças saíram da reunião satisfeitos,
mesmo com uma lista de outras demandas, que ainda devem passar pelo
coronel Dancleiton Leite em breve.
O atual
comandante-geral diz querer estar mais próximo da categoria e, para
exemplificar isso, ele cita um trecho da canção Comando Alpha, que
aprendeu aos 19 anos de idade, quando serviu na Academia de Polícia
Militar do Guatupê, no Paraná.
“Essa canção diz
que ‘toda tropa tem que ter na cabeça, o seu melhor soldado’”, recita.
Quando questionado se ele se sente esse “melhor soldado”, o novo chefe
da PMRN explica que a letra não trata, necessariamente, de perícia
tática, mas da incumbência de assumir para si qualquer responsabilidade
em nome da instituição.
O coronel também credita o
seu preparo para assumir a função de comandante-geral ao seu tempo de
experiência em vários setores da Polícia Militar. Ingresso na
organização em 1987, logo após deixar o Exército brasileiro como oficial
da reserva da Arma de Infantaria, Dancleiton já soma 29 anos dedicados
exclusivamente à PMRN.
Nesse período, ele já
participou do Corpo de Bombeiros Militar do Estado, além de ser
instrutor na Academia de Polícia do Rio Grande do Norte e assumir papel
de comando no Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque) e subcomando da
Polícia Rodoviária Estadual (CPRE) e ser Diretor de Pessoal da
instituição. “Foram períodos pequenos, mas de grande valia para
experiência”, destaca.
Postura profissional
Apesar
do currículo extenso, Dancleiton ainda lamenta não ter tido a
oportunidade de atuar em algum município do interior potiguar, o que
considera necessário para qualquer oficial. “Hoje eu vejo que deveria
ter passado por mais lugares. Por exemplo, eu nunca trabalhei
diretamente no interior do estado. Conheço muitas unidades, já estive
lá, mas nunca comandei nem servi em nenhuma companhia. Acho que isso
faltou na minha carreira”, destaca o coronel que nasceu em Natal.
Contudo,
o tenente-coronel Castelo Branco, que trabalha no setor administrativo
ao lado do novo comandante-geral, acredita que isso não fará grande
diferença para a gestão de Dancleiton à frente da instituição.
“Ele
sempre teve essa postura de tratar o pessoal com respeito. Tive a
oportunidade de trabalhar com ele no CPRE e o coronel também demonstrou
muito
profissionalismo, realizávamos muitas operações”, relata. “Ele é
um oficial que veste a farda e está junto com a tropa, não apenas cobra.
Então eu acho que do soldado ao oficial mais antigo da PM estão todos
muito motivados”, diz.
Com o fim da primeira
semana de trabalho, o coronel Dancleiton Leite avalia ter começado bem o
seu comando e informa que a pressão já voltou ao normal. “As coisas
estão acontecendo, as promoções estão vindo e a polícia está nas ruas.
Claro, são ainda muitas demandas, mas o importante é manter o pessoal
acreditando”, concluí.
“Minha missão principal é pastorear”, afirma
Em
alguns lugares, Dancleiton Pereira Leite não é conhecido pelo seu posto
de comando na PMRN. Na igreja que frequenta há aproximadamente dois
anos, no bairro de Golandim, em São Gonçalo do Amarante, ele é
reconhecido como Pastor Dancleiton.
Há 15 anos,
ele divide as obrigações na instituição militar com a função na Igreja
Evangélica Comunidade do Corpo de Cristo e diz que um nunca chegou a
interferir no outro antes, até este momento.
Ele
relata não ter podido acompanhar os cultos da semana passada com a mesma
frequência de antes, por causa das obrigações que o novo posto lhe
impõe. O próprio coronel conta que esta é a sua “missão principal” e que
pode, inclusive, encurtar a sua passagem pelo Comando-Geral, para poder
dedicar-se com mais afinco ao trabalho de pregação.
“Eu até
falo que não quero passar muito tempo aqui também por causa disso. Eu
quero cumprir o meu papel, minha missão, e depois vou voltar para a
minha missão principal, aquela que vou ter até morrer, que é pastorear”,
declara, dizendo também que considera o atual cargo apenas “transitório
e passageiro”.
Comandante por causa do pai
Único
de uma família de cinco filhos que decidiu seguir a profissão do pai,
Dancleiton conta que teve a infância marcada por histórias da
instituição. Aos 18 anos, quando serviu o Exército brasileiro, ele já
sabia que isso era o que queria fazer. “Foi uma experiência
importantíssima, porque foi ali que me identifiquei com a carreira
militar”, lembra.
No ano seguinte ao alistamento
obrigatório, em 1987, ingressou na Polícia Militar, fazendo o curso de
preparação de oficiais na cidade de Curitiba e retornando para o Rio
Grande do Norte somente em 1990, já como aspirante.
Foi
exatamente nessa época que seu pai, o então coronel Luís Pereira,
assumiu o comando-geral da PMRN, durante a gestão do governador José
Agripino Maia. “Ele primeiro foi subcomandante e depois disso foi
nomeado para o comando, ficando de 1990 a 1993 no posto”, explica
Dancleiton.
“Era até engraçado porque quando ele
vinha falar comigo, naquela época, me chamava pelo apelido. O meu nome é
Dancleiton e ele sempre me chamou de Keith. Por isso, o pessoal tirava
muita onda comigo”, relembra o atual comandante, aos risos.
Segundo
conta, o pai teve grande influência na sua decisão de aceitar o convite
para ser comandante-geral da PM do Estado. Entre todos os prós e
contras que diz ter considerado antes de responder ao governador
Robinson Faria, um detalhe falou mais alto.
“Meu
pai influenciou muito. Foi o principal motivo pelo qual aceitei. Queria
dar a ele esse orgulho de ver o filho seguindo os seus passos”, conta o
coronel. Ele acrescenta que Seu Luís ficou bastante emocionado ao
receber a visita e, mesmo com 79 anos de idade – “perto de fazer 80” – e
residindo atualmente no interior, vai presenciar a passagem de comando
que acontece nesta segunda-feira.
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